A Michael Page, empresa de recrutamento, lançou recentemente o estudo anual sobre as principais tendências do mercado de trabalho para o próximo ano para quadros executivos em empresas de grande dimensão. No conjunto de setores, é percetível o aumento da digitalização dos negócios, a mobilidade, novos métodos de trabalho, novas funções e a corrida por talentos.
Entre as principais conclusões por setor, destacam-se:
Banking & Financial
A passar por uma fase muito favorável, os projetos digitais e processos de desenvolvimento tecnológico ganham relevância neste setor. Os perfis de controlo interno, marketing e sales, encontram-se entre os mais desejados. Destaque ainda para o crescimento de novas Fintech na área de meios de pagamento e a entrada de novas financeiras internacionais que estão a abrir operações em Lisboa e Porto. Globalmente, regista-se também neste setor um grande foco na transformação digital, assim como uma orientação cada vez maior ao cliente numa ótica de venda consultiva, com uma oferta de serviços tailor made. As funções de controlo interno, seja numa lógica de Corporate & Investment Banking como de Retail Banking, continuam a estar numa posição de destaque.
A digitalização e a inovação são também fatores importantes que obrigam as empresas a procurar profissionais que ofereçam uma combinação de conhecimentos técnicos na área e uma clara orientação para o mundo digital. Entre as tendências, destaca-se a aposta das empresas do setor no dynamic work, facilitando novos métodos de trabalho, planos de carreira mais adequados, mobilidade interna e outras ferramentas destinadas à retenção de talento. Como exemplo de tendência salarial, para a função de Corporate Finance a remuneração máxima por ir até 90 mil euros, e para um analista de risco até 46 mil euros, enquanto um responsável financeiro pode ter a remuneração máxima de 70 mil euros. A nível global, os perfis qualificados da área da banca registam um aumento de 10 a 15% no seu nível salarial.
Construção
Mantendo a tendência do último ano, o setor da construção continuou a crescer em 2022, com destaque para um aumento significativo de novas obras, principalmente relacionadas com o investimento privado, com a procura acima da oferta. Os projetos ligados à construção civil (edificação) assumem destaque, contudo é previsível que os próximos anos sejam férteis em concursos públicos com projetos de infraestruturas. Em 2022, acentuou-se a escassez de recursos e de mão-de-obra qualificada no mercado.
Os perfis mais procurados estão ligados à produção do lado dos empreiteiros: Diretores de Obra, Encarregados Gerais, Preparadores de Obra e Orçamentistas. Nos promotores procuram-se sobretudo Gestores de Projeto. Na perspetiva salarial, os valores de remuneração estagnaram em 2022 versus 2021 na maioria das funções. A remuneração para o próximo ano (2023) pode incluir desde o valor máximo de 110 mil euros para a função de diretor geral a 35 mil euros para um engenheiro fiscal ou de projeto.
Engineering & Manufacturing
O setor industrial passou por diferentes fases no decorrer de 2022, com um início muito positivo e posterior retração no último trimestre, comprometendo a retoma do crescimento. Os efeitos da guerra na Ucrânia em indústrias chave, como a automóvel e alimentar e o aumento da inflação, provocaram impacto ao nível das políticas salariais e de recursos humanos das empresas. Não obstante, o desemprego na indústria e serviços mantém-se em níveis muito baixos, o que faz prever um equilíbrio no mercado de trabalho e nas oportunidades de emprego para o início do próximo ano.
Entre os perfis mais procurados, destacam-se os Engenheiros de Processo, Engenheiros de Melhoria Contínua, Gestores de Produção, Técnicos de Manutenção, Gestores de Projeto e Engenheiros de Produto. O Desenvolvimento de Produto, com especial foco nas ferramentas CAD foi uma área de recrutamento significativo.
A par do salário e estabilidade contratual, os candidatos procuram benefícios como flexibilidade, e preferência para o trabalho remoto. A nível técnico, observa-se maior interesse por projetos de dimensão internacional e preferência por ambientes otimizados e automatizados, assentes nos novos conceitos de “fábrica limpa”, indústria 4.0 e LEAN Manufacturing.
