O Carlos está na Servier Portugal há 3 anos. Como surgiu a oportunidade de liderar os Recursos Humanos da farmacêutica francesa e que balanço faz do seu percurso até ao momento?
Comecei o meu percurso na Servier Portugal há 3 anos. Esta experiência tem-se mostrado fantástica e tem vindo a responder exatamente às minhas expetativas. A Servier é uma empresa que tem, desde sempre, muito cuidado na forma como lida com os seus colaboradores.
Nos 12 anos que antecederam a minha entrada na Servier estive na TNT/FedEx, num setor completamente diferente (transporte expresso, logística). A TNT/FedEx foi a experiência profissional que me permitiu crescer e chegar ao cargo de Diretor de Recursos Humanos.
Apesar de estar satisfeito na TNT/FedEx na altura, a meados de 2017 decidi inscrever-me no The Lisbon MBA Católica|Nova e tentar alavancar a minha carreira, quer fosse dentro da empresa, onde existiam sempre muitas oportunidades, quer numa organização diferente.
Em conversa com a minha orientadora referi que, para mudar, gostaria de dar o salto para um setor diferente, com um ambiente multinacional e, de preferência, para uma empresa francesa, uma vez que nasci e cresci em França.
Na altura a minha orientadora estava em contacto com a Servier, que estava à procura de um diretor de Recursos Humanos. Mostrei interesse em entrar no processo de recrutamento, e tive a oportunidade de conhecer a proposta de valor da empresa, que tem uma enorme reputação em França, e também em Portugal.
Apesar da excelente reputação na empresa, na altura senti-me apreensivo por ter receio que esta procurasse alguém com um perfil diferente do meu, mas decidi arriscar e a decisão não poderia ter sido a mais acertada.
Quando cheguei à Servier encontrei uma empresa muito sénior, com idade média dos colaboradores na ordem dos 50 anos e uma antiguidade média acima dos 22 anos.
Na Servier é comum encontrarmos trabalhadores com mais de 50 anos e que estão na empresa há 25 ou 30 anos.
Eu, com menos de 40 anos, julguei que teria dificuldades em integrar-me na equipa, uma vez que aquelas pessoas já se conheciam há vários anos, mas aconteceu o oposto: as pessoas acolheram-me e reconheceram que a minha experiência poderia ser uma mais-valia.
Acabei por ser um dos elemento dinamizador da transformação que estava a acontecer na empresa. Iniciei funções em 2020, em plena pandemia, mas o facto de ser uma pessoa de ação, permitiu contribuir para a transformação da empresa e acabou por ajudar na minha integração.
Uma das maiores transformações a que assistimos foi tecnológica. O recurso às ferramentas de colaboração, os novos sistemas, ou a abordagem paperless, foram processos que aajudaram a alavancar a estratégia de transformação da empresa.
A transformação da Servier Portugal não acabou ali: mudámos recentemente o nosso escritório e mudámos a nossa forma de comunicar. Antes, todas as pessoas tinham o seu próprio gabinete, enquanto hoje trabalhamos num open space em regime flexOffice, onde não há barreiras à partilha e os colaboradores estão bastante mais motivados.
Quantas pessoas trabalham na Servier Portugal e como está estruturada a empresa?
Apesar de ser uma empresa multinacional, cada país tem o seu grupo de direção e respetivo diretor-geral. Isto significa que, na Servier Portugal, a equipa reporta toda ao diretor-geral para Portugal, que depois está alinhado com as guidelines que estão definidas a nível europeu.
Cada filial tem total liberdade e autonomia local e isso foi algo que também me cativou bastante na empresa. Primeiramente, acredito que o facto de sermos autónomos nos ajuda a ouvir mais as pessoas, a ser mais estratégicos e a colocarmos em práticas as medidas que considerarmos pertinentes para atingirmos as nossas metas.
Desde a minha entrada na Servier já foram realizadas algumas alterações à equipa, sobretudo assente no desenvolvendo das competências alinhadas com as preferências das pessoas.
