Decorreu mais uma edição do World Business Forum organizado pela WOBI, e um dos convidados foi Daniel Lamarre, Presidente e CEO do Cirque du Soleil Entertainment Group.
O World Business Forum é organizado anualmente, em diferentes cidades da América, Europa e Oceânia, e consiste num congresso de dois dias que reúne personalidades de renome mundial. Assim, o World Business Forum, que decorreu este ano em formato digital, permite que os seus convidados partilhem com o mundo a visão sobre como superar e adaptar à nova realidade.
Um dos convidados desta edição foi Daniel Lamarre, Presidente e CEO do Cirque du Soleil Entertainment Group. Daniel Lamarre conta já com uma longa carreira na indústria criativa, e numa das organizações criativas mais respeitadas do mundo. O Cirque du Soleil expandiu-se para conter uma ampla gama de empreendimentos criativos. No entanto, a essência da empresa permaneceu intacta: invocar a imaginação, provocar os sentidos e evocar as emoções das pessoas em todo o mundo.
Daniel Lamarre começa a sua intervenção afirmando que a sua vida mudou completamente quando se juntou ao circo, altura em que começou a percorrer o mundo. Olha para si próprio como um verdadeiro cidadão do mundo. Para ultrapassar esta fase de incertezas, o CEO explica como a inspiração surgiu através do desempenho, das atuações e dos artistas que dão força e nome à marca Cirque du Soleil.
Em 24 horas, a organização teve de cancelar todos os seus espetáculos e passar a cuidar dos seus artistas de 49 nacionalidades diferentes. Em poucos dias, o Cirque du Soleil teve de ajudar os seus artistas a voltar a casa e às suas famílias, com a agravante das fronteiras fechadas. Daniel Lamarre explica como acordou um dia e não tinha uma única receita.
No entanto, o CEO acreditou que a marca era forte. E, por isso, o Cirque du Soleil criou a sua própria rede online, a Cirque Connect. Desde aí que tem vindo a mostrar o seu material, desde espetáculos a momentos de bastidores. De acordo com Daniel Lamarre, isto veio provar que a marca é o valor mais importante de uma empresa, e que a marca Cirque du Soleil estava viva. Independentemente da empresa, há que manter em mente os valores da marca. É isso que vai demonstrar a reputação da organização e a qualidade do produto. Segundo este CEO, torna-se fundamental o que as pessoas dizem sobre uma marca. Por isso, Daniel Lamarre deixa alguns conselhos às empresas:
- Entenda que a marca é o seu valor mais importante: pergunte aos seus clientes como eles veem a sua marca. É importante saber como ela é vista dentro e fora da empresa, e a forma mais humilde de o conseguir é perguntando opiniões. Para este CEO, a pergunta ideal é: «Poderia recomendar a marca aos seus amigos e família?»
- Associe-se apenas com as melhores marcas. Alimente e nutra a sua marca. Daniel Lamarre recorda como um dos seus clientes estava desapontado com os espetáculos do Cirque du Soleil, por achar que não estavam ao nível do habitual. «Os clientes são juízes.» Para o CEO, o que deve fazer nessa situação é parar, fazer uma pausa, e assumir essa responsabilidade.
- Descubra e investigue na Internet (redes sociais) o que é falado sobre a sua marca. O novo boca a boca é no meio digital, e é aí que se encontra o consumidor. Meça o que dizem sobre si e descubra como pode influenciar. É muito importante a experiência que as pessoas vivem.
Daniel Lamarre prossegue contando histórias da sua própria experiência. Em Monterreal, numa festa, George Harrison, da banda The Beatles, demonstrou interesse em trabalhar com o Cirque du Soleil. «Não queria acreditar que íamos ver os The Beatles.» O CEO explica como conseguiram recriar o universo da banda de forma visual, num espetáculo que teve muito impacto para a marca. «Este espetáculo tornou a nossa marca numa marca global.»
O CEO deixa um conselho: olhe para o ambiente à sua volta e pense como pode romper com o que já existe, como pode ser único. Essa é a busca que deve concretizar constantemente. «O nosso trabalho é reinventar o Cirque du Soleil constantemente, e todo esse trabalho foi baseado na nossa criatividade.»
