Autora: Ana Simaens, coordenadora do MBA in Sustainable Management do ISCTE Executive Education
O
contexto atual de pandemia tem trazido novos desafios às empresas, promovendo o surgimento e pertinência de outras novas questões. Em comum, nestes desafios, está a necessidade de uma gestão mais sustentável e responsável, desde logo pela necessidade da garantia do bem-estar e saúde das suas pessoas, a braços com uma pandemia e uma crise sanitária que, além de impactos físicos, trouxe manifestamente impactos do foro emocional e psicológico.
Por outro lado, assegurando condições de trabalho mais dignas, que extravasaram as paredes dos escritórios e locais de trabalho tradicionais, prevenindo situações que reforçaram as desigualdades de género e em geral, fruto dos sucessivos confinamentos e consequente impacto na vida pessoal e profissional das pessoas. Esta gestão é feita com riscos acrescidos para o negócio proveniente das alterações climáticas, que nunca tiveram tanto palco como hoje em dia. Enfrentando escassez de matérias-primas nos mais variados setores da economia, colocando em causa a capacidade de produção sustentável, de desenvolvimento da indústria e necessária inovação. Num contexto de cidades e comunidades que se reconfiguram para ir ao encontro de novas exigências, em matéria de mobilidade e estilos de vida mais sustentáveis, entre tantas outras dimensões que nos permitiriam percorrer os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A pandemia pode mesmo ser vista como um alerta para a sociedade em geral, e para os gestores em particular. A necessidade de reconhecer a interligação entre os ODS, revelando a dimensão sistémica da sustentabilidade que, por si só, aumenta o nível de complexidade com que as empresas têm de lidar, e que determinam o contexto em que as suas decisões são tomadas, e a importância de colocar a sustentabilidade no centro da agenda das empresas – se queremos estar alinhados com a Agenda 2030 das Nações Unidas.
Assim, se parecia evidente para muitos, na academia como nas empresas, a necessidade de um crescente alinhamento da sustentabilidade com a estratégia organizacional, no sentido de garantir uma real integração da sustentabilidade na estratégia, os últimos dois anos foram o reforço que outros tantos precisavam para o reconhecer.
Mas a sustentabilidade é uma jornada. Quando vista como um add-on que não faz parte do ADN da empresa, esta integração é comprometida. Torna-se urgente o uso da sustentabilidade como filtro para as decisões mais basilares. Como as relacionadas com definição de visão, missão, propósito, valores da empresa, bem como para as escolhas estratégicas ao nível corporativo ou de negócio, e decisões mais operacionais.
Colocar uma “lente” que nos faça pensar de forma deliberada nos potenciais impactos ambientais, sociais e económicos negativos, ao mesmo tempo que nos motive a pensar de forma mais regenerativa, porque, cada vez mais, o equilíbrio já não é suficiente. Mas para que isto aconteça, é crítico que haja compromisso da gestão de topo e que se ponha em prática uma governação que permita a dinamização transversal das dimensões de ética e sustentabilidade nas empresas. Seguindo princípios de transparência e accountability.
As crescentes exigências legais e referenciais normativos, como a Taxonomia da União Europeia, ou as exigências de reporte de informação ESG (Environmental, Social and Governance), vão tendo o seu papel na institucionalização destas práticas, mas no final do dia, estamos a falar de pessoas. E as empresas são feitas de pessoas, com pessoas, para pessoas.
Na literatura e no terreno encontram-se evidências de como a integração da sustentabilidade na estratégia das empresas é influenciada por um conjunto de fatores organizacionais, como a dimensão da empresa, a estrutura da indústria e a posição relativa das empresas no setor. Mas também fatores impulsionadores internos e externos, entre os quais as exigências de compliance, a procura da vantagem competitiva, a busca de inovação, uma abordagem de gestão de risco, ou a reputação da empresa, por exemplo.
Contudo, há ainda um conjunto de elementos que podem apoiar ou limitar a integração da sustentabilidade na estratégia com vista a uma gestão mais sustentável. Entre eles, destaco, por exemplo, as práticas de transparência e comunicação, a cultura organizacional, o envolvimento dos stakeholders, e, sem dúvida, a atitude e comportamento dos gestores.
Neste último ponto, em particular, a tomada de consciência pessoal e coletiva, impulsionada pela educação formal e informal, tem um papel crítico. Uma gestão mais sustentável e com os olhos postos nos ODS potencia oportunidades de negócio, numa sociedade em transição para a sua versão 5.0, em que o foco está na criação de soluções mais inteligentes, eficientes e sustentáveis que se centrem nas necessidades humanas. Porque no final do dia, somos todos pessoas.