O objetivo da diretora de felicidade da Critical TechWorks, Madalena Marinho, é que “as pessoas se sintam felizes por lá trabalharem”.
É um cargo fruto desta época, “em que cada vez mais pessoas querem sentir que estão a contribuir para algo maior e que o seu emprego está alinhado com o seu propósito”, e Madalena Marinho desempenha-o na Critical TechWorks, a empresa que nasceu, em setembro do ano passado, da joint venture entre o BMW Group e a Critical Software. É diretora de felicidade e o seu objetivo é que “as pessoas se sintam felizes por trabalhar e pertencer à Critical TechWorks”, refere, em entrevista, ao InfoRH.
Em setembro do ano passado, que projeto e missão lhe foram apresentados pela Critical TechWorks?
A Critical TechWorks é uma empresa muito recente, ainda não celebrámos o primeiro aniversário, pelo que a missão para 2019 foi bastante desafiante: criar uma cultura empresarial focada na felicidade dos colaboradores e implementá-la de forma eficaz nos vários pontos de interação entre o colaborador e a organização. Assim, desde o início que, entre muitas outras coisas, tivemos de pensar em todas as fases de desenvolvimento do colaborador, os momentos de trabalho e de lazer, de organização de equipas, de alinhamento de cultura nos diferentes escritórios e definir como é que a Critical TechWorks se queria posicionar nestas frentes.
Que funções são da responsabilidade de uma diretora para a felicidade?
Uma diretora de felicidade tem a responsabilidade de criar mecanismos dentro da empresa que sejam facilitadores da felicidade, como a conexão, o reconhecimento, a inspiração, a transparência, a confiança, o desenvolvimento e crescimento individual e a autonomia. Estou encarregue de assegurar que o caminho e a experiência do colaborador se cruzam com cada um destes pontos, sempre com o objetivo de que as pessoas se sintam felizes por trabalhar e pertencer à Critical TechWorks. A diretora de felicidade cria também a consciência nos colaboradores de que a felicidade depende da vontade de cada um e que é uma decisão que tomam no dia-a-dia. Embora haja pessoas naturalmente mais positivas, não depende da sorte, mas sim dessa vontade e isso é uma arte que se desenvolve no dia-a-dia.
Que importância considera ter um cargo como o que desempenha nas organizações?
Este cargo reflete a época em que vivemos, em que cada vez mais pessoas querem sentir que estão a contribuir para algo maior e que o seu emprego está alinhado com o seu propósito. A função de diretora de felicidade reflete essa necessidade: o desejo que todos temos de querer ser felizes em todos os âmbitos da nossa vida. E reflete também, por parte da Critical TechWorks, essa vontade de ver os colaboradores felizes e alinhados com o seu propósito. Aumentar este sentimento é uma das melhores maneiras de aumentar o envolvimento, o desempenho e a produtividade. No fim de contas, é uma “win win situation” para todos. Este cargo está muito alinhado com a missão da Critical TechWorks de “changing the way the world moves” – mudar a forma como o mundo se move. Só podemos mudar o mundo se também tivermos a vontade de nos mudarmos a nós próprios e ajudarmos as pessoas a mudarem, se essa for também a sua vontade.
Trabalha em conjunto com o departamento de recursos humanos?
Os departamentos de recursos humanos, talento, happiness e marketing trabalham em conjunto, formando o purpose team, liderado pelo nosso chief of purpose (e CEO), Rui Cordeiro. Somos uma equipa e, como tal, cada um de nós contribui para diferentes projetos, apesar de, às vezes, trabalharmos no mesmo projeto sobre ângulos diferentes. Por exemplo, no nosso processo de onboarding trabalhamos lado a lado com os recursos humanos. Estamos também a implementar o nosso processo de apreciação e vamos criar workshops para facilitar esse tipo de conversas, o que também é um trabalho conjunto.
É chamada a intervir nos processos de atração, desenvolvimento e retenção dos colaboradores?