Em Portugal temos cerca de 160 colaboradores, sendo que 90 são delegados de informação médica espalhados pelo País, e os restantes estão no nosso escritório, em Lisboa.
Quais os principais desafios que encontrou ao entrar na Servier numa altura em que o trabalho à distância foi imposto pela pandemia?
A palavra que traduz muito do que é o nosso propósito é “cuidar”. Penso que foi a principal mensagem dada logo no início da pandemia e que deu relevo ao seu bem-estar físico e emocional. Manter a proximidade, ainda que distante, a que as pessoas estavam habituadas, e comunicar muito regularmente e de forma transparente. Pessoalmente, não prescindo dos pontos de situação semanais curtos e focados.
Para facilitar a comunicação recorremos, obviamente, às ferramentas de colaboração, como o Teams. Realizámos, inclusive, o nosso evento anual “RiSe” num conceito virtual em estúdio. Uma primeira experiência inesquecivelmente positiva num contexto difícil.
As pessoas têm total liberdade para gerir o seu trabalho, mediante os objetivos definidos. De acordo com a evolução do seu trabalho, estou disponível para ajudar mediante qualquer tipo de desafio que a equipa esteja a sentir.
Outro fator que ajudou a quebrar as barreiras que o trabalho remoto nos trouxe foi o facto de termos abolido os formalismos. Numa empresa em que muitos trabalhadores estavam habituados, há mais de 20 anos, a terem um trato muito formal, foi uma mudança de mentalidade muito positiva para criar ainda mais relação entre as pessoas.
Este ambiente de empresa muito sã era muito evidente para quem se juntasse à empresa e facilitou muito o nosso reconhecimento enquanto empresa Top Employer.
Fundamentalmente, acompanhamento próximo, clareza nos objetivos e comunicação transparente são os pilares do funcionamento da minha equipa e que ajudaram a motivar os seus elementos a darem o melhor de si. Cuidar, um dos valores da Servier, traduz-se pelo equilíbrio positivo entre desafiar e apoiar os colaboradores.
Como é trabalhar com pessoas que estão na empresa há tantos anos? Como é que se consegue manter os colaboradores motivados durante tanto tempo?
É interessante verificar que na Servier há pessoas que estão na empresa há mais de 20 anos e cujo entusiasmo é igual ao do seu primeiro dia de trabalho. Isto demonstra muito bem o motivo pelo qual os nossos colaboradores entram na empresa e permanecem durante largos períodos.
No mercado de trabalho ainda há um estigma muito grande em relação aos profissionais mais seniores. Muitas vezes caímos no erro de pensar que alguém, por ser mais velho, terá menos capacidade de adaptação, ou uma produtividade menor, mas a minha experiência na Servier é precisamente o contrário: a grande maioria das pessoas têm o mesmo entusiasmo do seu primeiro dia.
O crescimento da Servier e os seus bons resultados, ano após ano, são fruto da experiência acumulada de todos os seus colaboradores e é por isso que a relação com os profissionais seniores é uma das minhas principais prioridades.
Se as empresas investirem, sistematicamente, apenas no talento jovem e descartarem o talento sénior, vão certamente perder alguma da expertise e do know how das suas equipas e será mais difícil alcançar todas as metas. No entanto, quando lidamos com empresas com uma média de idades a rondar os 50 anos, ou mais, temos em mãos o desafio da atualização dos postos de trabalho à medida que estes profissionais vão abandonando o mercado laboral.
O desafio da captação de talento é transversal. Felizmente, na Servier, temos uma reputação que joga a nosso favor e nos permite captar talento, apesar de também enfrentarmos alguns desafios. Para além disso, a nossa vocação em prol da saúde das Pessoas e do seu acesso a tratamentos de qualidade acrescenta ainda mais valor ao dia a dia dos colaboradores.
Que estratégias têm em curso para captar talento?
Uma das primeiras estratégias que colocámos em marcha quando integrei a Servier foi aderir ao programa de Estágios Profissionais do IEFP. A experiência tem sido bastante positiva, com a grande maioria dos estagiários a integrarem os quadros da empresa após o estágio.
