No Capítulo V do paper “Atração e Retenção de Talento”, a BRP conseguiu conseguiu “confirmar o problema da falta de capacidade do país para atrair e reter os jovens mais qualificados” e compreender “quais as razões que determinam a decisão de emigrar dos portugueses”.
Em parceria com a Deloitte, o estudo apresentado pela BRP teve uma amostra de 5400 pessoas, com o intuito de perceber os fatores que influenciam atração e retenção de talento em Portugal.
Verificou-se então que 24% do talento que reside em Portugal e uns impressionantes 48% da geração Z, está propenso ou muito propenso a emigrar. O documento mostra ainda que os jovens com pouca experiência são os mais propensos a emigrar, sendo esta uma geração bem qualificada- engenharia e informática são as áreas de formação com população mais propensa a emigrar, sendo que a maioria (61%) dos emigrantes não pensam voltar para Portugal.
Salário é o principal fator de saída
De acordo com a BRP, os principais fatores que influenciam a decisão dos inquiridos em emigrarem são o salário e o poder de compra. “O salário é a principal razão que faria com que os inquiridos que exercem a sua atividade profissional no estrangeiro viessem trabalhar e residir em Portugal”, afirma a BRP. Acrescentam-se a estes fatores as oportunidades e perspetivas de evolução de carreira, como segunda razão fundamental, e os regimes fiscais, em terceiro lugar.
Os autores do estudo também explicam que os “salários baixos e um sistema fiscal caro e que penaliza o sucesso” estão a contribuir para a saída de jovens qualificados.
Nível salarial médio português abaixo da média europeia e da OCDE
A BRP, mediante dados da OCDE e da União Europeia, também analisou o nível salarial médio na União Europeia e na OCDE. Segundo o documento, “é vasta a diversidade de países com nível salarial médio superior a Portugal”, sendo que o país se situa bastante próximo “dos países menos desenvolvidos da OCDE”.
“Na primeira posição dos países da OCDE com melhores salários médios surge destacada a Suíça, seguida da Islândia, da Noruega e do Luxemburgo, com os maiores salários brutos e líquidos entre os 75 mil euros e os 46 mil euros. Os países europeus, como a Alemanha, a França, a Itália e a Espanha, registam salários líquidos acima dos 21 mil euros, o que compara com um salário médio líquido em Portugal inferior aos 15 mil euros.
Salário médio fora de Portugal pode ser até duas vezes superior
A BRP também analisou a comparação do salário líquido que cada trabalhador pode receber em Portugal e noutros países. Neste caso, o hiato fiscal (ou tax wedge) mede o peso de impostos e encargos para a segurança social sobre o custo total do trabalho.
“Analisando o hiato fiscal do trabalho, Portugal aparece no top 10 da carga fiscal sobre o trabalho na Europa”, explica a BRP. De acordo com os dados apresentados, um jovem bem qualificado, com poucas “âncoras” a Portugal e que trabalhe em Espanha, poderá, por exemplo, levar para casa 1,4 vezes o que conseguiria em Portugal.
“Mesmo em França e na Alemanha, com um tax wedge superior ao de Portugal, um trabalhador com o salário médio consegue levar para casa cerca de duas vezes o que conseguiria no nosso país”, escreve a BRP no paper.
“As carreiras em Portugal são pouco atrativas”, diz a BRP
Numa análise da atratividade e a competitividade das empresas para atrair e reter talento, a BRP concluiu que “as carreiras em Portugal são pouco atrativas” e a competitividade das empresas para atrair e reter talento “é negativamente afetada pela carga fiscal”.
“Analisando a relação entre as duas variáveis, verifica-se que em Portugal o trabalhador fica com 55% do custo total para a empresa para um salário anual de 28.000€ e 51% para um salário anual de 42.000€, o pior rácio dos países analisados”, explicam.
De acordo com os dados, um aumento de 50% do salário bruto (de 28 para 42 mil euros) representa um ganho de apenas 39% no salário líquido em Portugal, situação só ultrapassada pela Holanda, onde o acréscimo é de 35% mas que, ainda assim, o valor absoluto é muito superior, porque o nível de carga fiscal é muito menor para estes salários. “Portugal começa a taxar de forma muito pesada a partir de níveis baixos de rendimentos, o que penaliza gravemente o sucesso individual”, explica a BRP.
Investimento nas pessoas é prioridade
Paulo Rosado, CEO da Outsystems, falou na Conferência “Querer e Crescer”, da BRP, na importância, para o país, de investir nas pessoas e impedir a fuga de cérebros.
“Basta fazer uma série de entrevistas aos jovens que estão no estrangeiro [sobre os motivos que as levaram a sair do país] e as respostas serão sempre as mesmas, relacionadas com duas variáveis: os salários líquidos são bastante baixos e as carreiras pouco interessantes. Portanto, precisamos de empregos mais giros e que remunerem decentemente”, explica Paulo Rosado.
O CEO da Outsystems reforça que hoje as profissões de conhecimento são as que dão mais valor às empresas e conseguem obter os melhores salários. “Em quase todos os setores de conhecimento, a guerra do talento é uma guerra global”, afiançou.