Os níveis salariais em áreas técnicas de engenharia têm vindo a crescer nos últimos anos, com aumentos de 20% nos últimos dois anos em áreas como a automação e robótica, gestão de projetos, manutenção, engenharia de campo e logística. Como indicação, na indústria, na zona de Lisboa, um diretor geral pode auferir entre 110 e 170 mil euros, e um diretor de operações até 92 mil euros.
Finance
A procura de perfis financeiros, nomeadamente para funções de Controlling, Contabilidade e Direção Financeira, tem tido um aumento gradual nos últimos anos. PME’s que procuram profissionalizar as suas equipas, bem como multinacionais e empresas de SSC, têm sido os principais players no que respeita a novas contratações, criando uma enorme dinâmica no mercado de trabalho nestas áreas. A automatização de processos e a aplicação de ferramentas de Business Intelligence tem provocado uma mudança nos perfis e responsabilidades para o departamento financeiro, exigindo aos profissionais adaptação e agilidade. As empresas procuram perfis que demonstrem capacidade analítica e espírito crítico, integrados em equipas multidisciplinares que trabalham, em conjunto, projetos transversais e em estreita parceria com as equipas de gestão de topo. Soft skills como a capacidade de comunicação com diferentes interlocutores, hands on approach, orientação para resultados e para a melhoria contínua de processos, continuam a ser altamente valorizadas.
Neste contexto, tem havido um aumento salarial em funções como Controlling, Contabilidade e Direção Financeira. Exemplificando, nas funções de direção, como a de Controller Financeiro, o salário oscila entre 23,800 e 49 mil euros enquanto um Auditor externo pode ganhar até 46,200 euros.
De um modo geral, houve um incremento global na ordem dos 10% dos perfis especializados na área financeira, com particular incidência em áreas tipicamente menos abrangidas por este tipo de mutações como são a Contabilidade ou algumas funções transacionais do processo financeiro.
Healthcare & Life Sciences
Em 2022, o setor de Healthcare & Life Sciences foi dos mais dinâmicos. Ao contrário de anos anteriores, as áreas mais técnicas foram as que apresentaram maior crescimento, nomeadamente: Qualidade, Assuntos Regulamentares e Direção Técnica (QP’s). Na área comercial, destacam-se as posições de Desenvolvimento de Negócio Internacional, tanto ao nível de especialistas como de management (com maior destaque na área do Canábis Medicinal), assim como Key Account Managers transversalmente aos vários subsetores (no entanto, com maior procura pela área de Consumer Healthcare). Na área do marketing, tem existido um enorme investimento na maior qualificação destes profissionais, destacando-se a aposta em competências de Marketing Digital e Ecommerce. Na área de medical, apesar de menor crescimento, mantém-se a procura e dinâmica inerente ao setor. É de notar que atualmente este é um “mercado de candidato” – os candidatos são bastante mais exigentes, procuram empresas com valores com as quais se identifiquem, líderes inspiracionais, worklife balance, mudanças que o setor tem vindo a tentar acompanhar.
As empresas deste setor procuram candidatos altamente qualificados nas áreas das Ciências da Saúde, Gestão e Marketing. Formações complementares como Pós-Graduações, Doutoramentos, MBA’s e cursos técnicos continuam a ser valorizadas. No entanto, além das competências técnicas, o perfil comportamental tem vindo a ganhar maior destaque, sendo este um fator decisivo no momento de tomada de decisão.
Salário, boa reputação da empresa e trabalho flexível continuam a ser fatores decisivos para atração e retenção de talento neste setor. Nas funções comerciais, um Business Unit Manager (cargo máximo) pode auferir até 150 mil euros, enquanto no departamento médico, um Diretor Médico pode atingir os 130 mil euros, numa média salarial sem grandes variações relativamente ao ano anterior.
