Autora: Rossana Veglia, Relocation & Immigration Director – Global International Relocation
O famoso escritor inglês J.R.R. Tolkien é mais conhecido pela sua série de livros “O Senhor dos Anéis”, mas uma vez disse que “nem todos os que vagueiam estão perdidos”. Enquanto testemunhamos a realidade de um mundo atual e esperançosamente, em breve, pós-pandémico, os nómadas digitais e reformados estão a migrar para Portugal como nunca. As preocupações em torno das últimas condições do infame regime tributário do NHR continuam a ser indiscutivelmente superadas pela inegável atração de Portugal por parte de estrangeiros de todas as idades, em busca de um melhor estilo de vida ao sol, numa sociedade segura, com baixa criminalidade e saudável. As pessoas estão mais bem informadas do que nunca a respeito das suas opções de relocation. Mas o que acarreta o futuro para a indústria de relocation como um todo, e qual será o papel dos provedores de serviços externos e, de facto, dos RH em grandes empresas?
As preocupações em torno do regime tributário do NHR continuam a ser indiscutivelmente superadas pela inegável atração de Portugal
Até a Covid-19 se tornar um problema global no final de fevereiro de 2020, o modelo da indústria de relocation de fazer negócios recorrendo a prestadores de serviços era de aproximadamente 80% corporativos e 20% particulares, em termos de base de clientes. O cliente corporativo ideal expatriaria regularmente os funcionários, do país de origem para o país anfitrião, normalmente num período de dois a cinco anos, sendo estes substituídos num ciclo rotativo e contínuo. Enquanto prestação de serviço, este seria o cenário, uma vez que o workflow é constante e regular. Desde março de 2020, no entanto, o mercado registou uma redução de cerca de 60% no trabalho regular de expatriação. Começamos a testemunhar um pouco mais de movimento novamente com relação a concessionados, ainda que escasso. Ao falar do tema com pares e clientes do setor, nenhum acredita que o volume aumente, se é que vai acontecer, até 2022. Há um perfil que, sem dúvida, se vai perder: o do viajante de curto prazo, que permaneceria normalmente por cerca de três meses em designação/ destacamento. As mudanças significativas no mercado de trabalho global estão também a afetar a forma como as empresas contratam e realocam funcionários. Agora poderíamos ser argentinos, trabalhar no Reino Unido para uma empresa alemã, mas querer trabalhar no escritório de Lisboa ou Porto, ou mesmo candidatar-nos a uma vaga lá e obter um contrato local permanente.
Para os recursos humanos, o maior desafio permanece: o cumprimento da lei de imigração. Novas contratações e relocation de funcionários de um país para outro, seja a pedido deles ou das empresas. Garantir que estes cheguem ao novo local a tempo tem sido impossível de prever durante o tempo de pandemia. As restrições de viagem foram constantemente suspensas, apenas para serem reforçadas dias ou semanas depois. Na GIR, contamos com um processo interno e uma infraestrutura que nos permite dar suporte aos nossos clientes, e possibilita que os funcionários possam iniciar o processo de relocation e começar a trabalhar na sua nova função, antes de chegar fisicamente ao novo país anfitrião. Esta flexibilidade de os prestadores de serviços poderem adaptar-se a cada situação específica e acomodar solicitações, adaptando o serviço e o produto, é mais importante do que nunca. Sentir-se bem recebido, bem-vindo e saber que todo o processo foi cuidado é sumamente importante do ponto de vista do expatriado. À chegada, a primeira impressão pode ser positiva ou negativa, e a mesma estendida para o país ou empregador. Atuamos como uma extensão da marca dos nossos clientes, a fim de garantir que as suas expectativas e que um serviço personalizado de alta qualidade sejam atendidos e superados.
No futuro, o perfil dos expatriados continuará em constante mutação, o que provavelmente já estaria a acontecer, agora com a agravante de que o coronavírus acelerou essa mudança. Como testemunhamos uma nova geração de trabalhadores que, na maioria das vezes, conduzem as suas próprias mudanças no exterior, as empresas de relocation devem evoluir e adaptar-se, a fim de estarem bem posicionadas para aconselhar sobre novos desafios, principalmente tributação internacional. O futuro sempre foi difícil de prever, e essa afirmação é mais verdadeira agora do que nunca. O que fica claro é que aqueles que estão perdidos e não se querem adaptar, evoluir e inovar serão deixados para trás.
Artigo publicado na edição n.º 134 da RHmagazine, referente aos meses de maio/junho de 2021.