Começou a sua carreira profissional como monitor de informática?
Sim, é correto, essa experiência foi sensivelmente nos inícios dos anos 1990. Eu diria que foram os tempos «dourados» da formação em tecnologia, no contexto de utilizadores finais. Na altura, os cursos que existiam eram essencialmente sobre aplicações e sistemas operativos, como o MS-DOS, o Word Star, o DBase, Lotus 123. Era tudo novo… Ensinar como funcionava um simples rato, por curioso que pareça, era na altura um desafio! Os monitores eram de fósforo verde ou âmbar (tonalidades de cinzento eram um luxo!)…
As ações em que esteve envolvido foram desenvolvidas essencialmente para jovens. Trata-se de um público difícil?
Não eram de todo um público difícil! Na altura, eu próprio era um jovem e encarava a formação (tal como encaro hoje) como um ambiente de partilha de conhecimentos bilateral e democrático, com um líder, que articula e dirige a equipa. Os projetos em que participei foram intensivos e consistiam em formar durante a época de verão jovens de Portugal inteiro. Quer formandos quer orientadores quer monitores eram colocados, na altura, nas instalações dos Pupilos do Exército e durante todo o verão, em dias inteiros, eram realizadas ações de formação em tecnologia. Foi bastante intenso, mas decerto muitos desses jovens ocupam hoje funções na área das TI.
Foi um projeto onde aprendi muito enquanto orientador, monitor e júri, e do qual guardo saudades, pelo ambiente e envolvência que se gerava ao longo daqueles meses. Ainda hoje mantenho contactos com muitos elementos desse projeto: ex-alunos, monitores, orientadores.
Nesse período passou por várias empresas de formação neste domínio e outras instituições.
Os projetos de formação nos quais participei inicialmente eram essencialmente durante a época de verão, pelo que continuei a estudar, fora desse período. Mais tarde, sim, participei como freelancer em várias entidades de renome, na altura. No entanto, em finais de 1994, a formação no contexto de utilizadores finais atraía muitos profissionais e resolvi enredar por formação mais especializada e técnica, na prática com menos oferta de profissionais e melhor reconhecida. Acabei por me especializar em sistemas Microsoft ao nível de sistemas e integração, na altura como MCSE: Microsoft Certified Systems Engineer
A partir de 1997 foi chefe de divisão de training e e-learning da BST – Business Solutions and Training, onde teve a oportunidade de trabalhar para grandes grupos nacionais, acumulando ainda outras responsabilidades. Deve ter sido um período de intensa atividade…
Em 1997 trabalhava no Porto na unidade de formação de uma empresa líder na área: a TecniData, SA (hoje grupo Reditus). Tínhamos instalações a nível nacional com um grande volume de formação, quer no Porto quer em Lisboa. Entre 1997 e meados de 2002 – com o bug do ano 2000 pelo meio – foram anos de muita formação tecnológica. No Porto, a equipa que chefiei era constituída, operacionalmente, por cinco formadores em regime full-time, além de uma bolsa enorme de subcontratados em períodos de maior atividade. Durante estes anos tive oportunidade de participar, desenvolver e organizar formações ao mais alto nível, com fabricantes como a Novell, Microsoft, HP, Compaq e Cisco.
Em 2002, por convite, iniciei, também no Porto, a área de formação de uma empresa, a ACE Plus, no seio do Grupo EDP (CaseEdinfor). Foi um projeto extremamente aliciante que nos preparou de certa forma, a mim e ao meu atual sócio e colega − na ACE Plus − para os anos que viriam, com o lançamento da Actual Training.
Quando e onde frequentou as ações que lhe permitiriam obter essas várias certificações reconhecidas pela Microsoft?