Hospitality & Leisure
Em 2022, observou-se a retoma na área de Hotelaria e do Turismo, com um crescimento gradual ao longo do ano e recordes de faturação em alguns momentos face a 2019, com perspetivas de evolução em 2023. Os projetos de investimento foram retomados, com um aumento do investimento internacional em Portugal, sobretudo na área de hotelaria e alojamento local, com destaque para os investimentos particulares e cadeias mais pequenas que viram um enorme potencial para o desenvolvimento dos seus negócios. Neste contexto, os salários tornaram-se mais competitivos, há uma maior capacidade para a captação de candidatos, num mercado onde a oferta é consideravelmente maior que os profissionais disponíveis.
A dificuldade no recrutamento de perfis para o setor da hotelaria e turismo, acentuou-se ainda mais em 2022, contribuindo para um ligeiro aumento salarial neste setor e foco na implementação de outras medidas com benefícios para os colaboradores, como folgas fixas ou juntas, fins de semana livres por mês, seguro de saúde, subsídio de alimentação, entre outros. Como referência salarial, um Diretor Geral de Operações pode auferir até 110 mil euros e um Diretor de Hotel até 90 mil euros, ambos na zona de Lisboa.
Os salários na área, em funções mais operacionais, aumentaram entre 5% e 10%.
Insurance
No decorrer de 2022, registou-se uma procura considerável por profissionais da área financeira, nomeadamente com skills ao nível de IFRS17, risco e planeamento e controlo de gestão. Este fator deve-se à entrada em vigor desta norma em janeiro de 2023, antecipando que no próximo ano continuará a haver crescimento nesta área para consolidação do report financeiro das seguradoras em IFRS17.
Neste setor, observou-se particular crescimento nas funções de PMO Estratégico, Responsável de Gestão de Contas/Clientes e nas áreas de Marketing, sobretudo canal digital e CX. Ao nível de áreas técnicas, mantem-se a tendência em Área de Risco, Data Analytics e Subscrição. A flexibilidade continua a ser um fator importante no recrutamento, e registou-se ainda um aumento dos flex benefits a par com os pacotes salariais em algumas áreas, com remunerações para funções técnicas como a de Gestor de Sinistros a partir de 16,800 euros até 67,804 para o Atuário Sénior. Nas funções de negócio, um Diretor Comercial Brookers pode auferir até 120 mil euros.
Information Technology
Num mercado cada vez mais exigente na combinação das hard skills com as soft skills, reforçou-se a procura de perfis especializados, principalmente nas áreas de Cyber Segurança, IoT, Cloud, CRM, ERP, Machine Learning e Big Data. Os candidatos procuram consolidar os seus conhecimentos de forma a atingirem diferentes patamares de progressão de carreira, quer a nível tecnológico como de gestão.
O salário continua a ser dominante na guerra pelo talento neste setor, com valores superiores às das outras áreas, com benefícios associados cada vez mais valorizados (flex plans, pocket money, stock options, entre outros) assim como outros fatores que influenciam a decisão dos candidatos para aceitar um novo desafio, entre os quais a flexibilidade de trabalho, o ambiente tecnológico e as responsabilidades da função. Como referência, um Chief Information Officer (CIO) pode auferir anualmente entre 80 mil euros a 130 mil euros e um Chief Tecnology Officer (CTO) até 140 mil euros. De notar ainda um aumento salarial geral na ordem dos 10% a 15% face ao ano anterior.
