Realizou-se, na quinta-feira, a segunda edição do encontRHo HRFuture, na Sociedade de Geografia de Lisboa, que juntou líderes empresariais e profissionais de recursos humanos.
Na segunda edição do encontRHo HRFuture, que se realizou na quinta-feira, na Sociedade de Geografia de Lisboa, ficou claro que é a união entre pessoas e empresas que as conduz ao sucesso. À mesa da imponente Sala Portugal, juntaram-se líderes de organizações de diferentes setores, para discutirem o seu papel e o dos profissionais de recursos humanos no futuro das organizações, considerando fatores como a transformação digital, a convivência de gerações nas equipas de trabalho e a sua felicidade e bem-estar.
E porque muito se fala em digitalização, é necessário “pensar as coisas de forma diferente”, afirmou Paula Oliveira, CEO da SDO Consulting. “As organizações são, hoje, um organismo em constante mutação, por isso devem pensar em mudanças de fundo”. Para a diretora-geral da consultora, “a digitalização é fundamental”. “Vai fazer parte de tudo o que fazemos, mas quem manda somos nós. Não vejo a digitalização como uma ameaça, antes como uma grande oportunidade”, acrescentou.
Para que a transformação das organizações ocorra os profissionais têm também de se transformar. “A única forma das empresas se transformarem é através da transformação das pessoas”, referiu Rui Alheiro, executive board member e COO da Proef Group. Mas, para isso, “as pessoas precisam de motivação, caso contrário fazem resistência à mudança”, esclareceu o responsável da empresa energética.
“Quando integramos o digital na nossa atividade, temos de avaliar se a sua entrada serve o nosso propósito”, alertou Pedro Moura, managing director da Merck, que reconheceu que “o digital tem um papel fundamental no aumento do awareness em diferentes canais”, como foi exemplo a campanha de esclerose múltipla que a farmacêutica desenvolveu.
Líderes preocupados com os seus profissionais
Respeitar para ser respeitado e dar para receber são dois ditados populares que se aplicam à relação estebelecida entre líderes das organizações e os seus profissionais. Sem perder de vista estes lemas é assim que Manuel Tarré, chairman of the board of directors da Gelpeixe, tem liderado e gerido a sua empresa.
Num ano, a empresa de alimentos congelados faturou 53 milhões de euros com 170 pessoas e foi eleita, em 2012, a melhor empresa de média dimensão para trabalhar em Portugal. “Não foi porque produzimos mais e pelas vendas alcançadas, mas sim porque tratamos bem as pessoas”, sublinhou o presidente do conselho de administração. Seguros de saúde, refeições grátis na empresa, complementos de reforma, medicamentos mais baratos entregues no local de trabalho e o pagamento dos estudos aos filhos dos colaboradores com boas notas são alguns dos exemplos que refletem a preocupação da empresa com os seus colaboradores
“A pessoa adoece e a empresa trata dela, o que faz com que quando precisamos esteja disponível. Se a pessoa tiver um incidente em casa, sabe que a empresa vai ajudar”, explicou o líder da Gelpeixe, em quem os seus profissionais depositam uma “grande confiança”. Ao longo da vida, Manuel Tarré avaliou e decidiu com bom senso. “Houve sempre o pensamento de querer ficar com a empresa e não de ficarmos ricos”, confessou o homem que, em conjunto com a filha, Lídia Tarré, gere a empresa familiar fundada em 1977 pelo pai, Francisco Tarré.
Rita Nabeiro é CEO da Adega Mayor e uma das suas preocupações é o futuro dos profissionais que trabalham na empresa. “Como gestora tenho de pensar no futuro daquelas pessoas e os recursos humanos devem ajudar-me nisso e contribuir com a sua visão”, afirmou. Para a diretora-geral, os recursos humanos têm de pensar em conjunto com as restantes áreas. “Como é que desenhamos os modelos de futuro? Se calhar com o envolvimento de todos os envolvidos, nomeadamente dos RH, que devem olhar para as pessoas e trabalhar em estreita ligação com os restantes departamentos”, realçou a criativa que, motivada pela idade e sabedoria do seu avô, o Comendador Rui Nabeiro, abandonou a agência de comunicação onde exercia a sua atividade profissional e abraçou a liderança da Adega Mayor.
