Inge Geerdens
Fundadora CVWarehouse
Qual o seu cargo ou título de posição? Gosta? Acha adequado? Acha que reflete as suas responsabilidades, o seu trabalho real?
Pergunto isto porque a definição dos cargos e títulos deixa-me sempre bastante confusa. No outro dia conheci um rapaz muito simpático, bem-falante, de 26 anos, agradável e educado. Imagem perfeita. Conversámos sobre imensas coisas e divertimo-nos bastante. Gostei da sua avidez, da sua espontaneidade. Deixou uma primeira impressão muito forte. Cada um seguiu o seu caminho, mas concordámos manter o contacto. Mais tarde, naquela noite, conectámo-nos no LinkedIn.
Aí apercebi-me que era Diretor De Algo Importante Mas Que Não Iria Entender Por Isso Não Vou Explicar na sua empresa atual. E, de facto, nunca imaginaria este título de forma alguma, tendo em conta a conversa realista e franca que tivemos anteriormente.
Não pude deixar de me perguntar: será que ele e/ou o empregador sentiram que só com um grande D convenceriam os clientes da importância ou especialidade desta função? Porque, sejamos honestos, normalmente, os cargos refletem a antiguidade de uma pessoa e não o seu trabalho. Acho que tal remonta ao tempo em que valorizávamos um compromisso de longo prazo com a empresa acima de tudo. Mas os tempos mudaram. Hoje o foco não é a antiguidade, mas a agilidade. E com isto, muitas vezes, surge uma hierarquia horizontal, na qual os jovens geralmente têm um papel importante a desempenhar. Creio ser a altura de repensar os conceitos por detrás dos nossos cargos.
Afinal, o que representa um cargo ou um título?
Eu recruto há mais de 15 anos, estou habituada a avaliar pessoas. Raramente preciso de mais do que alguns minutos para tirar as minhas conclusões. E se há algo que aprendi neste período é que os cargos costumam prometer em demasia. Os cargos estão a tentar, arduamente, vender pessoas. Quanto mais tempo se mantiver num cargo, mais desapontado ficará. Esta é a minha experiência. Talvez esteja relacionado com o Princípio de Peter? O princípio de Peter é um conceito de gestão desenvolvido por Laurence J. Peter, que observa que as pessoas numa hierarquia tendem a subir ao seu “nível de incompetência”.
E se um cargo refletisse as ambições de alguém e não as suas realizações passadas? Isto daria às pessoas um propósito, aquilo que todos nós achamos importante na vida e no trabalho. E também ajudaria a gerir expectativas. Afinal de contas, é melhor não prometer e surpreender, certo? Salvaria, também, algumas almas.
Quantas pessoas conhece que foram “empurradas” para uma promoção? Claro, parece que receberam mais responsabilidades, mas na realidade foram para um “beco sem saída” e estão a ser marginalizadas. O escritório do canto: onde as carreiras das pessoas, os seus sonhos profissionais e muitas vezes o espírito vão morrer.
Eu gosto da ideia de fazer do título uma meta e não uma conquista. E vocês?