Logística
Neste setor, observou-se um forte aumento na procura de profissionais de Logística e Supply Chain principalmente em setores industriais, retalho e construção, onde a procura destes profissionais é superior à oferta. Esta escassez de talento traduziu-se num aumento entre 5% e 8% dos salários em geral. Os perfis mais procurados são essencialmente de middle management, onde se destacam as funções de Customer Service, Supervisor de Logística, Responsável de Operações ou Comprador Sénior. Também as posições de Top Management cresceram em procura, nomeadamente: Diretor de Operações, Diretor de Logística, Diretor de Supply Chain e Diretor de Compras. De forma semelhante a outros setores funcionais, a atração do talento de Logística e Supply Chain exige diferenciação por parte das empresas e aposta numa forte cultura empresarial que contemple um plano de progressão de carreira bem definido e um pacote de fringe benefits diversificado (ginásio, seguro de saúde, fundo de pensões, entre outros), além de considerar a saúde ou a flexibilidade. Na área de Supply Chain, a função de Supply Chain Analyst pode auferir até 28 mil euros e um diretor de compras (Procurement Director) até 110 mil euros, enquanto na área de Logística, o plafond de remuneração máximo de 90 mil euros cabe ao cargo de Diretor.
Recursos Humanos
A profissionalização e o reconhecimento do papel estratégico que as funções de Recursos Humanos desempenham para o desenvolvimento do negócio e das empresas acentuou o dinamismo do setor e marcou o aumento do quadro salarial. Num período extremamente desafiante para todas as organizações, as equipas de Recursos Humanos foram decisivas para a reação, adaptação e desenvolvimento de estratégias de Gestão de Recursos Humanos, num curto espaço de tempo, e tiveram de reforçar a sua proximidade com os restantes departamentos.
Mantém-se o investimento por parte das empresas na gestão e desenvolvimento dos seus talentos, com políticas avançadas de recursos humanos e foco numa abordagem analítica e interdisciplinar.
Relativamente aos candidatos, a tecnologia promoveu a procura de perfis transversais que contribuam com conhecimentos especializados como finanças, análises de dados e sistemas informáticos. Observou-se uma maior procura de perfis de HR Operations, destacando a importância de indicadores no setor de Recursos Humanos, através do desenvolvimento de KPIs, esquemas de Payroll, forte planeamento de C&B e controlo de custos.
Os profissionais orientados para objetivos e para o cliente interno são os mais procurados e, neste contexto, as competências de comunicação, organização e trabalho sob pressão são elementos muito valorizados. O pacote salarial continua a ser um fator importante, mas não decisivo. Outros benefícios como a cultura e clima organizacional, oportunidades de formação, desenvolvimento e crescimento, bem como o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional são cada vez mais importantes na tomada de decisão.
Os profissionais orientados para objetivos e para o cliente interno são os mais procurados e, neste contexto, as competências de comunicação, organização e trabalho sob pressão são elementos muito valorizados
Relativamente à remuneração, nas grandes empresas e multinacionais, um diretor de RH pode auferir entre 49 mil e 84 mil euros.
Nas grandes empresas e multinacionais, um diretor de RH pode auferir entre 49 mil e 84 mil euros
Retail
A retoma deste setor em 2022 foi surpreendente, destacando-se a competitividade e novas formas de trabalhar, quer a nível de ferramentas digitais como de logística. Se setores como a construção, bricolage, mobiliário, alimentar, desporto, entre outros, já tinham tido um ano bastante positivo em 2021, a grande surpresa foi no retalho especializado que, em algumas áreas, conseguiu obter recordes de vendas face a 2019. Estes valores foram possíveis não só pelo aumento de consumo que se observou, mas também porque as equipas demonstraram ter uma grande capacidade de adaptação e resiliência. Se no primeiro trimestre, a procura por novos perfis foi mais focada na vertente digital, nos trimestres seguintes observou-se um aumento da procura por perfis de operação, ou seja, vendedores e gestores de loja. Este dinamismo do mercado poderá ser explicado pelas transformações digitais e de logística que as empresas estão a desenvolver, mas também pelo grande investimento internacional em Portugal com a chegada de novos players que oferecem condições de trabalho mais aliciantes.
Os candidatos procuram melhores condições salariais, mas também outras regalias, nomeadamente o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional. Nas funções com turnos rotativos, observa-se uma procura por funções com horários mais estáveis, nas funções de sede procuram-se projetos com possibilidade de trabalhar em modelo híbrido. Se em 2021 se observou uma grande alteração nas prioridades dos colaboradores, 2022 veio realçar ainda mais essas prioridades, juntando à estabilidade financeira, a procura pela realização pessoal e a possibilidade de compatibilizar o trabalho com a vida pessoal.
