Autor:
Ariel Quintana, Country Manager do Habitissimo Portugal, Brasil e Chile
Quando o tema é gestão de multiculturalidade nas empresas, sabe-se que não existem fórmulas de sucesso ou receitas garantidas que devolvam, por si só, resultados favorecedores de crescimento através das fronteiras. Quer se vise mais produtividade, melhores desempenhos ou mais envolvimento, a boa gestão de estruturas distribuídas por vários países é aquela que se pratica diariamente, em cada momento de contacto com as pessoas, destacando a coesão do grupo e, simultaneamente, o que cada elemento tem de melhor e específico para oferecer.
Quando algo de disruptor, com consequências transversais, se impõe de forma inesperada, é fácil que a incerteza, o medo e a ansiedade tomem conta das equipas e ponham em causa o prosseguimento dos planos.
Foi o que aconteceu em todo o mundo quando o novo coronavírus remeteu continentes inteiros ao confinamento e desafiou gestores e colaboradores enquanto indivíduos e como forças de trabalho.
Até aqui, a cultura corporativa tinha-se concentrado nos produtos, nos processos e nas ferramentas que a permitem funcionar. Confrontados com uma realidade para a qual não existe livro de instruções, começou-se a concentrar a atenção no elemento humano por detrás de todas as facetas do trabalho e os resultados não se fizeram esperar. Assumiu-se o trabalho remoto, reconfiguraram-se os fluxos, apoiaram-se os recursos e respondeu-se à crise – ainda em curso – com uma motivação reforçada.
Para os profissionais cuja responsabilidade é garantir a continuidade dos negócios por via da gestão de equipas repartidas por vários países e continentes, escutar, guiar e apoiar as pessoas nos seus objetivos deixou de ser suficiente – tornou-se, aliás, secundário. O gestor assumiu uma quota parte de psicólogo, para funcionar como um apoio a colaboradores e a clientes, também eles necessitados de garantias. O bem-estar de cada elemento ganhou preponderância ao desempenho do coletivo e as especificidades locais nunca mereceram tanto encaixe como agora. O facto da pandemia ter o seu próprio ciclo de evolução fez com que não se manifestasse da mesma forma nem acontecesse em simultâneo em todo o lado, o que significa que enquanto equipas na Europa vão preparando o cenário pós-Covid, nos países da América Latina o pico está a acontecer agora e cabe ao gestor ter a sensibilidade necessária para enquadrar a multiculturalidade não só no contexto da empresa, como no da própria crise em curso.
Quando a ligação a várias comunidades e culturas está na génese do negócio e se vive um momento que abala as fundações, é importante que se regresse aos valores, se interiorize a mudança e se crie resiliência. Os gestores que protegem o bem-estar das suas equipas, a sua multiculturalidade e as vantagens de estarem distantes mas juntos estão bem posicionados para instilar valores sustentáveis e superar com sucesso qualquer tipo de disrupção.