Pedro Ramos
Diretor de recursos humanos do Grupo TAP Air Portugal
Já quase tudo se escreveu sobre o comportamento das novas gerações nas nossas empresas! Todos sabemos já que a geração Millennials [que nos está a entrar pelas portas adentro…], entre outras características, não tem a menor paciência para estruturas organizacionais e muito menos para hierarquias mais ou menos simpáticas…
E, nestes contextos, como fica o papel das chefias das empresas? Aqueles “seres do bem”, formalmente empossados para fazerem com que as suas equipas façam acontecer, afinal como conquistarão o respeito (“respeitinho”, como nós dizemos por cá na nossa Tugolândia!) que merecem junto dos seus novíssimos colaboradores?
É que nem lhes falando ao coração estes novos Millennials reagem aos atributos dos seus chefes e muito menos veneram as caixinhas de diversos tamanhos que de forma hierarquizada anunciam os “donos” das várias partes das estruturas organizacionais.
Querem lá saber estes newcomers que, para falarem com o chefe X, têm de passar pelo chefe Y e ainda há um outro chefe Z a quem têm de prestar contas antes de apresentar uma nova ideia ou uma simples sugestão…
Não vou aqui discutir a diferença entre chefe e líder! Isso foi coisa que andámos todos a fazer nos idos anos 90 do século passado e eu pessoalmente já tive a minha dose de reflexão e partilha sobre como os chefes devem ser, antes de mais, líderes e como a chefia está relacionada com o poder formalizado e liderança com inspiração e desígnio motivacional.
Quero lá saber disso! Isso foi no tempo em que ninguém questionava o poder (autoridade) das suas hierarquias e o máximo que desejávamos era que os nossos chefes fossem fazer uma formaçãozita para aprenderem a ser mais focados nas pessoas e não tanto nos processos… O tempo que já passou sobre essa visão…
Agora sejamos pragmáticos… Nos novos modelos de organização, cada vez mais ágeis, onde vários colaboradores em simultâneo terão de experienciar processos de coordenação diversos consoante os projetos em que estão envolvidos, que se traduzem em termos práticos no facto de um colaborador ter vários chefes ao mesmo tempo, ainda faz sentido falar do exercício de chefia em sentido clássico e universal?
Vá lá… o chefe já não é o tal “ser do bem” que se sentava numa mesa à parte em posição privilegiada, quase sempre virado para a sua equipa dado que visualmente teria de “tomar conta” de todos e do que cada um ia fazendo ou produzindo… O poder ou autoridade formal da empresa já estão bem mais distribuídos e difundidos por vários agentes internos e que se traduzem em vários interlocutores organizacionais.
Mas… “chefe que é chefe” continua a ter de ser respeitado!
Mas será que o tal “respeitinho”, quase sempre associado a medo ou receio de errar, ainda é válido num (atual) mundo corporativo 4.0 onde se estimula e exercita o erro como forma de aprendizagem? E como fica a questão do propósito individual (como parte do grande propósito da empresa!) que remete para uma nova exigência de todos e de cada um em termos de autonomização, autoliderança e intra-empreendedorismo?
Se os processos de responsabilização, autonomia e decisão estão a ser cada vez mais transferidos para o lado dos colaboradores, não fará sentido inverter os posicionamentos em relação ao dito “respeitinho” e claramente adotar uma postura mais próxima do “Mais respeitinho que sou teu colaborador”!?
E o que fica do lado dos tais chefes ou gestores do “bem”? Não tenho dúvidas que em vez de medo, autoridade, respeito, ordem e orientação estaremos a falar de inspiração, comunicação mobilizadora, confiança e confiabilidade, abertura à mudança e à inovação e fazedores de ações de reconhecimento interno! Verdadeiros “enviados especiais” do desenvolvimento e apaixonados pelo crescimento das suas pessoas!
É isto! Simples, certo? Adotar uma nova postura e cultura de liderança inspiradora e apaixonada que, através da confiança e do fazer acreditar, desenhará novas linhas informais (mas duradouras) de agregação das pessoas aos projetos comuns e aos propósitos individuais e global da organização.
No fundo, uma chefia mais inpiracional do que centralizadora, mais aberta à partilha do que fechada às propostas de mudança e inovação, mais desperta ao papel de uma verdadeira diversidade cognitiva na sua equipa do que desejosa de fazer cumprir regras e regulamentos magistrais…
No fim do dia, estamos a falar de um novo papel de chefia com forte respeito – será respeitinho? –, pelo que cada pessoa pode agregar para o resultado final do negócio!
Sim… a nova expressão em voga é definitivamente…
… “Mais respeitinho que sou teu colaborador e tu és parte da minha equipa!”
Até porque há uma outra expressão fantástica que pode também ser aqui aplicada… E que é bem possível que passe a circular entre os vários colaboradores envolvidos em múltiplos projetos e equipas, que “o meu chefe é melhor que o teu”!