A aposta na profissionalização tem levado à procura de profissionais com formação académica. Por outro lado, as empresas têm feito um grande esforço na criação de academias e na facilitação do acesso ao ensino superior com o objetivo de ajudar as suas equipas, valorizando nos candidatos competências como a proatividade, o dinamismo e a vertente estratégica. Paralelamente a esta tendência, continuou a observar-se uma grande procura por perfis nas áreas tecnológicas, de marketing e logística, fruto do grande desenvolvimento das plataformas de e-commerce e da presença digital das marcas.
Relativamente à remuneração, e observando-se um aumento salarial médio de 5% para funções qualificadas, nas funções de Direção, a posição de Diretor Geral pode auferir até 160 mil euros e de Diretor de Marketing até 130 mil euros. Nas funções de Compras, o Retail Manager pode ganhar entre 42 e 63 mil euros, enquanto nas funções de Operações no retalho alimentar e especializado de grande dimensão, a remuneração máxima de 80 mil euros cabe ao Diretor Comercial de Retalho.
Shared Services Centres (SSC)
À medida que os players instalados e os novos investidores continuam a competir pelos melhores talentos, as empresas enfrentam alguns desafios importantes para atrair e reter os melhores candidatos, prevendo-se que 2023 seja um ano muito interessante e desafiante no que diz respeito ao recrutamento neste setor, com a evolução dos atuais centros e novos projetos importantes a surgir.
Os salários aumentaram significativamente, entre 10% e 15%, nos últimos anos nos mercados mais dinâmicos, sobretudo para cargos que exigem competências linguísticas como alemão, francês e italiano, onde o aumento chegou aos 25% em alguns projetos.
À medida que os players atingem um estágio de maturidade interessante, entregando trabalho de alta qualidade, compromisso e taxas de ROI muito interessantes, mantém-se a tendência de trazer mais processos para Portugal e ampliar os já existentes. Observa-se um crescimento de CSCs já instalados, agora com funções e departamentos estratégicos (Plataforma de Controlo, Equipas de Melhoria e Automatização de Processos, etc.) e de novos players com responsabilidades de alto nível. Isso leva a uma grande transformação da indústria e a um aumento significativo dos salários em todos os níveis.
A remuneração de um Manager (Head of SSC / Head of GBS) pode atingir os 154 mil euros, de Accounts Payable Manager até 56 mil euros, um Purchase-to-Pay Team Leader até 120 mil euros, enquanto um especialista Purchase-to-Pay pode auferir cerca de 28 mil euros.
Customer Service
O recurso ao outsourcing tem crescido significativamente nos últimos anos em diversos setores de atividade, não só devido à procura de uma otimização do serviço como também para recrutar perfis em que há mais dificuldade. Perfis dinâmicos e jovens, com licenciatura e domínio de línguas, sobretudo inglês (obrigatório), são os mais procurados. Por outro lado, os candidatos valorizam projetos que lhes permitam maior estabilidade, flexibilidade e condições salariais, onde possam adquirir novas competências e obter possibilidades de crescimento dentro das organizações.
A crescente procura de perfis de customer service, é ainda justificada pela crescente aposta de empresas multinacionais em Portugal, que têm como referência salarial outros países com índices salariais superiores bem como pelo crescimento do setor do turismo que obriga as empresas portuguesas a prestar um serviço mais completo aos seus clientes. O dinamismo que se tem verificado no mercado de trabalho português e a sucessiva escassez de recursos faz com que os salários tenham vindo a subir fruto das novas competências técnicas, comportamentais e experiência profissional. Acresce ainda o facto de Portugal ter vindo a posicionar-se como um hub para o atendimento bilingue de diversos países, tendência que aumentou em 2022. A par deste aumento na procura de operadores especializados verificou-se também um aumento significativo dos valores de remuneração neste setor. Os BPOs que até há pouco tempo mantinham os valores alinhados com o salário mínimo veem-se obrigados a aumentar salários para conseguir reter talento, que são tão mais elevados quanto mais específicas ou técnicas as competências que procuram.
