Anabela Silva, people advisory services leader da EY, falou com o InfoRH, à margem de um evento organizado pela consultora, sobre as tendências relacionadas com o futuro do trabalho.
O Futuro do Trabalho e do Talento foi o mote para o evento que a EY, em parceria com a Microsoft e a Stanton Chase Portugal, organizou no passado mês de junho. Falou-se de people agenda, nas mudanças que têm ocorrido no mundo do trabalho, do papel dos profissionais de recursos humanos e das competências que devem ter. O InfoRH perguntou a Anabela Silva, people advisory services leader da EY, quais consideram ser as tendências do futuro do trabalho. Eis a sua reposta:
Tendência 1: Diferentes gerações e expectativas
“Pela primeira vez na história, temos quatro gerações no mercado de trabalho. São gerações de trabalhadores que têm expectativas diferentes relativamente ao trabalho e à adoção de tecnologia, o que implica, desde logo, nas empresas, uma reflexão sobre se necessitam de fazer alguma coisa de forma diferente para acomodarem diferentes gerações no mercado de trabalho”.
Tendência 2: Diferentes tipologias de trabalho
“Estamos muito habituados a pensar nos trabalhadores a tempo inteiro, mas hoje o trabalho é muito mais flexível. Podemos ter o trabalho a tempo inteiro, trabalho remoto – e há empresas que utilizam a possibilidade de trabalhar a partir de casa. Na EY, temos equipas virtuais. Por exemplo, o meu superior hierárquico está em Itália e os meus outros colegas estão em Espanha e também em Itália. E temos o trabalho contingente. Fala-se muito, hoje, da gig economy, outra das grandes tendências. Em Portugal, o problema está relacionado com a legislação laboral, que também tem de evoluir no sentido de acomodar as práticas que se observam no mercado. A legislação não é imutável. Depois temos os robôs. A nossa força de trabalho não é só humana. Temos de interagir conjuntamente com robôs, que podem ser softwares, e que nos recursos humanos é uma das áreas onde há muito processos que são passíveis de ser automatizados. Portanto, a nossa força de trabalho não vai ser só humana, com trabalhadores a tempo inteiro. São todas estas diferentes tipologias de trabalho”.
Tendência 3: Novas tecnologias
“Todos os dias surgem novas tecnologias, que facilitam a colaboração dos colaboradores e a flexibilidade do trabalho realizado a partir de casa. Por isso, primeiro é necessário garantir que os trabalhadores que temos nas empresas adotam as novas tecnologias, porque, muitas vezes, as empresas fazem investimentos enormes na área tecnológica e depois não há adoção por parte dos trabalhadores”.
Tendência 4: Competências humanas
“Há um manancial de ofertas na área tecnológica, mas como o elemento humano ainda é, e vai ser o mais importante, as características humanas vão ser competências cada vez mais importantes no futuro. Se formos a comparar as competências tradicionais do passado com as competências do futuro, todas as que associamos a mais humanas são as que vão ser críticas, como a criatividade e a inteligência emocional. Temos de preparar os nossos trabalhadores para lidarem com a frustração. As pessoas não podem desistir à primeira e isso trabalha-se. Todas estas tendências que observamos no mercado de trabalho condicionam a forma como as empresas irão interagir com os seus próprios colaboradores, porque têm de-lhes proporcionar uma experiência. No passado, falávamos muito de customer experience e estávamos muito focados nos clientes, mas a verdade é que para servirmos bem os clientes também temos de ter trabalhadores que, de facto, estejam comprometidos e alinhados com a organização, para poderem fazer o delivery aos clientes”.
Tendência 5: Bring your own device
“Outra das tendências que se verifica é que os colaboradores querem ter na sua vida profissional a mesma facilidade e acesso à tecnologia que têm nas suas vidas pessoais. Mas, muitas vezes, o que se passa é que as empresas não a disponibilizam e os trabalhadores levam muitas vezes os seus próprios equipamentos – bring your own device, que acarreta questões de cybersecurity. À medida que começamos a alargar aquilo que são os dados que as empresas recolhem, não só dos seus clientes, como também dos colaboradores, vamos ter de introduzir cada vez mais proteções relativamente aos dados que já possuímos”.
Tendência 6: Escassez de talento
“Atualmente, estão a ser muito valorizadas as competências na área tecnológica. A questão é que ainda não estamos a conseguir, nomeadamente no mercado nacional, ter uma oferta no mercado de talento suficiente para toda a procura, porque estamos a ser bem-sucedidos na atração de empresas para Portugal, por virtude de uma série de razões. Por exemplo, na sequência do Brexit, tivemos, na EY, várias empresas que decidiram, ao analisar a sua estrutura, deslocalizar parte das suas funções e Portugal acabou por ser um destino onde as empresas montaram shared service centers e outras empresas de serviços para o grupo. Claro que, se estivermos a falar da área tecnológica, cria pressão sobre as universidades que não conseguem gerar candidatos com o perfil necessário e com a rapidez e competências que se exige. As empresas no mercado nacional vão ter de habituar-se a olhar para o exterior, ou seja olhar para o talento não numa perspetiva nacional, mas pensar que estamos a competir, na guerra do talento, a nível internacional”.