Autora: Rita Soares, Head of People Recruiting, Development & Training no El Corte Inglés Portugal
E
sta é uma palavra que, cada vez mais, tem inundado as práticas de gestão no âmbito dos Recursos Humanos. Facilmente ouvimos e utilizamos esta palavra, no seu conceito original ou em conceitos derivados. Expressões como “Gestão por competências”, “Competências core, específicas ou transversais”, “Entrevista de Competências”, “Matriz de competências”, estão hoje muito presentes nas agendas e prioridades (e ainda bem) dos profissionais da área.
Mas, afinal, o que é competência? São variadíssimas as definições que encontramos, optando eu por partilhar aquela que considero a mais clara e completa: “competência é a junção de conhecimentos, atitudes e habilidades” – definição à qual acrescentaria que se deve traduzir numa ação com resultados, observáveis.
Confesso que a parte que mais me agrada nesta definição, com tudo o que isso implica, é ter incluída a dimensão de atitude. Não basta saber, nem saber fazer, é preciso querer fazer. E é isto que marca a diferença entre competência e conhecimento, entre competência e habilidade, apenas. É isto que dá ao comportamento a importância que ele tem e, em última análise, é isto que marca a diferença entre as pessoas. Quase que me atrevo a dizer que a “competência” é, em sentido lato, e tendo em conta o seu alcance no desenvolvimento profissional e pessoal, uma espécie de “Santo Graal” dos RH. A sua gestão, quando bem feita, quase que tem poderes mágicos.
A somar a isto, e a reforçar a sua força motriz, ainda há que ter em conta os níveis de consciência da competência. Uma pequena grande variável, com um contributo inquestionável nas dinâmicas que se podem estabelecer para promover a evolução do potencial individual e das equipas.
A “competência” é, em sentido lato, e tendo em conta o seu alcance no desenvolvimento profissional e pessoal, uma espécie de “Santo Graal” dos RH
Pensemos sobre isto: num primeiro nível não há competência e não se sabe que não se sabe – estamos perante a incompetência inconsciente; num segundo nível, essa incompetência torna-se consciente – passamos a saber que não sabemos; no nível a seguir, adquirimos a competência e sabemo-lo – a competência tona-se consciente; no quarto nível, a competência torna-se tão natural que já nem damos conta que a temos – atingimos, aí, o estágio de competência inconsciente.
Ora, ao querermos trabalhar a competência, coloca-se o desafio de sabermos reconhecer e gerir estes níveis de consciência. Como é que promovemos uma competência numa determinada pessoa, se ela não a tem e acha que sim? Faz sentido explicitar? Fazer com que a pessoa ganhe consciência da sua incompetência? Ou é preferível atuar apenas nas competências já existentes e das quais a pessoa tem perfeita consciência? E o que é que se faz, em termos de desenvolvimento, às pessoas que já estão mecanizadas numa determinada competência, tendo atingido um estádio de acomodação que compromete a evolução?
E o quê? E se? E o que é que resulta melhor? E por onde começamos?
Estão a ver? Tantas interrogações, a demonstrar a complexidade da gestão necessária em torno do tema da “competência”. Conforta-me saber que, se tenho tantas questões, é porque tenho consciência delas (neste momento a fazer um “Lol”) e, em consequência, consciência do que não sei (que é, já vimos, tão importante como ter consciência do que sei).
Há já alguns autores que falam de um quinto nível. O nível em que se reúne o conhecimento de forma organizada, para que este volte a ser consciente, possibilitando-se assim um upgrade no desenvolvimento.
Pois eu aqui, nestas conjugações todas, ainda acrescentaria uma outra dimensão. A humildade. Sim, a humildade. Em qualquer um dos níveis, para se ganhar consciência de que não se tem a competência, ou de que é preciso voltar a ganhá-la é preciso humildade. Humildade para reconhecer que não se sabe e é preciso saber. Humildade para saber que se sabe mas há mais para saber e há quem nos possa ensinar. Humildade para reconhecer que não somos seres acabados, e ainda bem. Humildade para reconhecer que o outro também sabe, e ainda bem. Humildade para reconhecer que não somos mais, nem menos. Somos diferentes.
No fim, é essa humildade que nos permite evoluir, no que melhor sabemos fazer e ser, e sentirmo-nos realizados e felizes com essa conquista. Graças à competência, sim, mas graças a muito mais do que isso!
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