Considerada uma das vozes mais influentes quando se fala em conciliação entre vida pessoal e profissional, Nuria Chinchilla é consultora de empresas, membro de vários conselhos de administração e a única mulher no Top Ten Management espanhol. É professora e oradora assídua em universidades europeias e americanas e foi, a propósito das suas palavras na conferência Work and Life Design, organizada pela revista Executiva em parceria com a AESE Business School, que o InfoRH a entrevistou.
O balanço entre o trabalho e a vida pessoal pressupõe uma liderança com o coração?
O balanço entre o trabalho e a vida pessoal pressupõe uma liderança mais com o coração e menos com paternalismos pouco eficientes. Pressupõe uma interação de ambas as realidades no dia-a-dia, para tomar decisões de acordo com as necessidades em constante alteração das pessoas que dirigem.
Como consultora, quando os líderes das empresas a procuram, que pedidos lhe fazem e como se encontra a organização?
Quando a empresa me pede alguma assessoria em termos de conciliação, pedem-me um diagnóstico da situação e deparamo-nos com diversos ambientes dentro da própria empresa. Alguns são mais flexíveis e oxigenantes, outros mais rígidos e intoxicantes.
E que conselhos lhes dá?
Realizado o diagnóstico quantitativo e qualitativo, aconselho-os a adotar algumas políticas de flexibilidade de tempo e espaço e, também, a criar uma comissão para trabalhar temas de conciliação entre trabalho e família, composta por pessoas de diferentes departamentos e não apenas com a direção de pessoas. Digo-lhes, ainda, que é indispensável uma cultura, não só na consciência como também nas políticas e, para isso, necessitamos de tornar realidade diária o avanço de consciência através da formação. Peço-lhes que formem as suas chefias intermédias e os seus dirigentes através do método do caso, com casos práticos, de encomendas, de flexibilidade e conciliação, que são difíceis de atribuir, para que possam acelerar na tomada de decisões.
A conciliação da carreira profissional com a vida pessoal é, ainda hoje, uma utopia?
A conciliação da trajetória profissional e da vida pessoal não é uma utopia. Não gosto da palavra carreira, porque significa correr contra alguém, o que provoca angústia e mal-estar. Prefiro a expressão trajetória profissional, familiar e pessoal, vitais no dia-a-dia. E isso é viável? Claro que sim.
Cada pessoa tem, primeiramente, de descobrir a sua missão pessoal, única e irrepetível, para depois poder negociar com a empresa a partir da realidade e não de uma vitimização.
Como é que é possível às empresas integrarem a vida pessoal dos empregados no trabalho?
Primeiro, têm de conhecer as necessidades do pessoal nas diferentes situações da vida familiar e nas diferentes ocorrências exteriores ao trabalho. Depois, terá que existir vontade da parte do superior hierárquico para antever as alternativas possíveis e flexibilizar os modos de atuação e de trabalho. Aproveitar toda a margem de flexibilidade que tem cada posto de trabalho e que é diferente. Uns têm maiores graus de liberdade, outros menos. Mas todos eles têm, pelo menos, algum grau de flexibilidade. É muito conveniente trabalhar por objetivos, passar da primazia do ato de se limitar a estar presente e da direção por tarefas, para uma direção por objetivos. Isso permite uma flexibilidade no tempo e no espaço, possibilitando chegar aos objetivos e superá-los, conciliando-os com as necessidades familiares e pessoais. Segundo os resultados das investigações, nos últimos 15 anos, a conciliação provoca a melhoria nos resultados da empresa, tanto na produtividade, como na criatividade, no compromisso e na prevalência dos empregados.
O que devem fazer os colaboradores para integrarem a vida pessoal no exercício da sua profissão?
A conciliação é algo que tem que ver com dois. Quando falamos de família, pelo menos os esposos e, quando os houver, os avós e quando as crianças crescerem, também os filhos, de modo a que se possam negociar entre todos, construir uma família e apoiar o trabalho profissional dos pais e dos filhos.
É necessário, além de descobrir a missão pessoal de cada um e a missão familiar externa e interna da própria família, priorizar igualmente os papéis onde somos insubstituíveis e acionar tempos de agenda para que, depois, tudo fique organizado, sem invadir a vida pessoal e familiar.
E o que cabe aos líderes das empresas fazerem?
Aos líderes empresariais cabe serem referências.
Devem ser exemplos de pessoas que sabem conciliar o trabalho com a família e a vida pessoal, com horários racionais, utilizando bem as tecnologias e não deixando que o trabalho invada toda a sua vida. Caso contrário, irão exigir aos outros o que exigem a eles próprios na sua vida mal vivida.
Aborda, frequentemente, o conceito “ecologia humana”. O que significa?
Etimologicamente significa a ciência da casa, ter consciência de que estuda as relações dos seres vivos com o seu habitat. A ecologia humana é a ciência que estuda as relações dos seres humanos com o seu habitat. A empresa é a instituição mais importante para a sustentabilidade do mundo, é a que decide quanto dinheiro leva para casa o empregado, quanta energia é consumida em casa e quanta esperança lhe resta ter, quando acaba de trabalhar. Mas a empresa não está preparada para trabalhar com pessoas humanas completas, nem com máquinas, nem pequenos animais. Está a ir contra a ecologia humana, porque não dá facilidades para que se possam construir novas famílias ou invocar os filhos.
Temos de repensar as empresas para as construir à medida da mulher e do homem atuais, de modo a que possam desenvolver o capital humano e social que tão necessários são para a sustentabilidade da nossa sociedade.
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