As certificações e ações de formação que frequentei foram obtidas por diversos canais. Tendo sido parte ativa dos maiores players de formação tecnológica em Portugal, tive a oportunidade de frequentar cursos entre os melhores, realizar exames e obter variadas certificações. Simultaneamente, essas certificações eram de extremo relevo para as organizações onde passei, dado que nos colocavam em patamares de destaque e alinhamento estratégico e técnico com a Microsoft, a Novell, a Digital, a Compaq, a HP, etc. Existia portanto um interesse mútuo das organizações e dos colaboradores nestas certificações
Os cursos de técnicos que frequentou no estrangeiro ser-lhe-iam muito úteis mais tarde…
Nas empresas de formação tecnológica nas quais exerci funções foi sempre muito importante trazer para Portugal as últimas novidades e os mais recentes conhecimentos dos produtos introduzidos pelos fabricantes.
Por esse motivo, quer eu quer outros elementos das equipas, por diversas ocasiões, tivemos a oportunidade de assistir, em eventos fechados e a convite de fabricantes, a sessões técnicas, algumas denominadas TTT (train the trainer), que mais tarde viríamos, quase sempre, a replicar em Portugal.
Naturalmente tenho muito orgulho de ter participado no ano 1999/2000 em dezenas de ações de formação diretamente para parceiros Microsoft, com os primeiros cursos de Windows 2000 (com a grande alteração do NT4.0).
Tenho igualmente bastante orgulho de continuar alinhado em algumas áreas enquanto consultor − já não em tantas quanto gostaria − mas essencialmente na área de Office 365, com os serviços de Cloud Microsoft.
Em que ano foi constituída a Actual Training?
A Actual Training foi formalmente constituída a 4 de outubro de 2005, apesar de termos iniciado atividade operacional apenas dois meses mais tarde.
O que motivou a constituição da empresa?
No fundo, quer eu quer o meu sócio, Dr. Pedro Nunes, achámos que, depois de anos em vários projetos nacionais e multinacionais na área de formação em TI, o desafio que se propunha era criarmos um projeto próprio, que nos permitisse definir metas e objetivos arrojados. Quisemos por isso iniciar a Actual Training, uma empresa de consultoria e formação tecnológica. O mote da Actual Training foi e é, de base, a criação de soluções de elevada complexidade e exigência. Sempre quisemos disponibilizar serviços ao mais elevado nível de qualidade, mas simultaneamente adaptados a cada cliente, estudando sempre de perto e com cada cliente a melhor solução para os objetivos específicos.
Qual é a estrutura acionista da empresa?
Neste momento a totalidade da empresa é detida por três sócios nacionais. Duas quotas detidas a título individual, eu e o Dr. Pedro Nunes, e uma terceira detida por uma sociedade.
Com quantos colaboradores, diretos e noutros regimes, conta atualmente a Actual Training?
A Actual Training conta neste momento com oito pessoas a tempo inteiro ou direto. No entanto, como é natural numa empresa que se pretende dinâmica, existem muitos momentos durante o ano onde recorremos a subcontratação para várias áreas. Temos neste momento talvez das maiores bolsas nacionais em termos de consultores, na área das TI, que colaboram connosco com relativa frequênc
Quais são os vossos principais clientes?
Por questões de cultura interna, nunca tivemos necessidade ou mesmo nos sentimos impelidos a divulgar nomes dos nossos clientes. Temos autorização escrita de alguns, no sentido de podermos usar as suas referências; no entanto, não tem sido essa a nossa pretensão.
Posso claramente partilhar que, ao nível do setor das TI, trabalhamos com os maiores players nacionais; na banca, estamos muito bem posicionados; no Estado e no meio militar, temos realizado alguns projetos de dimensão interessante.
A Actual Training apresenta-se ao mercado como uma software house e empresa de formação na área das TIC ou tem um âmbito mais alargado?
A base da Actual Training é, pelo próprio nome, uma empresa de formação. Não escondo que temos desenvolvido alguns projetos ao nível do outsourcing de pessoas e de serviços, com forte contexto em tecnologias Microsoft. Estamos a ultimar alguns processos, com efeitos para o último trimestre de 2012, no sentido de criar uma unidade orgânica interna específica para projetos e serviços TIC.
