OUniverso de trabalhadores com qualificação superior aumentou 8% em Portugal, entre 2011 e 2021. A presença de licenciados no mercado de trabalho cresceu transversalmente em todas as profissões qualificadas, mas também nas áreas das vendas e “outras profissões elementares”, como estafetas, bagageiros e distribuidores, traçando um cenário de sobre qualificação do emprego.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), no mesmo período, Portugal também aumentou a taxa de feminização do emprego. Estas são boas notícias, em matéria de qualificação e emprego, que decorrem da análise dos resultados definitivos do XVI Recenseamento Geral da População e VI Recenseamento Geral da Habitação – Censos 2021, divulgados no dia 23 de maio pelo Instituto Nacional de Estatística.
No entanto, o documento também identifica más notícias. Se é verdade que os “Especialistas das atividades intelectuais e científicas” foram, no período analisado pelo INE, o grupo profissional em que se verificou o maior crescimento da população empregada (3,3 p.p.), importa destacar que o segundo grupo com maior aumento foi o dos trabalhadores não qualificados que passou a representar 15,4% da população empregada no país.
O aumento da escolaridade – traduzido não só no reforço da população com ensino superior, mas também secundário e pós-secundário – foi uma das principais alterações com impacto no panorama do mercado de trabalho nacional entre 2011 e 2021. Durante este período, a percentagem da população com 15 ou mais anos detentora de qualificação superior aumentou de 13,9% para 19,8%.
População empregada com 15 ou mais anos por nível de escolaridade

Restringindo a análise apenas ao universo da população empregada em 2021, os dados dos Censos 2021 mostram que a proporção com ensino superior ascendia a 30,3%. Um crescimento de 8,0 p.p. face aos 22,3% apurados em 2011.
Este incremento da população empregada com ensino superior foi transversal a todos os grupos profissionais, mas assumiu particular relevo no grupo dos “Representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos” (18,6 p.p.), no “Pessoal administrativo” (11,8 p.p.) e nos “Técnicos e profissões de nível intermédio” (11,2 p.p.).
População empregada por nível de escolaridade

Os “Especialistas das atividades intelectuais e científicas” foram o grupo profissional que registou maior o maior crescimento da população empregada (3,3 p.p.). Mas merece também destaque o grupo dos “Especialistas em finanças e contabilidade” (151,8%), onde se incluem profissões como contabilistas, consultor financeiro, analista financeiro e o grupo dos “Especialistas em organização administrativa” (136,9%), que registaram crescimentos na última década muito significativos.
Já no grupo dos “Técnicos e profissões de nível intermédio” os acréscimos mais significativos ocorreram nos “Técnicos e assistente de veterinários” (165,2%) e nos “Técnicos de atividade física e de desporto” (91,1%).
Grupo dos “não qualificados” ganha peso na população empregada
Mas nem tudo é céu azul e os dados do organismo oficial de estatística, que esta terça-feira completa 88 anos de vida, mostram que a percentagem de “Trabalhadores não qualificados” entre a população empregada também aumentou no período considerado, passando a representar 15,4% (mais 2,3 p.p. do que em 2011).
Neste grupo, há a destacar o reforço expressivo de algumas profissões “não qualificadas”, como os “Assistentes de preparação de refeições” (281,8%), que inclui as profissões de “Preparador de refeições rápidas” e “Ajudante de cozinha”.
População empregada por grupo profissional

Em sentido inverso, o maior decréscimo da população empregada observou-se no grupo dos “Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices” (-2,1 p.p.), registando-se também uma redução do número de operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem, nos profissionais da agricultura e pescas e das forças armadas.
“Os decréscimos mais significativos foram registados em algumas profissões relacionadas com a agricultura e a criação de animais, com quebras acima dos 80%, como sejam Agricultor e criador de animais de produção combinada, de subsistência e Diretores de produção na agricultura, produção animal, floresta e pesca”, sinaliza o INE.
Sobre qualificados para a função
Paralelamente, os dados apontam para um aumento significativo da população com escolaridade superior nos “Empregados de escritório, secretários em geral e operadores de processamento de dados” (14,4 p.p.) e no “Pessoal de apoio direto a clientes” (12,5 p.p.), onde se incluem as profissões “Empregado dos centros de chamadas” (call-center) e rececionistas. No mesmo período, indica o INE, assistiu-se ainda ao acréscimo de trabalhadores com ensino superior nos “Vendedores” e em “Outras profissões elementares”, onde se incluem, por exemplo, estafetas, bagageiros e distribuidores. Segundo o organismo de estatística, este reforço “pode indiciar alguma sobre qualificação do emprego”.
Outro aspeto que os dados dos Censos 2021 também confirma é o envelhecimento da população empregada em Portugal. Numa década, a idade média da população empregada no país subiu de 41,4 anos, em 2011, para 44,2 anos, em 2021, o que traduz o progressivo envelhecimento da população residente. A análise detalhada por profissão aponta o grupo dos “Professores” como aquele que restou maior aumento da idade média para 48,7 anos, mais 6,9 anos do que em 2011. O subgrupo “Professor dos ensinos básico (2º e 3º ciclos) e secundário” registavam em 2021 com uma média etária de 50,2 anos (42,8 anos, em 2011).
A desagregação dos indicadores por género mostra também que as mulheres ganharam peso na população empregada face a 2011. O efeito é mais notório em grupos como o dos “Representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos” (+8,3%) e no grupo “Técnicos e profissões de nível intermédio” (+5,4%).
Por último, os Censos 2021 lançam um sinal de alerta: o mercado de trabalho está mais polarizado. Na última década, vinca o INE, “a população empregada entre os 15 e 29 anos aumentou principalmente em dois grupos profissionais, o dos ‘Especialistas das atividades intelectuais e científicas’ (de 16,1% para 19,2%) e o dos “Trabalhadores não qualificados” (de 11,8% para 15,6%)”, sinal de que de uma alguma polarização no mercado de trabalho neste grupo etário, a que é preciso estar atento.