A Operação Nariz Vermelho (ONV) está a celebrar o seu 20.º aniversário e, como forma de assinalar a data, a RHmagazine falou com Rosária Jorge, Diretora-Executiva da associação, que traça a linha evolutiva da atuação da ONV ao longo destes 20 anos de existência. A Operação Nariz Vermelho visita, anualmente, mais de 53 mil crianças, em 100 serviços pediátricos de 17 hospitais públicos, que representam 30% das instituições hospitalares e 51% das camas pediátricas ocupadas no Serviço Nacional de Saúde. Para que a missão possa continuar a ser bem-sucedida, a ONV precisa da sua ajuda. Sabia que pode consignar 0,5% do seu IRS a favor da associação? Fique a par do processo.
Apresente-nos, brevemente, a Operação Nariz Vermelho (ONV) e a sua missão.
A Operação Nariz Vermelho (doravante, ONV) é uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2002, cuja missão é levar alegria à criança hospitalizada através da arte do Doutor Palhaço. Os Doutores Palhaços são artistas profissionais com formação específica para atuarem em ambiente hospitalar e trabalham em dupla fixa, visitando o mesmo hospital durante seis meses, com projeto artístico bem definido e com uma relação de trabalho muito próxima com os profissionais de cada hospital, adaptando a sua presença à realidade de cada serviço, de cada quarto, de cada criança.
A equipa da ONV conta hoje com 33 Doutores Palhaços, liderados pelo Diretor Artístico. No escritório, trabalham 19 pessoas nas áreas de comunicação, angariação de fundos, organização de eventos, relação hospitalar e investigação científica, no Centro de Investigação e Pesquisa, incluindo também a equipa administrativa e a Direção Executiva.
Como tem evoluído a atuação da ONV ao longo destes 20 anos de existência?
A génese da nossa missão mantém-se, mas o projeto da organização evoluiu. A criança continua a ser o foco dos Doutores Palhaços, mas percebemos que esta também impacta os seus familiares, acompanhantes e os profissionais de saúde.
A expansão do programa de visitas levou também ao crescimento da equipa, tanto a artística como a do escritório. Contratámos profissionais com competências específicas para cada área, alargámos e diversificámos as atividades de angariação de fundos, apostámos na comunicação do nosso trabalho e na investigação científica, conduzindo estudos sobre o efeito das interações dos Doutores Palhaços com as crianças, e aprofundámos as relações com as administrações hospitalares e as equipas médicas.
A equipa da ONV conta hoje com 33 Doutores Palhaços. No escritório, trabalham 19 pessoas nas áreas de comunicação, angariação de fundos, organização de eventos, relação hospitalar e investigação científica, no Centro de Investigação e Pesquisa, incluindo a equipa administrativa e Direção Executiva
Hoje, a nossa missão tem bons níveis de notoriedade e de credibilidade e conseguimos reforçar a nossa sustentabilidade financeira de modo a cumprir com a nossa promessa e filosofia de manter o programa de visitas em cada hospital “para sempre”. Para que tudo isto seja possível, financiamo-nos todos os dias junto da comunidade, uma vez que oferecemos os nossos serviços aos hospitais visitados.
De que forma a ONV foi impactada pela pandemia, não só no trabalho que presta, mas também ao nível de RH?
A pandemia obrigou a uma reinvenção da nossa forma de trabalhar, mas a construção, ao longo dos últimos anos, da nossa estratégia de gestão, recursos e equipamentos tornou este caminho acidentado mais fácil de ultrapassar. Entre o tomar consciência de que tudo estava a mudar e a realidade de uma mudança radical, com toda a equipa de repente a trabalhar a partir de casa, decorreu menos de uma semana. Coisas que numa empresa parecem simples nem sempre o são numa organização do terceiro setor, mas termos uma rede informática de acesso remoto, computadores portáteis, telemóveis e uma equipa organizada com consciência plena das suas funções e objetivos ajudou-nos a focar nos resultados, sem desperdiçarmos tempo nem energia.
