Marta Frazão
Principal da Mercer
É necessário estimular a poupança. Quando falamos em sustentabilidade de sistemas públicos de protecção social, um dos principais pressupostos associados é a demografia. No caso português, como na generalidade dos países europeus, a baixa natalidade e a expectável evolução favorável da esperança de vida são fatores que criam pressão sobre a Segurança Social e que irão condicionar os níveis de benefício a atribuir pelo primeiro pilar.
Com uma pirâmide demográfica menos favorável em termos de contribuição, é crucial criar uma maior cultura de poupança e reforçar os níveis de proteção no âmbito do segundo e terceiro pilar (empresas e indivíduo, respetivamente).
E estarão as empresas e os indivíduos preparados para este desafio? Se as empresas poderão ter algum nível de perceção deste desafio, as pessoas provavelmente ainda não. De acordo com um estudo elaborado pela Mercer, em Portugal, concluímos que:
. Cerca de 40% das pessoas entrevistadas esperam ter uma pensão estatal superior a 75% do salário final;
. 40% gostariam de se reformar entre os 56 e 60 anos;
. 80% acham que a data de reforma deve ser antecipada com 40 anos de carreira.
Quer isto dizer que os portugueses têm expectativas de vir a receber valores de pensões da Segurança Social que se desviam claramente do que os dados atuais indicam e, ainda mais, do que são as expectativas de evolução futura das pensões estatais. A este facto acresce a intenção de uma reforma anterior à idade normal de reforma que traria, obviamente, uma redução dos valores das pensões.
Estes resultados extraídos do estudo provam que, na grande maioria, as pessoas não têm consciência dos desafios que se avizinham. Aliás, de acordo com o próprio estudo, 90% admitem que estão mal informados sobre como é calculada a pensão e cerca de 60% dizem desconhecer estudos sobre a sustentabilidade da Segurança Social.
Por outro lado, embora se tenha verificado um aumento das empresas que criam mecanismos para estimular a poupança para a reforma, ainda são poucas as empresas que disponibilizam como parte do seu plano de benefícios um plano de pensões, ou seja, a atribuição deste benefício ainda é um fator que ajuda a empresa a diferenciar-se e a tornar-se mais competitiva na retenção e atração de talentos.
O que será então necessário para que os níveis de poupança para a reforma aumentem?
Para além de eventuais estímulos à poupança, que podem vir do Estado ou mesmo ser dados pela própria empresa, é fundamental reforçar-se a informação e educação sobre estes temas. Desta forma existirá maior consciencialização e apetência para poupar, com resultados positivos na gestão e planeamento atempado da reforma.
Infelizmente ainda temos um caminho longo a percorrer em termos de informação e mudança de mind set, mas é muito importante começar a poupar e a poupar desde cedo. Na realidade o que interessa é percebermos que pequenos gestos de poupança desde cedo poderão conduzir a impactos muito significativos na reforma. Por exemplo, por comparação, concluímos que se começarmos a poupar aos 40 anos de idade, o esforço financeiro necessário para atingir o mesmo valor à idade da reforma terá que ser três vezes superior ao que teríamos que fazer caso tivéssemos começado a poupar aos 20 anos.
Caso estas poupanças sejam realizadas no âmbito de um plano de pensões contributivo de uma empresa, com os mesmos níveis de contribuição poder-se-ão alcançar poupanças acumuladas maiores para a mesma taxa de esforço do colaborador.