ARTIGO 2 (de 3)
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As causas do burnout são multifatoriais. Trata-se da confluência de características pessoais, do tipo de atividade e de variáveis oriundas da instituição onde se trabalha. Estes fatores podem facilitar o processo de stress ocupacional caso o colaborador não desenvolva mecanismos adaptativos que lhe permitam restabelecer o equilíbrio.
Elegemos os Professores pelo papel estratégico que assumem em qualquer sociedade. Têm missão privilegiada na formação dos indivíduos não somente quanto à transmissão de conhecimento, mas também de valores como a tolerância, inclusão, dignidade, solidariedade, responsabilidade, fundamentais à convivência harmoniosa da sociedade. Têm impacto direto nos homens e mulheres que representarão, a prazo, a nossa sociedade.
A investigação tem mostrado que representam um dos grupos profissionais com níveis de stress crónico mais elevados. Na profissão docente o contacto com as pessoas é permanente. Podemos percecionar isto como muito interessante, mas pode revelar-se cheio de receios e ameaças, tanto a nível profissional como pessoal. O professor é o próprio instrumento de trabalho, mediador num contexto que apresenta continuamente maiores exigências. “O professor ‘deve ser capaz’ de organizar e executar as ações que produzem nos alunos os efeitos desejados (…). O comportamento docente em sala de aula tem uma componente cognitiva e uma fortíssima componente afetiva e de gestão das emoções” (García-Renedo, 2014).
A comunidade científica reconhece hoje o ATS (Accelerated Thinking Syndrome) como um dos mais recentes desafios que enfrentam alunos e professores: o excesso de estímulos audiovisuais, o excesso de informação e impulso desmedido para o consumo, produz sintomas que se confundem com a hiperatividade. Os alunos estão agitados, têm conversas paralelas, não se concentram, revelam uma psico-adaptação aos estímulos da rotina diária, ou seja, uma perda de interesse pelas pequenas coisas do dia-a-dia. Uma criança de 7 anos de hoje tem mais informação na sua memória do que um octogenário de há 80 anos atrás! Por isso, frequentemente, se revela inquieta, sente fadiga excessiva, irritabilidade, aversão à rotina.
Os professores vêem-se cada vez mais a braços com esta agitação nas salas de aula, a par das dificuldades criadas pela diluição da relação de autoridade. Num recente estudo publicado pela U. Nova (2018) envolvendo 15.000 docentes, pode ler-se que “mais de 75% dos professores revelam sinais de exaustão emocional”. Os efeitos manifestam-se através da falta de entusiasmo e de criatividade no trabalho, dificuldades de concentração, irritabilidade, baixo autoconceito, perda de auto-controlo na sala de aula e reações emocionais excessivas a acontecimentos do dia-a-dia. A longo prazo, são referidos também a depressão, a ansiedade e a maior probabilidade de aparecimento de doenças como a hipertensão.
O stress crónico e o burnout em professores privilegia variáveis específicas do seu desempenho. Destacam-se a instabilidade inerente ao vínculo contratual, o elevado número de turmas e de alunos, a carga de tarefas burocráticas, as exigências na relação com alunos e pais, a exposição sujeita a ‘escrutínio’ permanente que caracteriza as atividades de educação e a falta de preparação | competências face às situações novas com que se deparam (ver ponto A2) (Otero-López, 2018).
O tratamento pode basear-se em apoio psicofarmacológico (atenuação de sintomas). Mas é possível – para este e qualquer outro grupo profissional – atuar na prevenção: desenvolvendo o autoconhecimento, a utilização mais eficaz dos recursos internos, a adoção quotidiana de estratégias de enfrentamento e autocontrolo. A intervenção junto dos professores pode dotá-los de ferramentas e mecanismos adaptativos para saber lidar melhor com os níveis de stress do contexto atual.
Voltaremos a este tema no próxima mês.
Partilho alguns dados recentemente publicados:
– 34.5% dos docentes percecionam níveis moderados de stress e 55.1% percecionam níveis significativos a elevados de stress na sua atividade profissional – 24 Maio 2018, Universidade do Minho
– 79,44% revelam stress global, dos quais 22% com tensão emocional e 17% com perturbações físicas. Não existem diferenças entre homens e mulheres. Na dimensão ‘Angústia’ o resultado confirma que os professores referem a incerteza relativamente ao presente e ao futuro. A característica da carreira (mudar de escola) pode explicar este resultado. Psicologia, Saúde & Doenças, Lisboa 2008
– Exaustão emocional: 36.28% Despersonalização 14.16% – Amostra com 7509 docentes portugueses, estudo de 2017 REVISTA DE ESTUDIOS E INVESTIGACIÓN EN PSICOLOGÍA Y EDUCACIÓN
Autora:
Helena Casanova – Health & Wellness specialist coach, trainer e RH Consultant
https://linktr.ee/helena.casanova
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