Manter a nossa missão viva não se coadunava com a redução de recursos humanos, porque são as pessoas que asseguram tanto a manutenção da nossa missão como a angariação de fundos, de modo a assegurarmos as receitas necessárias para nos mantermos ativos. Na verdade, mantivemos toda a gente a trabalhar numa velocidade de sprint, durante uma corrida que sabíamos longa, mas que acabou por tornar-se numa maratona.
Quando, em março de 2020, chegou um inimigo invisível que obrigou à interrupção das visitas dos Doutores Palhaços aos hospitais, encontrámos uma alternativa em tempo recorde: a TV ONV, o canal de YouTube onde todos os dias publicávamos dois vídeos dos Doutores Palhaços em casa. Vídeos feitos apenas com recursos caseiros, pensados, filmados e editados pelos próprios artistas, e publicados numa plataforma ao alcance de cada criança, não só as que estavam no hospital, mas também as que nos viram a partir das suas casas, o que nos permitiu chegar a um público que, antes, se calhar, nem conhecia a ONV.
Manter a nossa missão viva não se coadunava com a redução de recursos humanos
Em novembro de 2020 demos mais um passo, com o lançamento do “Palhaços na Linha”, um sistema de visitas virtuais, através de tablets presos em suportes de soro que eram levados de quarto em quarto graças à disponibilidade e apoio incondicional de enfermeiras, educadoras e auxiliares, verdadeiros “braços e pernas” da nossa equipa na fase mais crítica da pandemia.
Atualmente (e finalmente, desde janeiro deste ano), os Doutores Palhaços já estão de volta aos 17 hospitais e a equipa do escritório está de volta ao trabalho maioritariamente presencial.
No que respeita concretamente aos Doutores Palhaços, como funciona o processo de admissão?
A ONV abre periodicamente audições para novos artistas. Uma vez passada essa audição, há um período de testes e workshops em sala de treino e dentro do hospital. Se o artista passar todas as fases, é integrado numa dupla ou trio e no calendário de residências nos hospitais com que colaboramos. É nesta fase que o artista começa a investigar e definir o imaginário do Palhaço, quer a nível de identidade, quer de figurino, repertório musical, habilidades e características físicas e emocionais. Após estar preparado, entra no programa regular de visitas, formando uma dupla com outro Doutor Palhaço e assegurando as visitas semanais.
A ONV engloba, também, no seu exercício, uma componente de investigação, participando em alguns projetos de produção de conhecimento científico. Pode falar-nos um pouco acerca desta vertente? Têm em vista projetos futuros, neste âmbito?
O trabalho desenvolvido pelo Centro de Estudos e Pesquisa da ONV assenta em três áreas fundamentais: credibilidade, memória e formação. Estabelecemos parcerias e diálogos com a academia para multiplicar conhecimento sobre o impacto da interação artística do palhaço no universo hospitalar e solidificar a credibilidade da atuação da ONV, procuramos registar o trabalho e a produção artística da organização, promover reflexões, estudos, pesquisas e debates sobre a ação da ONV no hospital e desenvolvemos ações para apoiar a formação e aperfeiçoamento contínuo do artista.
Estabelecemos parcerias e diálogos com a academia para multiplicar conhecimento sobre o impacto da interação artística do palhaço no universo hospitalar e solidificar a credibilidade da atuação da ONV
Um dos projetos que podemos destacar é o estudo que deu origem à publicação do livro “Rir é o Melhor Remédio?” (2016), uma parceria entre a ONV e a Universidade do Minho, que permitiu mostrar que a interação com os Doutores Palhaços ajuda tanto as crianças como os seus acompanhantes a lidar melhor com a passagem pelo hospital, tal como ajuda a aliviar as rotinas diárias de trabalho dos profissionais de saúde. Entre os principais dados que resultaram deste estudo, destacamos que 92% dos profissionais do hospital indicaram que os Doutores Palhaços ajudam as crianças a esquecer, por momentos, que estão no hospital; 85% referem que as crianças colaboraram mais com os tratamentos ou exames e 73% sublinham que as crianças apresentam maiores e/ou mais rápidas evidências clínicas de melhora após contacto com os Doutores Palhaços da ONV. Entre os familiares e acompanhantes os resultados também são muito positivos: 99% dos pais sentem gratidão pelos Doutores Palhaços; 98% consideram-nos uma parte importante da equipa de cuidadores das crianças hospitalizadas e 99% referem que gostariam que visitassem as crianças com mais frequência.