Como referência, nas empresas de grande dimensão e multinacionais, um Customer Service Specialist pode ganhar até 18.200 euros por ano, um Operador de Backoffice (Países Nórdicos), até 28 mil euros e para a função de Contact Center Manager, o plafond máximo pode ir até aos 63 mil euros. Os salários na área aumentaram, de uma forma geral, 5% relativamente ao ano passado.
Sales & Marketing
O ano de 2022 foi favorável à instalação de novas empresas e operações em Portugal, bem como o reforço e presença em novos mercados, trazendo novos desafios para as empresas ao nível do recrutamento. Num mercado cada vez mais dinâmico, competitivo e com ofertas de emprego globais, a atração e a retenção de talentos estão no foco das empresas. A aposta em políticas de mobilidade e trabalho remoto, fringe benefits, para atrair candidatos acentuou-se neste último ano, que fruto do aumento de recrutamentos, fez com que as bandas salariais globalmente crescessem em todas as funções. Em 2023 prevê-se que os salários em geral sofram uma valorização entre 2 e 4%, ainda assim, em setores mais dinâmicos este aumento já está a superar este limite, apesar de bastante abaixo da taxa de inflação que irá continuar a sentir-se no próximo ano.
As equipas de gestão, a par dos RH, tentaram nos últimos tempos criar e implementar modelos de colaboração que possam agradar a todos, aos que preferem o trabalho presencial e aos que preferem o regime remoto ou híbrido. Também os conceitos de saúde mental e well being, estão na ordem do dia e a semana de 4 dias de trabalho começa a ganhar expressão junto de alguns setores para atrair talento. A procura de profissionais versáteis, mas simultaneamente especializados nas funções, é uma tendência mais global, enquanto em Portugal se assiste à propensão de as empresas contratarem profissionais com background na indústria e nas funções que irão exercer. Este registo faz com que da parte dos candidatos a mudança represente muitas vezes um mero upgrade salarial. Ao nível da formação, os recrutadores valorizam uma formação académica sólida, em universidades de prestígio, sendo o MBA uma mais-valia. O domínio de idiomas, com predominância do inglês, seguido do espanhol e francês, e a capacidade analítica, de inovação e liderança são fatores cada vez mais decisivos na contratação. As soft skills são cruciais na diferenciação dos candidatos, e continua a registar-se uma aposta em profissionais mais juniores, com visão internacional, domínio de idiomas, mindset diferenciador e skills analíticos. Paralelamente, mantém-se a procura de candidatos com experiência sólida acumulada, know how e nível de compromisso.
Na área Comercial, a procura recai na venda técnica e consultiva orientada para a satisfação e fidelização do cliente, enquanto nas equipas de marketing, com a ascensão dos dados, os skills analíticos e digitais são relevantes em qualquer indústria.
No que diz respeito às lideranças, as empresas procuram num “Head of” ou diretor capaz de conciliar a estratégia e a operacionalização, com conhecimento das ferramentas e técnicas, além de saber gerir a equipa. Nas funções de marketing e comunicação generalistas, um Diretor de Marketing pode auferir até 85 mil euros e um Diretor de Comunicação 72 mil euros, enquanto nas funções ligadas ao marketing digital, o plafond máximo é de 110 mil euros para a função de Diretor de e-Commerce.
Numa análise generalizada, em marketing digital e e-commerce, os salários dos quadros executivos especializados em 2022 subiram 5,8%. Em Vendas, com oscilações consoante o setor e função, a média de subida salarial foi de 4,5%.