Este ano, em março, quisemos alargar o âmbito à área de formação para executivos de topo e mais recentemente à área de ITIL. Foi algo que aconteceu como um complemento a solicitações que fomos tendo, por parte de diversos clientes.
Qual é a oferta da Actual Training nesta área da formação de executivos?
Como referi, a Actual Training alargou, em março deste ano, o âmbito da sua oferta à formação para executivos (FEX) na área da gestão, construindo cursos orientados para a alta direção.
Esta área conta com uma oferta muito forte ao nível das finanças, da gestão e do marketing, contando inclusive com um mini-MBA em gestão avançada, apresentado por figuras com muita experiência e de renome no mercado nacional. Quisemos também nesta área posicionar-nos ao nível mais exigente.
A formação técnica no domínio das TIC ministrada pela Actual Training é toda ela certificada?
Neste momento somos certificados, ou fornecemos, por parceiros nacionais, formação oficial Microsoft, ITIL, Cisco, VMWare. Temos também a capacidade de certificar competências e exames, por parcerias com entidades internacionais como a Prometric e a Pearson Vue. Naturalmente o parceiro com o qual nos sentimos mais alinhados é a Microsoft.
Quais são as mais-valias da formação na Actual Training e os fatores de diferenciação em relação a outras entidades que também desenvolvem atividades nestes domínios?
A Actual Training tem tido, desde muito cedo, a preocupação em estar na linha da frente; sempre quisemos ser os primeiros a trazer as novidades – por exemplo, desde finais de julho que publicamos uma série de vídeos sobre o novíssimo Windows 8, como já tínhamos feito para a versão Windows 7, também em antecipação.
Por outro lado, sempre nos posicionámos por fazer o novo, mas ao melhor nível e articulado com os objetivos finais de cada cliente.
Num outro pilar, já num objetivo de médio/longo prazo e num projeto-piloto que iniciámos recentemente, acreditamos, pelos feedbacks recolhidos, que em breve vamos ter uma tecnologia que nos posiciona como player de volume em formação T
Como é efetuado o levantamento das necessidades de formação com vista à elaboração desse diagnóstico?
A nossa abordagem em alguns campos tem de envolver cada formando de uma ação de formação. Por esse motivo dispomos de uma plataforma, com uma base de conhecimento extensa (disponível em http://ws.actualtraining.pt), que nos permite a despistagem de conhecimentos de cada colaborador. Após esta fase inicial, estamos aptos a gerar relatórios de diagnóstico, que nos possibilitam constituir grupos homogéneos e, de forma mais pertinente, sugerir conteúdos e cargas horárias totalmente adequados à população-alvo.
Tipicamente um processo destes pode ocorrer em cenários de 5 a 1000 participantes, com tempos de resposta, por parte da nossa equipa, muito reduzidos.
A Actual Training foi distinguida em julho de 2012 como Parceiro do Ano pela Microsoft na área learning em Portugal, pelo desempenho e contributo para o desenvolvimento de formação em Portugal. Como encarou esse reconhecimento público?
Recebemos recentemente este prémio com muita satisfação e alegria: somos o parceiro português Microsoft na área de formação que mais se destacou e mais se empenhou na qualidade e desenho de formação!
É o reconhecimento da nossa equipa, pelo esforço e dedicação, e que o caminho que traçamos é o correto. Após este prémio, fazer ainda mais e ainda melhor é nosso alvo de continuidade para o futuro.
A Actual Training centra a sua atividade nos domínios da formação e consultoria ou também presta serviços em regime de outsourcing?
A Actual Training tem como negócio central a formação e consultoria. Temos participado em cenários de prestação de serviços TI e outsourcing e, conforme indiquei anteriormente, estamos a alavancar uma área específica para estes domínios.
A Actual Training tem tido um crescimento sustentado. Quais são as metas que gostaria de ver atingidas no médio prazo?
