Autora: Bárbara Carvalho, Psicóloga Clínica da TEAM 24
Na sua globalidade, a depressão é vista como uma condição emocional, embora existam um conjunto de défices cognitivos associados. Muitas vezes, são estes os sinais de alarme e que se manifestam no desempenho da atividade laboral, para além do impacto negativo no funcionamento pessoal e social.
A Organização Mundial de Saúde descreve a depressão como sendo uma das principais causas de incapacidade laboral. Nesse sentido, é necessário abordarmos essas alterações, pois ao identificá-las podemos refletir e ajustar, por determinado período, a atividade de quem apresenta sintomas de depressão ligeiros a moderados. Isto vai permitir que a pessoa se restabeleça e recupere a funcionalidade, evitando o agravamento dos sintomas e a necessidade de absentismo laboral.
Por norma, é a própria pessoa que identifica as suas dificuldades, mas muitas vezes são os colegas de trabalho e/ou os team leaders que se apercebem destas alterações. A pertinência de abordar este tema, enfatizou-se pelo facto de em contexto terapêutico ter surgido, várias vezes, a dúvida: “Devo agir, abordar um colega quando me apercebo de uma alteração do seu comportamento?”. A resposta é que sim, todos podemos ter um papel ativo na prevenção e no cuidado da saúde mental, quer seja a nossa ou a dos que nos rodeiam.
Quais os sinais a que devemos estar atentos?
Sabemos que depressão influencia o funcionamento cognitivo, nomeadamente com défices da memória, da atenção e resolução de problemas. Estas dificuldades não se resumem a uma redução das capacidades, mas sim a uma dificuldade em iniciar as estratégias cognitivas necessárias.
As pessoas com depressão podem apresentar dificuldades em manter a atenção por longos períodos de tempo, necessitando de maiores períodos de descanso. Existe também maior facilidade de se distraírem da tarefa com estímulos irrelevantes, internos ou externos e diminuição da flexibilidade mental, o que dificulta mudar o foco da atenção. Esta limitação interfere com a realização de tarefas com diferentes requisitos cognitivos, revelam dificuldades ao suspender momentaneamente uma tarefa para realizar outra e, posteriormente, retomar a anterior. Dificuldades a este nível limitam consideravelmente a capacidade de repartir os recursos atencionais, impossibilitando a realização de diferentes tarefas em simultâneo.
“Devo agir, abordar um colega quando me apercebo de uma alteração do seu comportamento?”. A resposta é que sim, todos podemos ter um papel ativo na prevenção e no cuidado da saúde mental, quer seja a nossa ou a dos que nos rodeiam
Por sua vez, o humor deprimido interfere na construção de respostas novas e soluções alternativas: existe uma lentificação no processo de tomada de decisão, diminuição da confiança e até uma perceção distorcida do feedback que é dado pelo que os rodeia. Podem, ainda, ser verificadas dificuldades na inibição do comportamento, o que pode resultar em comportamentos impulsivos. Importa referir que a atividade cerebral funciona enquanto unidade, sendo que todos os domínios se relacionam e influenciam mutuamente.
Quando o esforço passa a ser demasiado para realizarmos tarefas que anteriormente eram simples e de rápida execução, passamos a ver o trabalho como um agravamento do nosso estado de saúde, pois aumenta a sensação de cansaço, frustração e dos sentimentos de desvalorização. São estes sentimentos que fazem com que as pessoas deprimidas questionem muitas vezes se devem abandonar o local de trabalho, pois atribuem o mal-estar e as dificuldades sentidas às exigências das tarefas.
O que é que as organizações podem fazer para minimizar o impacto da depressão no local de trabalho?
Esta informação permite-nos refletir sobre as estratégias que as empresas podem desenvolver para otimizarem o trabalho de quem apresenta estas limitações, por norma, temporárias. Ao reagir, a empresa está também a contribuir para a reabilitação, uma vez que pode diminuir a sensação de frustração do colaborador causada quer pelo aumento do tempo na execução das tarefas, promovendo, ainda, o aumento da possibilidade de sucesso na sua concretização. Estas estratégias passam, por exemplo, por permitir o aumento do número de pausas ao longo do dia ou na atribuição de tarefas de menor complexidade, avaliar se o local de trabalho apresenta demasiados estímulos, readaptar espaços, flexibilizar o horário de trabalho para que o colaborador possa ir a consultas de acompanhamento e reabilitação.
Com a intervenção psicológica adequada e a reabilitação cognitiva conseguimos não só diminuir as dificuldades e devolver a funcionalidade, como também promover a diminuição dos riscos de agravamento do estado de saúde que resultam quase sempre em absentismo laboral.
É importante salientar o papel fundamental das entidades empregadoras no clima organizacional através da prevenção ou diminuição do impacto da doença, incentivando os colaboradores a recorrerem a ajuda, a estarem atentos e a reagirem quando se verificam alterações, não só na perspetiva de melhorarem a produtividade, mas, essencialmente, na manutenção da sua saúde mental.
É importante salientar o papel fundamental das entidades empregadoras no clima organizacional através da prevenção ou diminuição do impacto da doença, incentivando os colaboradores a recorrerem a ajuda, a estarem atentos e a reagirem quando se verificam alterações
Siga-nos no LinkedIn, Facebook, Instagram e Twitter e assine aqui a nossa newsletter para receber as mais recentes notícias do setor a cada semana!