Autora: Helena Freitas, Diretora Geral da Sanofi Pasteur Portugal
Eu, Helena Freitas, Mulher. Filha. Mãe. Pessoa. Diria de mim própria que sou uma pessoa com muita sorte! Uma pessoa com a sorte de ter nascido num local, numa época onde as mulheres podiam estudar e perseguir os seus sonhos, escolher a universidade e o curso que queria, poder rodear-me de alegria, de aprendizagem e de amizades que perduram até hoje – Homens e Mulheres.
Uma pessoa com a sorte de ter escolhido o primeiro emprego numa multinacional americana, em que o mundo empresarial se abria em vários mundos. A experiência internacional surgiu, e com uma colega de trabalho participei numa das primeiras equipas de auditores que incluíram mulheres em 2001 para Luanda.
Uma pessoa com a sorte de ter decidido embarcar numa aventura profissional que me levou até Moçambique por três anos, onde liderei equipas locais. Esta vivência em África mostrou-me que há lugares com muitos desafios para as Mulheres, para as Pessoas.
A sorte de ter regressado a Portugal e de ter começado a trabalhar na indústria farmacêutica, onde nos últimos 17 anos tive o privilégio de conhecer e trabalhar com grandes profissionais e defender tantas causas para a saúde no nosso país. Sou uma pessoa com a sorte de hoje estar a liderar uma equipa de alta performance na área das vacinas, cuja missão é a de construir um mundo em que ninguém sofra ou morra de uma doença que possa ser prevenida através da vacinação ou imunização.
E a isto tudo junto a sorte de ter quatro enteados e ser mãe da Teresa há nove anos, com tanto orgulho e desafios.
Enquanto diretora-geral da Sanofi Pasteur em Portugal sinto-me uma privilegiada, porque felizmente, nesta companhia, sempre pesou mais o mérito do meu trabalho do que o meu género. Algo que sei que não acontece em muitas empresas, em Portugal e no mundo. Nunca o facto de ser mulher ou poder ter ou não filhos foi um impedimento para construir a minha carreira, mas tenho a plena noção de que isso se deve também à empresa em que trabalho.
Na Sanofi, a igualdade de género é uma prioridade, e só em Portugal 62% dos colaboradores são mulheres. A nível global, a companhia está empenhada em continuar a trabalhar para que todos tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento, investindo esforços para uma boa gestão de talento e planeamento de sucessões. A par da área profissional, a companhia reconhece a importância da adoção de medidas de conciliação que promovem uma boa gestão da vida pessoal e profissional e promovem o bem-estar de um modo geral. A nível global, temos o compromisso de, em 2025, o grupo de 500 maiores líderes ser composto por pelo menos 40% de mulheres (atualmente são 31%) e isso é algo que muito me orgulha.
Felizmente, a área da saúde tem muitas mulheres e figuras muito fortes a dar o exemplo. Seja nos altos cargos como o Ministério da Saúde ou a Direção Geral da Saúde, seja na Comissão de Saúde da Assembleia da República, nas ordens profissionais, nas Administrações Regionais de Saúde e nos Centros Hospitalares.
Os desafios são muitos, é claro, e os estudos comprovam-no. Dou como exemplo o estudo «A mulher em Portugal, hoje», da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que destaca que persistem disparidades de género na afetação das horas de trabalho pago e não pago, com as mulheres a destinar mais de metade do tempo em que estão em casa acordadas a fazer o trabalho não pago que resulta da casa onde vivem e do cuidado e educação dos filhos. Proporção que se mantém quase igual estando a mulher ativa no mercado de trabalho (57%, em média) ou não tendo trabalho pago (52%, em média).
Atualmente, ainda persistem diferenças e fortes assimetrias de género que penalizam as mulheres em todas as categorias profissionais e mostram que é necessário instituir políticas que, a par da empregabilidade feminina, promovam a igualdade de género e a igualdade de oportunidades de construir carreira e ser-se compensado/a pelo seu mérito e trabalho. Estas políticas deverão ser transversais, equitativas e implementadas de forma concertada, do público ao privado, envolvendo toda a sociedade e pessoas de todas as idades. Para que num futuro que se espera próximo mais nenhuma mulher se sinta privilegiada por ter tido a «sorte» de ter nascido num país que não lhe limita as oportunidades e por trabalhar numa empresa que olha para o mérito das pessoas, independentemente do seu género, idade ou cultura.
Num mês em que se assinala o Dia Internacional da Mulher, em que o tema é escolher desafiar as barreiras que, um pouco por todo o mundo, impedem a igualdade de género, venho desafiar-vos a todos a ter uma postura de desafio face a desigualdades e a fazer a diferença ao vosso nível no vosso dia a dia.
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