A pressão financeira sofrida pelo impacto económico da Covid-19, o stress causado pelos riscos de saúde da pandemia, o medo de perder o emprego ou as elevadas cargas de trabalho resultantes de cortes de pessoal, podem potenciar o aumento de casos de burnout.
Os seus efeitos são muitos e de longo alcance: desde problemas de saúde mental e física em toda a força de trabalho (e, como resultado, milhões de baixas médicas), às enormes quedas de produtividade, o esgotamento ou burnout é um problema que afeta tanto o empregador como o empregado.
A estes fatores adiciona-se a cultura do sucesso que vigora na nossa sociedade atual. “Parece que em todo o lado, principalmente em redes sociais como o LinkedIn, nos aparecem mensagens contraditórias de que é preciso flexibilidade no trabalho e saber desligar, mas que quanto mais se trabalha mais sucesso se terá. Isto, aliado à pressão dos líderes de equipa e das empresas que precisam de se manter competitivas neste contexto de crise, aumenta gravemente o risco de esgotamento ou burnout nos profissionais”, comenta François-Pierre Puech, senior manager da Robert Walters Portugal.
O novo e-guide para Combater o Burnout no Trabalho da Robert Walters, consultora de recrutamento especializado de postos intermédios e diretivos a nível global, destaca 10 práticas chave a desenvolver pelas empresas de forma a evitar o esgotamento dos seus colaboradores:
1. Comunique os objetivos e metas claramente, fazendo revisões regulares, e implemente a regra 80/20
Nesta lógica, aproximadamente 20% das atividades são responsáveis por 80% dos resultados. Assim, destaque as tarefas mais importantes e prioritárias de maneira diária e regular para que a sua equipa possa concentrar a maior parte do tempo nas atividades que trarão mais impacto para o negócio. Além disso, quando as metas são revistas regularmente, é mais fácil identificar outliers significativos ou áreas de trabalho que podem ter sido responsáveis por tarefas excessivas.
2. Enfatize o bem-estar
Para evitar a exaustão dos seus funcionários, incentive-os a tirar férias sem se sentirem culpados por desligarem do trabalho. Além disso, fazer intervalos regulares no trabalho ajudará a melhorar o entusiasmo, a produtividade e a saúde mental da sua equipa. Adicionalmente, considere implementar iniciativas de bem-estar no seu local de trabalho, por exemplo aulas de yoga, acesso a aplicações de mindfulness e comida saudável.
3. Implemente políticas flexíveis
Medidas de trabalho flexível ou remoto podem reduzir a tensão e o stress na vida profissional dos seus funcionários, permitindo uma melhor conciliação da vida pessoal e profissional. Além disso, são uma forma de atrair o melhor talento, pois os profissionais de topo procuram oportunidades com esses benefícios.
4. Crie incentivos para desligar
Não permitir que os seus colaboradores adicionem os seus e-mails profissionais ao telemóvel pessoal ou outros dispositivos que usem durante o tempo livre facilita a sua desconexão e evita que trabalhem fora de horas. Além disso, mostre respeito pelo “tempo em casa” dos seus colaboradores, limitando as comunicações de trabalho fora do horário de expediente.
5. Promova a autonomia dos seus colaboradores relativamente à sua função e desempenho
Uma das principais causas do burnout nos profissionais é a falta de controlo sobre o seu próprio trabalho, seja a gestão do volume de tarefas ou as suas possibilidades de desempenho. Os principais métodos para enfrentar este problema são:
- Estabelecer expectativas do zero: a organização deve ser clara sobre as habilidades e competências que o cargo exige desde o início. Se se espera que uma função evolua ou mude com o tempo, deixe isso bem claro no processo de entrevista.
- Avaliação das possibilidades de desempenho: a existência de prazos apertados é comum em qualquer negócio, pelo menos de vez em quando, mas o esgotamento ocorre quando uma pessoa simplesmente tem demasiado que fazer ou falta de recursos e habilidades para fazer o que é exigido no tempo previsto. Recomendamos que se ofereçam aos profissionais as ferramentas e os recursos necessários para atender às suas necessidades e objetivos, como o eventual apoio de freelancers para terceirizar algumas atividades, ou de tecnologias que ajudem a automatizar tarefas repetitivas.