Secretarial & Business Support
A adaptação ao trabalho remoto mantém-se como uma prioridade no contexto organizacional. Assiste-se também à resistência por parte de algumas organizações em ter os colaboradores que desempenham funções de Suporte em regime de trabalho híbrido, o que se traduz, inevitavelmente, numa perda de competitividade no momento de atração de novo talento. Seguindo a tendência do último ano, regista-se uma crescente especialização dos perfis que desempenham funções de Assessoria o que se traduz num aumento gradual dos pacotes remuneratórios destas funções. A procura de perfis dinâmicos e com competências de real suporte ao negócio, com background em áreas de formação como Direito, Gestão, Línguas e Literatura, é valorizada pelos empregadores, assim como a capacidade de trabalho de forma autónoma e o pensamento crítico. Tendo em conta que os perfis de suporte continuam a ser parte integrante de equipas multidisciplinares onde a riqueza de ideias é vista como uma grande mais-valia, a fluência em Idiomas continua a ser considerada um requisito chave.
Relativamente às tendências salariais, nos últimos anos verificou-se uma crescente procura de perfis e competências administrativas por parte das organizações, justificada pela crescente aposta de empresas multinacionais em Portugal com referências salariais superiores às do mercado nacional. Em termos de remunerações, como exemplo, a função de Secretária de CEO e de Presidência pode auferir o valor de 46.200 euros por ano, seguindo-se a de Secretária de Administração com um máximo de 38 mil euros por ano. Os perfis qualificados nesta área registaram um aumento entre os 5% e os 10%.
Tax & Legal
O regresso à normalidade em 2022 contribuiu para o extremo dinamismo do mercado de trabalho, onde a procura por perfis das Sociedades de Advogados aumentou rapidamente. Os perfis de Advogado mais procurados continuaram a ser aqueles com senioridade entre os 2 e os 5 anos de experiência pós agregação. No seguimento do que já se verificou nos últimos dois anos, o volume elevado de pedidos por parte de empresas continuou a ser uma tendência, provavelmente com o objetivo de continuar a reduzir custos com a externalização de serviços. Ao contrário dos anos anteriores, a procura por perfis mais seniores (com mais de 5 anos pós agregação), por parte de Sociedades de Advogados, cresceu em determinadas áreas tais como Contencioso, Público, Corporate e M&A, Bancário e Financeiro, Regulatório e Concorrência, Fiscal e Imobiliário.
Manteve-se a tendência por grande parte dos candidatos que se encontram numa entidade prestadora de serviços na pesquisa de uma oportunidade no “Cliente final”, para posições In-house principalmente multinacionais e instituições financeiras. No setor financeiro, a área de Compliance continua a ser um mercado interessante, e no que concerne às empresas multinacionais houve especial procura de perfis com experiência nas áreas de Corporate, Imobiliário, Proteção de Dados e Laboral. Observou-se ainda que a maioria dos candidatos se tem tornado cada vez mais exigente, valorizando sociedades/empresas com funções aliciantes, bom ambiente de trabalho, líderes com os quais se identifiquem, planos de carreira desafiantes e com políticas de home office e fringe benefits flexíveis. Muitos candidatos mais juniores demonstraram interesse na possibilidade de funções com mobilidade internacional. O setor ficou marcado por um aumento salarial significativo na grande maioria das sociedades, independentemente da dimensão, numa ótica de retenção das camadas mais juniores e intermédias, com o intuito de contrariar a grande rotatividade que caracteriza as principais sociedades. No que diz respeito à remuneração variável, a maioria das Sociedades manteve os valores, esforçando-se por se tornar mais criativa e competitiva em matéria de fringe benefits e possibilidade de flexibilidade no que toca a home office. Também em contexto empresarial, as remunerações registaram aumentos face ao ano anterior, sendo certo que assistimos também a uma diversificação dos fringe benefits por parte das empresas, por forma a tornarem-se mais apelativas.
Como exemplos de remuneração nas sociedades de advogados, um advogado associado com 4 a 7 anos pós agregação ronda os 35 mil euros, enquanto um advogado com 10 anos pode auferir até 78 mil euros.
O aumento significativo de salários ocorreu nas sociedades de pequena dimensão e no valor de entrada, com uma média de crescimento de 34%.
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