Joana Azevedo é engenheira civil, estudante e desportista de competição. Neste momento, está a tirar o MBA na Porto Business School ao mesmo tempo que se prepara para competir no campeonato mundial de vela. Numa altura em que o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é cada vez mais desejado, como se concilia a vertente de executiva, estudante e desportista de competição?
Joana Azevedo faz parte de uma equipa de quatro jovens que se prepara para marcar presença no campeonato mundial de vela, que decorrerá em Cascais, no mês de agosto. Em 2020, foram campeãs nacionais femininas e, este ano, pretendem não só renovar o título, mas também lutar pelo lugar no pódio no campeonato mundial.
A Joana é engenheira civil, está neste momento a tirar um MBA na Porto Business School e prepara-se para competir, com a sua equipa, pelo título vencedor no campeonato mundial de vela. De que forma concilia esta vertente de executiva, estudante e desportista de competição?
Desde que comecei a trabalhar, sempre mantive o desporto e o trabalho. Anteriormente, cheguei a conciliar os dois com uma pós-graduação, mas tirar o MBA foi uma oportunidade que a pandemia me trouxe de poder investir na minha formação e voltar ao mercado do trabalho com mais know-how e skills, para conseguir ser uma referência ao nível da liderança.
A vela faz parte da minha vida desde os meus cinco anos de idade. Não me conheço sem a vela, e pode parecer um cliché, mas é mesmo verdade. Lembro-me de estar sempre no mar, ou a pensar no mar, e toda a ligação que fui desenvolvendo é o que faz com que seja muito natural abdicar de, por exemplo, fins de semana de descanso ou em família para investir o meu tempo no mar a competir. Chego à segunda-feira ainda mais cansada, mas sempre com o sentimento de dever cumprido. Neste momento, estamos a reiniciar os treinos e as competições com a mesma determinação e vontade de agarrar o título de campeãs do mundo.
Em 2020, a Joana e a sua equipa ganharam o título de campeãs nacionais femininas, no campeonato nacional de vela, correto? Já na altura conciliava todas estas vertentes?
Correto. Na altura estava a trabalhar na gestão de aberturas de lojas a nível internacional, numa empresa de acessórios de moda, e conciliava as viagens pelo mundo com os treinos. Temos a sorte de estar associadas à SailCascais, que tem feito um trabalho excecional com o apoio aos velejadores e à classe SB20 em Portugal, a organizar campeonatos e promover estágios. O campeonato nacional acabou por ser o 2.º campeonato que fizemos todas juntas e mesmo assim obtivemos o título de Campeãs Nacionais Femininas, o que foi bastante positivo. A partir daí percebemos a potencialidade que tínhamos juntas e começámos a ambicionar melhores resultados e performance.
A Joana sente ser a prova de que é possível equilibrar a vida profissional e pessoal? Diga-nos: qual é o truque? Muito tempo investido e muita força de vontade? Ou há mais além disso?
Sem dúvida. Considero que o mais difícil é conciliar o desporto. Ser velejador não é só entrar dentro de água e ganhar regatas, também inclui preparação física, tratar do barco, material e descanso – tudo o que não é visível, mas que existe.
Eu diria que o tempo e a força de vontade são imprescindíveis, mas, para mim, o truque é não abdicar de nada e manter o foco no que estamos a fazer no preciso momento, ou seja, colocar sempre o maior esforço em conciliar tudo, sendo organizada e metódica para aproveitar o tempo da melhor forma.
Na minha opinião, não devemos abdicar de nada. Temos é de agarrar todas as oportunidades que aparecem, porque o sucesso obtém-se em cada tomada de decisão diária. Quando fazemos o que gostamos é tudo muito mais fácil. Se eu gosto de três atividades distintivas, devo conciliá-las. Porque é que só haveria de gostar de uma ou de duas?
Em algum momento sentiu que a sua vida profissional poderia ser «abalada», de alguma forma, pelo facto de ser estudante e desportista de competição? Alguma vez pensou em abandonar algumas destas ocupações, incluindo a profissional?
Quando estava a estudar engenharia, senti que o desporto não era reconhecido em Portugal como eu achava que deveria ser, e que, se não tirasse um curso superior, o meu passado nunca iria ser reconhecido. Contudo, adiei sempre essa decisão de abdicar de uma das partes e acabei por nunca o fazer. Digamos que mantive sempre os dois mundos paralelos. Hoje em dia, ainda adicionei a vertente profissional, portanto ainda «compliquei» um pouco mais.
Não me arrependo de nada, porque a vida é feita de oportunidades e devemos agarrar tudo com a máxima energia. Tudo o que a vela me deu vai ajudar-me a ser superior, em alguns aspetos, a muitos colegas, uma vez que tenho este lado desportista que procura sempre mais e melhor, que vai à luta e que não fica satisfeito com um segundo lugar.
Que conselhos deixaria a profissionais que pretendem atingir este work-life balance, e concentrarem-se igualmente noutras ocupações, como a formação?
Perseverança. Nunca abdiquem de conciliar mais do que uma ocupação ao mesmo tempo, porque vos vai fazer sentir mais completos e com maior capacidade de lidar com as dificuldades.
Se puder ser desporto, melhor ainda. O desporto não é só fazer exercício físico, é todo o respeito pelo adversário, superação, organização, esforço, psicologia e determinação, que nos vão fazer ver a vida de uma forma muito mais simples e positiva. Quanto à formação em si, acredito que o conhecimento abrangente é um ponto muito importante que devemos ter em conta, e pretendo continuar a estudar durante muitos mais anos.
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