Queremos receber e potenciar talentos, e por isso, aproveitamos esta porta de entrada para atrair os jovens e dar-lhes um plano de carreira sustentado dentro da empresa.
Em termos de alinhamento com os nossos colaboradores, temos uma plataforma onde cada pessoa tem o seu perfil de talento. Para o traçarmos, precisamos que cada pessoa responda a um questionário relacionado com a sua personalidade, através do qual ajudamos a conhecer e potenciar as suas preferências e apetências..
Decidimos providenciar este perfil para cada colaborador porque todas as pessoas têm talentos diferentes de acordo com a sua personalidade e, da nossa parte, o que pretendemos é alinhar o talento de cada colaborador com aquilo que lhe é exigido no âmbito profissional.
O segundo passo foi trazer maior visibilidade para Servier Portugal. Reformulámos o site e criámos redes sociais, pois não termos presença online passava uma imagem completamente errada sobre o potencial da empresa.
Mais do que no recrutamento, também em termos de cuidados de saúde, ter um website era essencial para estarmos próximos dos doentes e dos profissionais de saúde. Comunicar para as pessoas foi uma prioridade, também.
Qual considera ser a chave para o sucesso de retenção de talento da Servier?
Em primeiro lugar, boas condições de trabalho. A Servier sempre teve uma política remuneratória equitativa, o que significa que em todas as posições os salários estão acima da média.
A remuneração não é tudo, não serve para motivar, mas ajuda a que os colaboradores se sintam valorizados pelo seu trabalho.
Depois, aliado ao salário, existe uma cultura de proteção e cuidado. Na Servier a liderança está atenta às necessidades das pessoas e pronta para as ajudar no que estas necessitem.
Hoje temos também já no nosso radar aprofundar o desenvolvimento dos colaboradores, através da formação. Principalmente para a geração de colaboradores mais jovem, oferecer um bom plano de carreira através de oportunidades de desenvolvimento, incluindo experiência de colaboração internacional, fora ou a partir de Portugal, e da melhoria das suas competências técnicas e sociais é um grande benefício e faz diferença na sua vontade de ficar na empresa.
Na Servier temos também uma preocupação crescente com a responsabilidade social. As pessoas querem trabalhar em empresas com um propósito e, no caso da responsabilidade social, isto traduz-se em estratégias de diversidade e inclusão, por exemplo, ou projetos de requalificação profissional e combate ao abandono escolar.
Este tipo de iniciativas fazem a diferença na hora de contratar talento, pois os profissionais hoje querem sentir que têm um propósito e que a sua empresa partilha dos mesmos valores. Assim, propósito, competências e autonomia são a chave conhecida da motivação.
Em relação a 2023, que metas e objetivos é que a Servier tem em termos de gestão de pessoas?
Na Servier temos uma estratégia até 2030. O ano de 2030 parece distante, mas está quase a chegar e, para conseguirmos os nossos objetivos, temos de começar a trabalhar já hoje.
A aposta na tecnologia e na agilidade é fundamental e um dos nossos principais investimentos. Queremos acompanhar a tecnologia, inovar e transformar os nossos processos.
Estamos também comprometidos com o engagement dos nossos colaboradores. Queremos que as nossas pessoas tenham vontade de vir trabalhar todos os dias e, para tal, iremos investir nos nossos Recursos Humanos, formar os nossos colaboradores e ajudá-los a serem melhores e estarem motivados. Temos o desejo de nos tornar plenamente uma Learning Company, onde cada momento e cada pessoa se torna uma oportunidade de aprendermos.
A Servier está também a investir na área de responsabilidade social e quer implementar um conjunto de iniciativas nesta área para termos um impacto social significativo.
O nosso modelo de trabalho é híbrido e flexível, e estas novas formas de trabalhar são também uma prioridade para a Servier. Queremos continuar a promover a colaboração e a flexibilidade dos novos modelos de trabalho.