A liderança é um dos temas da gestão organizacional que mais se tem sabido reinventar e adaptar às realidades de um mundo em transformação permanente e a ritmos cada vez mais acelerados. Embora alguns sustentem que essa adaptação tem refletido mais um efeito de “moda” do que propriamente uma mais sincera e profunda reconcepção sobre o papel dos líderes que, segundo os mesmos, não se tem alterado assim tanto ao longo da História, o facto é que este argumento não resiste a uma análise mais profunda sobre as bases filosóficas, científicas e sócio organizacionais em que assentam os principais constructos concetuais das diferentes teorias e modelos de liderança.
Na verdade, pensar a liderança, reconhecer-se nela e vivê-la enquanto líder é hoje um processo que implica não só o exercício de um papel organizacional mas, muito para além disso, a assunção de um propósito maior como pessoa: influenciar outros com integridade, ter um impacto profundo e extenso nas suas vidas e elevá-los para uma maior e mais profunda humanidade.
Estamos, assim, com a natureza destas novas missões dos líderes, realmente muito distantes das mais “antigas” perspetivas de liderança, tanto das que seguiram ou foram diretamente influenciadas pelos chamados “modelos situacionais “ que enfatizaram de modo algo mecanicista uma ideia de liderança segunda a qual, e cotejando uma famosa frase do filósofo espanhol Ortega Y Gasset, “o líder é o líder e a sua circunstância”, como de outras conceções, mais elitistas, que, no essencial, concebiam o líder como alguém “cheio de circunstância”.
Nesta linha de reflexão, o verdadeiro sucesso de um líder pós-moderno não se pode medir apenas pela sua capacidade de adaptação aos diferentes e movediços contextos onde atua. Em contraponto, o que se espera é que seja ele (ou ela) o criador da sua própria circunstância, fomentando um ambiente que torne possível praticar um empoderamento efetivo dos colaboradores de modo a que cada um deles (ou delas) possa vir, por sua vez, a tornar-se num novo e porventura melhor líder.
Se, na “ordem tradicional”, o líder era frequentemente caracterizado como a figura dominante e muitas vezes dominadora, que sacrificava o interesse do coletivo impondo, com “soberba” (Rego, 2019) o seu próprio interesse acima de tudo e de todos e exuberava galhardamente a fatuidade de ser o “primus inter pares”, hoje, pelo contrário, os “novos líderes” (que não são, necessariamente, os “líderes novos”) são mais dominantemente movidos pelo interesse coletivo e pelo espírito de missão orientado para a potenciação de novos líderes, exercido com sentido de “prestação de um serviço” e com base em atitudes de “humildade”, essa “poderosa força tranquila” (Rego, op.cit.) (2)
São líderes que praticam sustentadamente uma “ liderança amplificada” (Reiland, 2011) cuja missão fundamental é justamente contribuir para “amplificar” as capacidades humanas das equipas e dos colaboradores, através de processos de influência e práticas de comunicação que visam “evocar o melhor que existe nas pessoas” e incentivá-las a serem elas próprias a desenharem os itinerários do seu progresso futuro.
Discutir se este tipo de modelos de liderança é ou não é simplesmente mais uma “moda”, não é importante. O que verdadeiramente importa é analisar a sua relevância face aos reais problemas que as organizações e as pessoas enfrentam na pós-modernidade de risco em que vivemos.
E uma coisa parece certa: em ambientes de grande incerteza e imprevisibilidade, onde todos os cenários enfrentam um risco agravado de falibilidade, a melhor arma contra a tendencial desestruturação externa é estruturarmo-nos internamente através do desenvolvimento de algumas meta competências que robusteçam as nossas qualidades mais autênticas e mais profundamente humanas.
E é precisamente para isso que mais precisamos de líderes ágeis e “amplificadores”, que expandam a sua influência através da criação de novos líderes, gerando, pela sua ação e exemplo, um efeito multiplicador virtuoso que se constitua como uma potente reserva energética para enfrentar os complexos desafios do futuro.