Como diretores de felicidade acabamos por contribuir direta ou indiretamente em todo o percurso de vida do trabalhador, não só pelos outputs do nosso trabalho, mas também por trabalharmos em equipa. Da nossa parte, enquanto diretores de felicidade, estamos bastante focados na retenção, que, por sua vez, conduz à atração de novos talentos. Ou seja, o facto de mantermos os atuais colaboradores felizes é uma forma de atrairmos mais talento. Isto porque acreditamos que as pessoas que trabalham connosco são os melhores embaixadores da organização, que, direta ou indiretamente, contribuem para a boa imagem externa da empresa.
A diretora de felicidade cria também a consciência nos colaboradores de que a felicidade depende da vontade de cada um e que é uma decisão que tomam no dia-a-dia
Que medidas e iniciativas têm desenvolvido?
Somos uma empresa nova e, portanto, estamos a implementar algumas iniciativas que, não sendo novas, estão a ser melhoradas. Temos algumas outras que são completamente inovadoras. Estamos continuamente a tentar criar mais momentos de conexão, de reconhecimento e de inspiração, enquanto formamos um ambiente de confiança e transparência, porque acreditamos que isso faz com que as pessoas se envolvam mais com a empresa.
Em termos de iniciativas inovadoras, estamos a implementar a gamificação dentro do nosso processo de onboarding, em que, através do jogo, pretendemos que as pessoas adquiram um conhecimento rápido sobre a empresa e a história, mas que também se possam conectar com os restantes colegas. Fazemo-lo de duas formas: virtualmente, através de uma app, e fisicamente, colocando as pessoas a interagirem umas com as outras. Depois das pessoas fazerem o processo de onboarding, fazemos um encontro mensal de networking, onde as pessoas conhecem e interagem com colegas das diferentes áreas da empresa. Estamos a criar um livro e workshops sobre a felicidade, para que as pessoas possam aprender e trabalhar sobre aspetos sobre os quais têm controlo e que impactam a sua própria felicidade – e isso inspira-me muito!
E como é que têm procurado inovar nas condições de trabalho que oferecem aos colaboradores?
A principal preocupação como diretora de felicidade é garantir que as pessoas se sintam integradas, bem-vindas, inspiradas pelos projetos em que trabalham e conectadas com os seus colegas. Além disso, consideramos extremamente relevante que se sintam alinhadas com a nossa missão e que tenham vontade de melhorar todos os dias, a nível pessoal, a nível de equipa e projetos. Tudo isto ao mesmo tempo que convivem num ambiente alegre e ágil. Procuramos diferenciar-nos pela nossa cultura interna, pela nossa forma de trabalhar que faz a diferença, mas também pelos projetos desafiantes e pela autonomia que damos aos colaboradores. Não criamos hierarquias, as equipas definem quais são os seus objetivos e são autónomas sem que haja propriamente um gestor hierárquico, até porque, na Critical TechWorks, esse papel de líder pode ir mudando. E o facto de estarmos responsáveis pela transformação da BMW também é muito motivante para os nossos colaboradores, que têm a oportunidade de trabalhar num ambiente internacional, viajando muito entre a Alemanha e os Estados Unidos.
Um outro critério importante é o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. As pessoas procuram cada vez mais empregadores que lhes deem oportunidades de carreira e de educação contínua, mas querem também ter tempo para desfrutar as suas vidas pessoais. O impacto social também tem tido uma importância crescente. As pessoas querem sentir que o seu trabalho é impactante e que vão trabalhar em algo que realmente faz a diferença, não só na sua vida, mas também na da sociedade.
Como dizia, a Critical TechWorks tem menos de um ano de existência e, em pouco tempo, conseguiu formar uma equipa com cerca de 500 colabores. Como é que o fizeram, considerando, por exemplo, a escassez de perfis nas áreas de engenharia e IT?
