A pandemia da Covid-19 perturbou os mercados de trabalho à escala mundial durante 2020. O novo estudo do McKinsey Global Institute (MGI) procura compreender o impacto da pandemia no futuro do trabalho no longo prazo.
«O futuro do trabalho após a Covid-19» é o primeiro relatório de uma série que o MGI irá divulgar, e que explora o impacto da pandemia na economia no longo prazo. Baseando-se em investigação prévia, este relatório identifica o impacto duradouro da Covid-19 na procura de mão de obra, no mix de ocupações e nas competências da mão de obra necessárias em oito países – China, França, Alemanha, Índia, Japão, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos – nos quais se situa quase metade da mão de obra global, e que representam mais de 60% do PIB global.
O vírus destacou a importância da proximidade física no local de trabalho, causando as maiores interrupções imediatas nas funções que exigiam trabalhar em proximidade com os clientes ou colegas de trabalho em espaços lotados. A investigação recorre a uma nova abordagem que classifica as ocupações com base nas interações físicas que exigem. Os empregos que exigem uma maior proximidade, tais como caixas em lojas, empregados de mesa e cozinheiros em restaurantes e rececionistas em hotéis, podem sofrer as maiores perturbações após a pandemia devido a mudanças persistentes no comportamento dos clientes e do negócio.
- O trabalho remoto veio para ficar. As empresas já estão a conceber modelos híbridos de trabalho remoto e o MGI estima que cerca de 20 a 25% dos trabalhadores nas economias avançadas poderiam exercer as respetivas profissões a partir de casa na maior parte do tempo. Isto poderá afetar os empregos em escritórios, os transportes públicos, e os restaurantes e o comércio a retalho em áreas urbanas, se menos trabalhadores se deslocarem para empregos em escritórios.
- As viagens de negócios podem diminuir. As reuniões virtuais poderão substituir 20% das viagens de negócios, o que se repercutirá em restaurantes, hotéis e companhias aéreas.
- A geografia do trabalho poderá mudar. Antes da pandemia, os trabalhadores muito qualificados eram atraídos para as maiores cidades do mundo. Agora, o trabalho remoto viabilizado por ferramentas digitais oferece a oportunidade de os trabalhadores viverem em qualquer lugar e de as empresas recrutarem de forma mais alargada.
- O comércio eletrónico e as transações virtuais seguem uma nova trajetória. A Covid-19 forçou os consumidores e as empresas a migrar rapidamente para a «economia de entrega» facilitada pela dimensão digital, que está a deslocar os empregos de salários reduzidos das lojas e restaurantes para os armazéns e transportes. Nos países em estudo, o comércio eletrónico cresceu tanto em 2020 quanto nos três a cinco anos anteriores juntos, e a entrega de compras e alimentos, os serviços bancários eletrónicos, a telemedicina, e o entretenimento em streaming dispararam. Os inquéritos da McKinsey determinaram que 50 a 80% dos consumidores afirmam que continuarão a utilizar estes canais devido à conveniência que oferecem.
- É provável que o trabalho independente e temporário se expanda. A economia de entrega e o trabalho remoto já ampliaram as oportunidades de trabalho para os trabalhadores independentes. Cerca de 70% dos 800 executivos globais inquiridos pela McKinsey em julho de 2020 afirmaram esperar contratar mais trabalhadores independentes para projetos durante os próximos dois anos.
- A automatização e a IA poderão aumentar. As empresas começaram a adotar a automatização e a IA para reduzir a densidade dos locais de trabalho e para lidar com os picos de procura, e isto pode acelerar à medida que a economia recupera. As empresas de transformação de carne já instalaram robótica para reduzir a densidade nas instalações transformadoras, e os centros de atendimento telefónico já implementaram chatbots. O maior crescimento na automatização pode ocorrer na produção interna e no armazenamento, dado que as empresas pretendem aumentar o espaço entre os trabalhadores e ainda assim acompanhar os aumentos da procura. O inquérito da McKinsey realizado em julho mostrou que 68% dos executivos indicaram ter planos para aumentar a adoção da automatização e da IA, havendo percentagens igualmente consideráveis de inquiridos que indicaram contar com uma maior implementação de ferramentas de trabalho digitais, plataformas de comércio eletrónico e plataformas digitais de supply chain.
Em comparação com o período anterior à pandemia, as tendências impulsionadas pela Covid-19 poderão criar perdas de empregos muito maiores em profissões com salários mais reduzidos no serviço alimentar, no serviço ao cliente, e no setor hoteleiro, compensadas apenas parcialmente por um maior crescimento líquido de empregos em transportes e entregas. Por outro lado, é provável que as profissões de elevado crescimento em cuidados de saúde e as profissões STEM se expandam fortemente.
No entanto, para se qualificarem para estas profissões, os trabalhadores deslocados de empregos de remuneração reduzida e média terão de adquirir competências diferentes e superiores. Alguns trabalhadores terão de encontrar empregos em escalões salariais muito mais elevados que exigem competências especializadas e uma maior capacidade socio emocional.
Até 25% mais trabalhadores podem precisar de encontrar emprego em novas profissões, em comparação com as estimativas anteriores à pandemia. O impacto pode recair desproporcionadamente sobre os trabalhadores com salários reduzidos no comércio a retalho, nos serviços alimentares, no setor hoteleiro e na administração de escritórios.
«No longo prazo, os efeitos do vírus podem reduzir a quantidade de empregos com salários reduzidos disponíveis que anteriormente serviam de rede de segurança para trabalhadores deslocados», afirma Susan Lund, sócia do McKinsey Global Institute e coautora do relatório. «No futuro, estes trabalhadores terão de se preparar para encontrar trabalho em profissões com salários mais elevados que requerem competências mais complexas, tais como empregos em cuidados de saúde, tecnologia, ensino e formação, trabalho social e recursos humanos.»
«A pandemia não só aumentará o número de transições ocupacionais, como também tornará o desafio da requalificação mais intimidante. Os efeitos da mesma serão mais graves para os trabalhadores mais vulneráveis», refere Anu Madgavkar, sócia do MGI e coautora do relatório. «Tal insta as empresas e os decisores políticos a ajudar estes trabalhadores a adquirir as competências mais necessárias no futuro.»
O relatório também discute ações que as empresas, os decisores políticos e os educadores podem considerar para enfrentar o desafio que se avizinha em matéria de requalificação. As empresas poderão adaptar modelos já em vigor, contratando trabalhadores com base em competências e não em títulos académicos, e os decisores políticos poderão reconfigurar programas de emergência que apoiem os trabalhadores durante a pandemia, para oferecer incentivos que fomentem a requalificação profissional e a aprendizagem adicional. Trabalhadores mais qualificados e mais bem pagos poderão contribuir para uma maior prosperidade económica e igualdade social.
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