Numa empresa com diferentes idades, géneros e formações, “o desafio, na gestão, é gerir considerando toda a diversidade”, referiu Rita Nabeiro, para quem o papel do gestor “deve ser o de desenlaçar a realidade que está por detrás de cada trabalhador”. “Mas também estarmos atentos aos sinais. O mais importante é ouvir as pessoas e respeitá-las”, afirmou.
Para a CEO da Adega Mayor, é preciso “saber acolher as gerações mais novas, que exigem mais das empresas, sem esquecer os que estão dentro da empresa”. “Temos trabalhadores agrícolas e trabalhadores mais qualificados e todos fazem parte da mesma equipa”, disse Rita Nabeiro, que considera que “a alma é o segredo do negócio”.
A felicidade no local de trabalho
“As empresas não olham para o estado de equilíbrio entre o corpo e a mente do indivíduo e não têm ferramentas para ajudar os colaboradores”, começou por dizer Pedro Brás, CEO da TEAM24. Mas os líderes empresariais presentes evidenciaram a preocupação que apresentam com os seus profissionais, através de gestos diários e iniciativas que contribuem para o seu bem-estar e felicidade.
Mas o que é a felicidade? “A felicidade é algo muito intrínseco a nós. Não se procura. Na Samsys levamos a felicidade das pessoas muito a sério e trabalhamos uma série de indicadores para que as pessoas tenham a capacidade de ser felizes, porque a felicidade nasce nas suas escolhas”, começou por dizer Samuel Soares, CEO da Samsys.
Também Ricardo Parreira, CEO da PHC, considera que “a felicidade depende de cada um”. “Na PHC, vemos a felicidade em função de três vetores: as pessoas, os líderes das pessoas e a gestão de pessoas”.
Na Bresimar Automação, os que lá trabalham não são só felizes. “Somos entusiastas e é isso que tentamos incutir nas pessoas”, disse Carlos Breda, CEO da empresa que, em 2016, foi considerada a mais feliz. “A felicidade é contagiante e o entusiasmo ainda mais”, destacou.
Para Carlos Breda, não há maus colaboradores. Há maus chefes. O líder da empresa de comércio de equipamentos e sistemas para automação industrial considera que “é importante saber criar um espírito de entreajuda e dizer às pessoas que, apesar das dificuldades, há soluções”. “Estarmos presentes é uma atitude diária, como em casa com a nossa família”, afirmou.
Planeadas com antecedência, evitando a repetição, as iniciativas desenvolvidas pela PHC estimulam o envolvimento dos colaboradores, “uma das coisas mais importantes para a felicidade”, referiu Ricardo Parreira. “Temos coaching, mentoring e iniciámos mindfulness no programa My Hapiness. Promovemos, de acordo com o nosso slogan, o Fun at Speed, um conjunto de iniciativas que ocorrem durante o ano só para divertir as pessoas. Temos uma happy hour, workshops com dicas de vestuário e aulas de surf. Desenvolvemos, também, um telejornal de 30 minutos, onde a direção fala, em livestream, das vitórias e das derrotas da PHC”.
Para avaliar os resultados destas iniciativas, de 15 em 15 dias, perguntam às pessoas como é que se sentem. “A medição temporal naquele momento pode não valer muito, mas conseguimos perceber que departamentos estão mais felizes”, esclareceu o diretor-geral da multinacional portuguesa.
Também na Samsys desenvolvem dezenas de ações por ano que consideram “acelaradoras” da promoção do bem-estar dos seus profissionais. “Provemos a prática do desporto, nomeadamente do atletismo, BTT, crossfit, futebol e natação e, de mão dada com a alimentação saudável, oferecemos uma cabaz de fruta fresca no início do dia”, explicou Samuel Soares. E acrescentou: “Estas iniciativas potenciam as ligações humanas, porque as pessoas conhecem-se melhor e interagem para além da esfera do trabalho”.
No entanto, são as práticas do dia-a-dia “o maior contributo para a felicidade”. “Gestos praticados diariamente potenciam a felicidade, como a atenção que damos às pessoas e preocuparmo-nos genuinamente com elas”, afirmou o diretor-geral da consultora. “Devemos fazer isto não porque vamos atingir os objetivos, mas porque é o correto. Se tem efeitos secundários é bom e agradável”, concluiu Samuel Ferreira.