Os encontRHos online promovidos pelo IIRH – Instituto de Informação em Recursos Humanos regressaram. No passado dia 22 de setembro, abordámos uma temática bem atual: “Como tornar o RH mais estratégico em momentos adversos?”. Alguns especialistas deram a sua opinião relativamente aos desafios impostos aos RH nesta realidade atual.
O painel de especialistas contou com a participação de André Alves, Talent Director da NOS Comunicações, Frederico Contreiras, Learning Manager da Fidelidade, Pedro Ramos, Human Resources Director da TAP Portugal, e com a participação de Catarina Conceição Silva, Diretora de RH da CAPGEMINI. A moderação esteve a cargo de Cristina Martins de Barros, Managing Director do Instituto de Informações em Recursos Humanos.
Como tornar o RH mais estratégico em momentos adversos?
Numa primeira instância, foi abordado o impacto da crise nas empresas e nos RH, bem como os desafios que surgiram nesta nova realidade e as soluções possíveis, de modo a minimizar as repercussões negativas nas organizações. Catarina Silva, Diretora de RH da CAPGEMINI, é da opinião de que a crise trouxe a necessidade de desenvolvimento tecnológico e também de desenvolvimento do automatismo. A Diretora de RH acredita que houve empresas que paralisaram e que isso teve impacto nos negócios. Também a sua empresa sentiu a necessidade de reeducar os seus clientes, embora chegasse a haver alguma resistência de alguns clientes em adaptar e rever alguns processos e políticas para fazer face ao desafio atual.
A especialista acredita que, com a pandemia, os RH começaram a ser vistos como uma “rede de apoio social”, com colaboradores a ter de gerir a vida pessoal em casa e clientes exigentes, e a gerir o stress e a saúde mental. Neste sentido, a mudança “trouxe desafios à gestão” e, por isso, devem ser introduzidas novas maneiras de gerir, bem como otimizar competências de liderança das chefias. A aposta está em “líderes com inteligência emocional”, diferentes dos que existiam numa era pré-pandemia.
Já Frederico Contreiras, Learning Manager da Fidelidade, afirma ser um desafio colocar 3600 pessoas em casa, mas acredita que a Fidelidade o fez em tempo record e com uma taxa de feedback de sucesso. Mas Frederico Contreiras acredita que o que é necessário é “cuidar da pessoa e ter atenção à pessoa”. Isto porque, de acordo com o especialista, torna-se importante entender qual o impacto de tudo isto para as pessoas, e torna-se cada vez mais essencial a comunicação próxima entre colaboradores e entre colaboradores e clientes.
Nas palavras do Learning Manager, “a vida não pode parar”. E para que tal não aconteça, diz ter havido um esforço em termos de iniciativas, como a criação de um canal onde foram colocados conteúdos com o objetivo de ajudar os colaboradores: com dicas sobre como construir um escritório em casa, como lidar com tecnologias desconhecidas, como gerir uma equipa à distância, dicas de produtividade, aulas de ginástica, entre outros, para que “as pessoas criem um espaço para cuidarem de si, e terem momentos de pausas e de equilíbrio”.
Mas como podem os RH assumir o protagonismo? Qual é o atual papel do diretor de recursos humanos nas organizações?
Pedro Ramos, Human Resources Director da TAP Portugal, acredita que antes da pandemia “os RH não andavam assim tão estratégicos”, e que certos temas que há tanto tempo existiam no mundo dos RH foram de certa forma apropriados por outras áreas. O especialista acrescenta ainda que os RH foram vítimas dessa estratégia e que perderam o protagonismo. No entanto, com a pandemia, os RH vieram em “emergência”, ajudar equipas e colaboradores. No entanto, esse “RH emergência” tornou-se “RH convergência”, nas palavras do especialista.
Assim, os RH voltaram a “ganhar novamente o protagonismo e reencontraram o seu desígnio”, com a pandemia a “devolver à gestão de pessoas o que é próprio da gestão de pessoas”.
