Por: Marcelo de Freitas Nóbrega, diretor de recursos humanos do McDonald’s na América Latina
A nossa vida já foi bem mais fácil. Basta olhar à volta: no ambiente dos negócios, enfrentamos o desafio das mudanças radicais e aceleradas, com robots e sistemas de inteligência artificial a transformar e até eliminar empregos. Na esfera social, os laços ficaram mais instáveis e superficiais – nada parece feito para durar. Nesta conjuntura, duplamente volátil, a insegurança tornou-se parte estrutural da nossa vida. Como vamos agir, nós que fomos educados para gerir as nossas carreiras de forma linear e progressiva?
Para traduzir este novo ambiente imprevisível das empresas e executivos, o futurólogo Bob Johansen fez uso da sigla VUCA (em inglês, Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity), usada nos meios militares. Diante da pressão por resultados, o mundo corporativo apodera-se do que está ao seu alcance para garantir volume de vendas, lucros e crescimento. Fusões, aquisições, investimento e desinvestimento, spin-offs, incubadoras, venda ou compra de marcas, expansão geográfica, joint-ventures – vale tentar de tudo, menos fingir que tudo continua como antes. Porque não continua: o mercado de trabalho está a ser redesenhado e é claro que isto traz consequências para todos os envolvidos.
O sociólogo Zygmunt Bauman falava do mesmo fenómeno quando apelidou a nossa realidade pós-moderna de “mundo líquido”. Os vínculos estão menos leais e menos duradouros, como se escorressem entre os dedos. O ritmo frenético das mudanças faz lembrar uma eterna corrida, sem linha de chegada. Diante dos novos arranjos e vínculos de trabalho (freelancers, jobsharing, nómadas digitais, empregados bumerangues, jornadas parciais e temporárias), só nos resta escolher: ser levados pela corrente ou assumir o leme, no barco da mudança?
A boa notícia é que, como a “matéria líquida” da metáfora de Bauman, o talento também é capaz de contornar obstáculos e ocupar os espaços vazios (as oportunidades) que encontra. E isso, em termos individuais, significa ser capaz de se adaptar às novas circunstâncias. Mas, para funcionar, esse poder de adaptação precisa de contar com sua prima-irmã, a versatilidade, que é a qualidade de fazer diferente. Juntas, as duas competências vão garantir ao profissional mais agilidade na aprendizagem e um melhor desempenho em situações inéditas.
Outra boa notícia, no “mundo novo” de Bauman: em estado líquido, um material possui mais energia do que no estado sólido – para não falar da liberdade de movimentos e na maleabilidade da sua forma. Mas como é que um profissional pode tirar proveito disso? Aumentando o gosto pelo risco e experimentando situações fora do seu domínio. Por isso, é importante estar disposto a participar em projetos multidisciplinares, atuar em empresas de diferentes segmentos, trabalhar com pessoas de outras nacionalidades e, sobretudo, testar novas metodologias e ferramentas de trabalho. Aprenda a pedir feedback, escolha um mentor e, se precisar, contrate um coach. Assim, mesmo que a palavra carreira perca o significado atual, estará a acumular o novo capital em alta no mercado profissional: um reportório valioso, feito das diversas experiências onde aplicará os seus talentos.
Mas o novo traz sempre desconforto. Por isso, pense grande, mas comece pequeno, em ambientes de teste controlados. Depois vá aumentando aos poucos os graus de dificuldade e a novidade. Afinal, se tudo muda e se liquefaz, uma coisa pode permanecer: a sua determinação de vencer e se reinventar.
Artigo publicado na revista GV Executivo, da Fundação Getulio Vargas, vol. 16, n.º 5, setembro-outubro 2017.
[button style=’red’ url=’https://rhmagazine.pt/’ icon=’entypo-left’]Voltar à homepage[/button]
[posts title=’Mais artigos de interesse:’ tag=’artigo’ layout=’grid-3-col’][/posts]
a foto é da obra da artista nele azevedo: https://www.neleazevedo.com.br/monumento-minimo
seria legal colocar o crédito
[]s