Sendo a Critical TechWorks uma joint venture entre o BMW Group e a Critical Software, no princípio, a equipa foi surgindo através da multinacional portuguesa. Depois, foi pelo aconselhamento e pelo buzz que houve à volta do lançamento da empresa que está a desenvolver o carro do futuro para um dos maiores players automóvel do mundo. Com esta junção, houve um grande awareness à volta do que estava a acontecer no mercado português, o que nos ajudou nesta demanda. Para aumentar esta visibilidade, fazemos questão de comunicar em diversas frentes e de trabalhar perto das universidades e com outras empresas, de forma a transmitirmos aos talentos o ambiente e a cultura que se vive na Critical TechWorks. Por outro lado, tal como já referi, as pessoas que trabalham connosco também têm um papel fundamental, porque têm sido os principais responsáveis pela entrada de novas pessoas. Fizemos um inquérito de satisfação junto dos colaboradores e que cerca de 90% responderam e cerca de 96% dos colaboradores recomendam trabalhar na CTW. O nosso objetivo é que este número cresça e se mantenha bem alto, porque acreditamos que são eles os nossos principais embaixadores.
O ambiente tecnológico que se vive em Portugal é um fator que vive só por si na atração de profissionais?
Sem dúvida. Portugal é um pólo de engenharia de excelência na Europa e cada vez mais empresas tecnológicas se estão a aperceber disso, instalando cá novos escritórios ou centros de inovação. É um momento bastante entusiasmante e desafiante para estas empresas, visto que nunca tivemos tanta inovação no país como agora, mas nunca tivemos tão pouco talento disponível. Isto, por sua vez, torna-se numa grande oportunidade para o talento internacional que começa a olhar para Portugal como um país onde poderão crescer profissionalmente, sempre com o benefício de estarem num local com condições climatéricas e qualidade de vida excecionais.
Quais têm sido os desafios da empresa, não só associados ao recrutamento de profissionais?
Penso que o maior desafio é o nosso rápido crescimento, visto que temos de assegurar que as dezenas de pessoas novas que entram por mês se sentem felizes, que estamos a criar o sentimento de pertença e que fazem parte da equipa da Critical TechWorks, ao mesmo tempo que não nos esquecemos dos colaboradores que já cá estão. Queremos assegurar que a nossa cultura é transmitida, mas que também seja criada e potenciada por todas as pessoas novas que entram. Conseguir que, em 2020, mil pessoas se sintam totalmente alinhadas, inspiradas para mudar a forma como nos movemos no mundo, desenvolvendo software de qualidade é um desafio que vamos conseguir superar com sucesso.
Também devem ter, seguramente, bastantes oportunidades. Quais é que destaca?
Somos uma empresa de engenharia, de desenvolvimento de software e, portanto, procuramos todos os cargos associados, desde rockstar developers e scrum knights a heads of interactions. E estamos sempre à procura de pessoas que se sintam inspiradas com a nossa missão de mudar o mundo de uma forma mais sustentável e que acreditem no nosso valor de que juntos somos mais fortes.
Como é que pretende continuar a contribuir para a felicidade da Critical TechWorks e dos seus colaboradores, considerando que, em 2021, pretendem chegar aos mil profissionais?
No final de 2020 chegaremos a mais de mil funcionários. O meu foco será sempre assegurar que mantemos a nossa cultura e os nossos valores, que as pessoas se sentem inspiradas por trabalhar connosco e manter sempre ativos os mecanismos da felicidade que são a nossa matriz e formam a palavra CRITICAL (Connection, Recognition, Inspiration, Trust and Transparency, Individually Challenged, Autonomy and Lightness). Em 2020, também nos mudamos para o nosso novo edifício nos Aliados, aqui no Porto. Como diretora de felicidade, o meu trabalho também passa por olhar para o espaço físico e perceber como é que ajuda a criar um ambiente de felicidade. Por exemplo, no plano original, havia uma copa em cada andar. Mas para criar conexão é preciso haver um coração na empresa, sendo esse o nosso refeitório, ponto de encontro entre os colaboradores e o espaço onde se criam as verdadeiras conexões entre as pessoas, imprescindíveis para o engagement. Por isso, pedi que o refeitório passasse a ser um só, no último andar.