- Envolvimento na tomada de decisões: embora algumas decisões devam ser tomadas em privado, é fundamental consultar e demonstrar aos colaboradores que as suas contribuições são valorizadas e que fazem parte do futuro do negócio. Isto levará a um aumento na satisfação no trabalho e no interesse profissional e pessoal do colaborador no sucesso da empresa.
- Pedir feedback: é fundamental disponibilizar canais seguros para que os empregados possam dar a sua opinião sobre a empresa e a gestão dos seus responsáveis.
6. Reconheça e recompense os resultados
Garantir que os seus colaboradores sentem que são recompensados justamente pelo seu trabalho é uma maneira fundamental de melhorar a satisfação laboral e de prevenir o burnout. A recompensa não tem de ser sempre económica, podendo ser um reconhecimento público (em forma de elogios ou comentários positivos) ou intrínseco (sentir-se orgulhoso do resultado do próprio esforço). Acima de tudo, é importante recompensar os resultados em vez do número de horas passadas no escritório. Combater uma cultura de “presencialismo” é essencial para criar um ambiente de trabalho positivo e prevenir o esgotamento emocional.
7. Aposte na transparência e feedback relativamente às possibilidades de progressão de carreira
Implemente percursos de carreira e descrições de funções e objetivos de maneira transparente para que as pessoas saibam quais são as suas possibilidades de progressão reais e aquilo que é necessário para alcançar um determinado título, nível ou salário. Deve-se referenciar este plano regularmente e oferecer feedback relativamente ao progresso realizado, especialmente durante as avaliações anuais.
8. Invista na criação de uma comunidade
Uma cultura corporativa diversa, sólida e positiva que seja aberta a todo o tipo de profissionais aumenta o compromisso dos empregados, que se sentirão mais envolvidos com a empresa. Além disso, melhora a sua satisfação laboral e, consequentemente, diminui o risco de burnout. A realização de eventos corporativos, a implementação de plataformas de comunicação interna, a celebração de aniversários para aplaudir a singularidade de cada profissional ou as políticas de portas abertas são algumas das iniciativas que ajudam a criar este espírito de comunidade.
9. Garanta igualdade de oportunidades e imparcialidade
Permitir ambiguidades quanto aos critérios de promoção/aumento salarial pode facilmente levar a situações interpretadas como injustas. O estabelecimento de políticas salariais claras e alinhadas com o mercado de trabalho e a implementação de planos de mentoring que facilitem o crescimento e o desenvolvimento de todos os colaboradores resultarão na criação de um ambiente inclusivo e diverso. Em relação a acordos flexíveis de trabalho, estes não devem ser limitados aos funcionários com necessidades específicas, como trabalhadores com filhos, mas devem ser estendidos a toda a força de trabalho para demonstrar que todos os trabalhadores são iguais aos olhos da empresa, independentemente da sua condição ou situação familiar.
10. Transforme palavras em ações: transmita e integre a missão da empresa nos seus processos
Os colaboradores têm maior probabilidade de sofrer burnout caso não se sintam identificados ou se não souberem qual é a missão da sua empresa. Assim, assegure que os perfis públicos da empresa (sites, redes sociais, comunicados de imprensa, relatórios…) transmitem de forma clara os seus valores e missão. Isto ajudará os seus empregados a entender melhor se se encaixam na organização, e como seu trabalho contribui para o sucesso da empresa. É verdade que um algumas organizações já incluem durante os seus processos de recrutamento uma entrevista com o objetivo de descobrir o “ajuste cultural” do candidato, em que os profissionais têm a oportunidade de experimentar a cultura da empresa, seja por meio de uma visita aos escritórios, um café com potenciais colaboradores ou a projeção de vídeos de eventos corporativos.