O presidente adianta como a criatividade tem um poder fundamental. A criatividade é a habilidade de criar, de fazer nascer algo novo. «Acredito que não há nenhum tipo de negócio sem criatividade.». No Cirque du Soleil, a criatividade é constantemente alimentada. «É importante que as pessoas, quando entram num espaço ou empresa, sintam que aquele espaço é diferente.» No caso desta marca, o que é vendido é a arte, pelo que a arte tem de estar à vista. É crucial que haja algo que recorde aos líderes e trabalhadores do que é a empresa e em que é que a empresa acredita.
«Estamos sempre à procura de novas formas de tornar o espetáculo criativo. Se você tem uma cadeira que pode voar, ligue-me, porque eu estou interessado.» Para o CEO, a criatividade é a palavra-chave. É essencial que o negócio apoie os criadores, pois muitas vezes são recusadas boas ideias. Avance com a fronteira da criatividade, e veja até onde pode chegar. O CEO deixa algumas orientações para o fluir da criatividade:
- Estar sempre à espreita. «Temos olheiros que vão a todo o lado do mundo. Se me disserem “conheço este músico ou artista fantástico” eu vou contactá-lo.» É necessário criar um ambiente criativo e ir ver outros, e trocar ideias.
- Contratar pessoas com formas diferentes de pensar. É fulcral haver um verdadeiro debate, e tanto faz se é com o diretor ou com o porteiro. É importante poder dizer o que se pensa, num debate saudável, para que as melhores ideias prevaleçam e se tornem produtivas. Rodeie-se de pessoas inspiradoras.
Em Santa Mónica, numa estreia, James Cameron, diretor do filme Avatar, convidou Daniel Lamarre a visitar o seu estúdio. O realizador mostrou ao CEO do Cirque du Soleil as novas tecnologias com que trabalhava, e sugeriu uma parceria. Uns meses mais tarde, James Cameron visitou os estúdios da organização criativa. Acabaram por trabalhar em conjunto num espetáculo onde foram recriadas essas tecnologias. Surgiu assim um Avatar em formato circense.
«A criatividade traz inovação, e inovação traz liderança.» De acordo com Daniel Lamarre, é importante que se pergunte a si próprio: «Quão importante vou ser daqui a cinco anos? Como me posso reinventar? O que posso fazer para continuar a ser importante daqui a cinco anos? O que faço de diferente?» A chave é ter uma mentalidade de vencedor. Reconhecer o perigo, mas não ter medo. Saber arriscar.
Por fim, Daniel Lamarre deixa alguns conselhos sobre liderança:
- Seja sempre fiel à sua personalidade e valores. Não tente ser outra coisa que não é. Não tente projetar uma imagem que não é real. Tenha orgulho nos seus valores e desenvolva-os.
- Comunique com transparência e clareza a sua visão. Se os seus trabalhadores não entendem a sua visão, é porque não foi capaz de a comunicar eficazmente.
- Arrisque. Deve sempre exceder as expectativas.
Daniel Lamarre recebeu, em certa noite, uma chamada telefónica. Informavam-no de que o filho de um artista tinha falecido. O CEO apanhou o avião e foi ter com toda a equipa. A sua mulher disse-lhe: «não sejas um presidente, sê tu mesmo, porque também estás a sofrer.» Daniel Lamarre conta como esteve com a equipa, chorou com a equipa e a apoiou. «É isso que um líder deve fazer.»
Um líder deve sobressair durante a crise. É fácil ser líder quando as coisas correm bem. Um verdadeiro líder deve partilhar a sua preocupação com os trabalhadores, mas ainda assim manter calma. Os líderes de amanhã terão de mobilizar os seus trabalhadores para ganharem novas ideias. Terão de redefinir o seu trabalho e a sua empresa. Mas o truque é estarem sempre atentos e ouvirem os trabalhadores. Comunicarem não só com o público-alvo, mas também com os colaboradores.
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