Pedro Amorim
Managing director da Experis
O mundo está num rápido processo de transformação digital, onde todos os dias surgem tecnologias diferenciadoras que desafiam o status quo. Basta pensar na recente edição da Web Summit para nos apercebermos que expressões como Blockchain, Machine Learning ou Inteligência Artificial, que até há não muito tempo pareciam ser de um universo paralelo, passaram rapidamente a ser parte do léxico corrente e a ter mais impacto em diversas áreas.
Os recursos humanos não são alheios a esta revolução e o setor tem tentado tirar o máximo partido das novas tecnologias para fazer face a um mercado de trabalho cada vez mais digitalizado. Como em todos os períodos de mudança, há sempre duas visões opostas: há quem seja otimista e considere que a digitalização vai tornar os processos mais céleres, credíveis e transparentes, mas há também o outro lado, com uma visão mais pessimista e que defende que as novas tecnologias vão levar à perda de postos de trabalho e conduzir a um crescente número de recursos inadaptados.
Ainda que haja visões distintas do impacto da tecnologia, a verdade é que não há forma de negar que as novas ferramentas vão alterar os processos tradicionais no setor dos recursos humanos. Podemos utilizar como exemplo a tecnologia Blockchain, frequentemente associada às criptomoedas, e que pode ser uma resposta eficiente no armazenamento e partilha de dados de forma mais flexível e segura, diminuindo a margem de erro humano.
Num processo de recrutamento, a tecnologia Blockchain permitirá não só avaliar e verificar as competências, formação e a performance do candidato, mas também acelerar o processo e permitir alocar melhor os recursos. A questão: será este processo arriscado? A minha resposta é um categórico não. Esta tecnologia permitirá, ao invés, mais produtividade e consequentemente um melhor retorno do investimento que é feito.
Os dados são mais do que nunca uma fonte inesgotável de informação. Não só se fala do armazenamento, mas, acima de tudo, da melhor forma de analisar e partilhar os mesmos. Neste sentido, que impacto terá esta análise nos recursos humanos e as suas diversas áreas de atuação? A questão pode ser resumida em três pontos essenciais:
1. Agilização dos processos de recrutamento;
2. Otimização dos modelos de recrutamento, acelerando os processos e permitindo que as equipas se foquem nas campanhas de marketing (melhor direcionamento das estratégias de atração);
3. Melhoria da qualidade da contratação.
A realidade é que a tecnologia não está apenas a transformar as organizações, está também a obrigar a uma mudança das competências necessárias, o que tem posto uma pressão adicional nas empresas, por não conseguirem encontrar o talento que necessitam para fazer face a estes desafios. Esses números foram aliás corroborados recentemente no estudo Talent Shortage Survey da ManpowerGroup, que mostra que 46% das empresas nacionais têm sentido dificuldades acima da média para recrutar o talento certo, o maior aumento desde 2016.
A automação e a digitalização não estão a reduzir os postos de trabalho, nem o ritmo de contratação. O que as novas tecnologias estão a obrigar é a uma revolução das competências necessárias e que vão ser cruciais no futuro do trabalho. Atualmente as empresas valorizam cada vez mais a colaboração, capacidade de organização, orientação para o cliente, capacidade de comunicação e resolução de problemas, sendo que as duas últimas são descritas como as mais difíceis de encontrar.
A revolução tecnológica vai, sem dúvida, continuar a acelerar a mudança e a trazer novas exigências. Por isso vai ser imperativo as pessoas adaptarem-se à nova realidade e adquirir novas competências para vingar num mundo do trabalho cada vez mais virado para o futuro.