Porque, de acordo com Pedro Ramos, é nos momentos difíceis que o propósito da empresa se eleva, e neste momento difícil voltou a haver comunicação verdadeira com as pessoas. Segundo o Human Resources Director da TAP Portugal, é “possível e desejável que os RH tenham esse papel transformador dentro das organizações. Nós RH somos rápidos, somos todo o terreno, e estamos a provar isso com a pandemia”, acrescenta.
André Alves, Talent Director da NOS Comunicações, acredita que esta foi uma oportunidade para acelerar uma série de assuntos pendentes. “A tendência é olharmos para o dia a dia, e para os problemas e respostas do dia a dia, mas a verdade é que é mais bem sucedido quem olhar mais além”, conclui. De acordo com o especialista, a pandemia veio acelerar os processos de flexibilidade do trabalho, digitalização e de uso da empresa como uma rede mais social. As empresas passaram a “pensar mais na resiliência e a reagir depressa”.
Com a crise, André Alves acredita que o tecido empresarial irá mudar, em grande escala, e que isto tem impacto nos RH: seja na aceleração de tendências, no aparecimento de novas tendências, ou na maior frequência de alguns acontecimentos. Nas palavras do especialista, tudo isto tem impacto nos RH, pois falamos de “necessidade de competências, necessidade de estruturações mais ágeis e flexíveis, preparação das lideranças e um planeamento da força de trabalho diferente”. No entanto, nenhum destes temas é novo nos RH.
Frederico Contreiras acrescenta que “deve haver sensibilidade para focar nas pessoas” e que há uma “responsabilidade para focalizar a transformação nas pessoas”. De acordo com Pedro Ramos, neste momento de pandemia, “precisamos das tecnologias para humanizar mais as pessoas, precisamos disto para estar mais próximos e mais humanos dentro das organizações”. O Human Resources Director da TAP Portugal está convicto de que “há um novo human power dentro das empresas e isso é um potencial enorme”.
Catarina Silva concorda com esta ideia e remata:
“Não me consigo imaginar numa empresa que não é estratégica, sem pessoas não conseguimos fazer nada. Os protagonistas são as pessoas”.
Na empresa da Diretora de RH, o sucesso é medido consoante o sucesso das pessoas. É procurado feedback junto dos colaboradores, de modo a entender o que os trabalhadores querem e o que pensam. Nas palavras de Catarina, “RH é a cola das necessidades das pessoas com as necessidades de negócio”. Nas empresas de todos os oradores, o regime de trabalho passou a ser um regime híbrido, entre o trabalho remoto e o trabalho presencial, com um regresso aos escritórios faseado e com uma lotação de pessoas em regime presencial.
Será que a pandemia trouxe algo de bom às empresas?
Para Frederico Contreiras, com a pandemia veio também “a prova de que conseguimos ultrapassar obstáculos” e um espírito de resiliência, mantendo o propósito sempre em mente. Já André Alves é da opinião de que “os RH conseguiram ganhar empowerement e relevo no seu papel”. Catarina Silva acredita que a melhor “vantagem” desta grande mudança é “o desafio aos modelos tradicionais”, bem como um aumento da autonomia. E deixa palavras de reforço: “Somos mais fortes do que alguma vez pensámos”.
Por fim, para Pedro Ramos, o lado positivo encontra-se nos “novos tipos de liderança, com digital leaders”, isto é, alguém que motiva e mobiliza mesmo à distância. É da opinião do especialista de que foram derrubados alguns muros, e que surgiu uma power skill que está agora na ordem do dia: a flexibilidade cognitiva. Acredita ainda que é essencial ter pessoas que pensam de maneira diferente, haver ideias para soluções para problemas que ainda não existem, e que é igualmente importante haver uma autoformação: “a pandemia matou o training dentro das organizações, e há um novo conceito de learning em vez de training”, conclui o especialista.
O próximo webinar a cargo do IIRH decorrerá no dia 28 de setembro, pelas 15 horas, com a temática “Gestão do talento no contexto atual: o que mudou para os RH?”. Inscreva-se aqui!