A pandemia trouxe para a ribalta a necessidade de se olhar para a saúde mental sob um ponto de vista coletivo. Os sucessivos confinamentos levaram a um maior isolamento e patologias como depressão e ansiedade tornaram-se cada vez mais presentes.
Paralelamente, o burnout está também cada vez mais na ordem do dia: chefias tóxicas, falta de feedback, volume de trabalho elevado e o facto de as pessoas estarem sempre online, estão a levar ao limite muitos profissionais, que não conseguem, muitas vezes, traçar a linha entre a vida pessoal e profissional (ou mesmo usufruir da sua vida pessoal como gostariam).
De acordo com um estudo publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses no início do ano, o stress e os problemas de saúde psicológica custaram 5,3 mil milhões de euros por ano às empresas portuguesas em 2022. Tal pode ser explicado pelo facto de a doença mental ter um alto impacto na taxa de absentismo: segundo o documento, denominado de “Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações – Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho”, estima-se que os colaboradores faltem 7,4 dias por ano devido ao stress e/ou problemas de saúde psicológica, sendo que o presentismo pode chegar aos 15,8 dias por ano. Estes números são superiores aos verificados em 2020.
Os cálculos da Ordem dos Psicólogos Portugueses podem estar, porém, abaixo dos valores reais que o impacto da saúde mental tem para as organizações, uma vez que não contabilizam custos diretos, como os gastos com serviços de saúde, pagamento de seguros, problemas legais ou pagamento de multas e compensações.
Segundo Ana Bispo Ramires, especialista em “Psicologia e Performance” e fundadora do Grupo de Atuação em Psicologia e Performance – o GAPP- que, entre outros serviços, realiza um trabalho de consultoria junto das organizações, “o tecido empresarial português continua a apostar numa visão a curto-prazo (ex: objetivos) em vez de privilegiar estratégias de crescimento sustentado a médio-longo prazo”.
Para a especialista, os problemas de saúde mental em Portugal não são um assunto novo. O baixo nível de inteligência emocional, identifica, é sistémico, mas veio a agravar-se ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, vamos assistindo a uma consciencialização também maior em relação a estes problemas e à necessidade de apostar em estratégias e iniciativas que atuem em diferentes frentes: prevenção e mitigação.
O que devem as empresas ter em conta para promover a saúde mental das equipas?
Para as empresas, isto significa implementar uma estratégia holística focada na criação de um ambiente de trabalho saudável. Para tal, é fundamental que, em primeiro lugar, auscultem os colaboradores de forma a traçar um perfil da sua saúde mental.
“Planear intervir em saúde mental tem de implicar uma reflexão aprofundada acerca do tema para identificar o melhor percurso e os melhores recursos para começar a mudar a importância dada a este tema (cada empresa tem as suas próprias necessidades)”, explica Ana Bispo Ramires.
Para a profissional, aquando do investimento nesta área, não existem soluções “one size fits all” e é necessário ir ao encontro das reais necessidades da empresa e dos seus recursos humanos e, além de apostar em soluções de acompanhamento psicológico para os colaboradores, por intermédio de profissionais especializados, e possibilitar um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, importa atuar do ponto de vista preventivo.
“Importa trazer para as organizações a possibilidade de existirem lideranças verdadeiramente sintonizadas com o bem-estar dos colaboradores, impactando positivamente na criação de contextos de segurança inter e intra psicológica os quais, sabemos, alavancam culturas organizacionais de facto bem-sucedidas”, reforça Ana Bispo Ramires.