O Centro de Investigação e Pesquisa colabora de forma constante com diversas universidades e instituições e tem, de momento, um projeto de parceria com o Hospital de Vila Franca de Xira, já na fase final de avaliação, para estudar o impacto do “Palhaços na Linha” em comparação com as visitas presenciais dos Doutores Palhaços. As conclusões deste estudo poderão permitir estabelecer o “Palhaços na Linha” como um complemento às visitas presenciais, permitindo a expansão da nossa missão aos hospitais onde é mais difícil a possibilidade de implementar as visitas presenciais.
73% [dos profissionais de saúde] sublinham que as crianças apresentam maiores e/ou mais rápidas evidências clínicas de melhora após contacto com os Doutores Palhaços da ONV
Os portugueses podem apoiar a ONV através da consignação de 0,5% do seu IRS. Como se deve proceder? E o que significa para a instituição este gesto, que não acarreta qualquer encargo ou perda de benefício fiscal?
A consignação do IRS é uma medida de solidariedade social que permite aos contribuintes apoiar instituições com uma parte dos seus impostos. Esta opção não se traduz na redução do valor a receber pelo contribuinte aquando do reembolso do IRS; simplesmente, ao invés de reverterem para o Estado, esses 0,5% revertem a favor de uma instituição à escolha do contribuinte, de entre as que, todos os anos, constam da lista divulgada pela Autoridade Tributária (AT).
A consignação do IRS representa atualmente cerca de 1/3 das receitas anuais da ONV, um valor imprescindível à concretização da missão. Oferecemos o nosso serviço aos hospitais e estamos dependentes do apoio da comunidade para financiar as visitas dos Doutores Palhaços aos 17 hospitais públicos com que colaboramos. A consignação do IRS, sendo uma medida simples, ao alcance de qualquer contribuinte e sem custos associados, é das formas mais básicas de apoiar a nossa missão.
A consignação do IRS representa atualmente cerca de 1/3 das receitas anuais da ONV
E que outras formas existem de apoiar a vossa missão?
Além da consignação do IRS, angariamos fundos através de donativos de particulares e de entidades públicas e privadas, de campanhas anuais, como o Dia do Nariz Vermelho, que se realiza todos os anos, em junho, ou da venda de merchandising na nossa Lojinha, entre outras.
Ao longo dos últimos anos, as empresas têm vindo a perceber a importância da imagem e posicionamento junto do grande público e de como o apoio a causas de solidariedade social ajuda ambas. Os projetos de responsabilidade social têm vindo a ganhar cada vez mais relevo e, ao longo destes 20 anos, temos tido o privilégio de contar com o apoio de vários parceiros, sem os quais muito daquilo que fazemos seria difícil de alcançar, pelo que agradeço, em nome da equipa da ONV, a todos os parceiros que acreditam na nossa organização.
As empresas têm vindo a perceber a importância da imagem e posicionamento junto do grande público e de como o apoio a causas de solidariedade social ajuda ambas
O que perspetiva para a ONV nos próximos cinco anos?
O nosso sonho é, um dia, visitar todas as crianças e adolescentes nos serviços de pediatria dos hospitais em Portugal. Com a experiência e aprendizagens durante o período da pandemia e com o apoio de todos os que acreditam na nossa missão e na qualidade do nosso trabalho, poderemos implementar um plano de expansão que permita ano após ano, continuar o caminho para esse sonho.
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