Desde que a Actual Training surgiu, procuramos dar passos sólidos. Todos os investimentos que realizámos foram através de incorporação de capitais próprios dos acionistas. Apresentamos rácios financeiros muito acima da média, apesar do presente contexto. Em termos de metas de médio prazo, queremos continuar a ser uma referência de qualidade na formação TI em Portugal e queremos posicionar-nos enquanto entidade reconhecida na formação para executivos e ITIL.
Iniciámos recentemente o desenvolvimento de um produto proprietário, que acreditamos que nos vai posicionar como um «jogador» de grande destaque na forma de «fazer» formação no médio/longo prazo.
A empresa circunscreve a sua atividade ao território nacional ou também já encetou um processo de internacionalização?
A Actual Training tem a sua presença formal no território nacional. No entanto, temos realizado projetos fora de Portugal, pontualmente e por convites. Temos em mente um processo de internacionalização para países que partilham o nosso idioma, mas, por diversos fatores, tal não aconteceu até agora.
Para finalizarmos a entrevista, gostaria de lhe colocar algumas questões de caráter pessoal. Já esteve em serviço, e seguramente também em férias, em várias cidades no estrangeiro. Qual delas elegeria para trabalhar?
Naturalmente a minha cidade preferida é aquela onde resido atualmente: Lisboa. É uma cidade segura, com pontos de interesse fantásticos, e é nossa!
Numa abordagem de resposta mais direta à sua questão, gosto particularmente de Amesterdão. É uma cidade relativamente «perto» de Portugal, com um nível cultural, intelectual e de liberdade interessantes e na qual gostaria de trabalhar um dia.
Qual foi o último filme que viu? Gostou?
Bem, julgo que todos aqueles filmes recentes de animação, que tenho visto com o meu filho, foram divertidos! Fora desse género, um dos filmes mais recentes que vi e que mais me marcou foi Amigos Improváveis. A base real da história e simultaneamente o facto de sermos confrontados com situações difíceis obrigam-nos a dar valor ao momento presente e desfrutar da «parte boa do negativo», acreditando num futuro melhor!
Qual é o livro de gestão que considera imprescindível? Justifique a sua escolha.
Ao longo da minha vida, li e recomendaria vários livros. Recordo-me de um dos mais recentes: Pensar, Depressa e Devagar, de Daniel Kahneman (que não é um economista ou gestor, mas sim um psicólogo). Este livro tem uma excelente abordagem ao tema da economia comportamental. A título de exemplo, foram testadas teorias sobre como um conjunto de ações realizadas, mas por ordens diferentes, podem resultar em processos de sucesso ou fracasso arrasador; muitas destas ações fazem parte do nosso quotidiano mais simples.
Para finalizarmos: atendendo ao desenvolvimento da tecnologia, como antevê o futuro do trabalho humano?
Julgo que cada dia que passa vemos tecnologias que nem imaginávamos anos antes. Veja-se o exemplo do telefone móvel, que não era algo palpável em finais de 1980 e hoje são autênticos centros de computação.
Creio que o nosso futuro caminha a passos largos para sistemas de telepresença, para representação holográfica de «avatares» pessoais, que nos colocarão em cenários de salas, nas quais «vemos» virtualmente todo o ambiente e podemos interagir com cada um dos nossos colegas. A vantagem dos meios de representação sobre avatar está relacionada com o facto de o consumo de largura de banda neste cenário ser imensamente reduzido. Em termos emocionais precisamos de evoluir a tecnologia de reconhecimento e transmissão da expressão corporal para que a tecnologia seja mais real.
Nesse momento − já muito próximo, vejam-se os recentes desenvolvimentos do projeto Kinect da Microsoft − vamos poder trabalhar em casa, com o nosso colega «ao lado», sem o impacto das horas perdidas em filas de trânsito e sem a necessidade de um espaço físico para toda a equipa, centrada num único local.
Muito obrigada por nos ter concedido esta entrevista.
Muito obrigado à RH Magazine por esta oportunidade e os maiores votos de bastantes sucessos.
(Entrevista publicada na RH Magazine – 2012)