Autora: Inês Queirós, Psicóloga Clínica | TEAM 24
Num mundo em que existem múltiplas formas de comunicar, em que duas pessoas em fusos horários completamente diferentes podem estar a interagir no mesmo segundo, que desafios é que isto coloca às empresas, à gestão de pessoas e às relações humanas?
Sabemos que a comunicação é um dos principais pilares dos nossos relacionamentos, onde levamos do ponto A ao ponto B alguma informação que precisamos de partilhar. Sabemos também que diariamente comunicamos de diferentes formas: um email, uma mensagem, um telefonema, uma reunião online, outra presencial. Em cada uma destas formas, há algo fundamental que se perde ou que se ganha: seja a comunicação verbal ou a comunicação não verbal.
Apesar de toda esta facilidade em “comunicar”, as pessoas sentem-se mais isoladas do que nunca. Ou seja, percebemos que comunicar não é comunicar bem. Facilidade de chegar ao outro não se traduz necessariamente em desenvolvimento de relações humanas, em comunicação eficiente, em team building e, no limite, numa boa saúde física e mental. Para complicar, podemos ainda pensar nas diferenças culturais deste mundo, em que determinada expressão é aceite numa cultura, mas noutra é ofensiva.
Então num mundo que nos aproxima e nos afasta, em que comunicamos com tanta facilidade, mas que ao mesmo tempo temos mil coisas a acontecer e tudo é passível de nos distrair da nossa mensagem ou do objetivo da comunicação, como é que podemos ser mais eficientes e próximos?
Tal como o ditado africano diz: “It takes a village to rise a child” ou “É preciso uma aldeia para criar uma criança”, poderemos também nós adaptar isto para qualquer coisa do tipo “É preciso o esforço de todos nós para que um apenas entenda a mensagem?”.
Sim, definitivamente! E a premissa base é que quantidade não é qualidade de comunicação. Para isso, utilizarmos três pilares diariamente irá ajudar certamente a melhorar a comunicação e as relações entre todos:
Quais são os pilares da comunicação?
- Escuta ativa- ouvir com interesse genuíno na mensagem que estão a transmitir e evitar estar a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Isto implica olhar para a pessoa, ter uma linguagem corporal voltada para quem nos está a enviar a mensagem. Por isso, quando precisar de compreender uma mensagem, evite distrações e esteja genuinamente interessado na mesma.
- Assertividade- a assertividade envolve a expressão das necessidades, preferências, emoções e opiniões sem, no entanto, ter uma atitude hostil com o recetor da mensagem. Caso necessário, pergunte todas as dúvidas que tiver, num tom calmo e com uma linguagem adaptada ao seu interlocutor.
- Feedback- um feedback claro e assertivo, adequado às necessidades de quem está do outro lado, é vital para uma boa comunicação e, ao mesmo tempo, aumenta a produtividade de toda a equipa.
Apostar na saúde mental também é apostar na comunicação?
Como já foi referido, a comunicação é inerente ao relacionamento humano. Num estudo recente realizado pelo The Workforce Institute: “Mental Health at Work: Managers and Money”, para cerca de 70% da amostra, o seu líder direto é uma das figuras que mais impacta a sua saúde psicológica. Para isso, um dos aspetos mais importantes é uma boa relação com esta figura tão importante no dia a dia do colaborador.
Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, várias situações podem provocar ou potenciar o stress ocupacional, por exemplo, más relações com os colegas de trabalho ou sentir pouco apoio por parte dos superiores hierárquicos.
Cerca de 50 a 60% dos dias de trabalho perdidos são causados pelo stress laboral. E mais uma vez, a comunicação é uma das chaves-mestras.
Feedbacks claros, um ambiente assertivo e acolhedor, em que o líder e a equipa dão ao colaborador o empowerment , segurança e calma de que ele precisa para desenvolver de forma apropriada as suas atividades é a base para equipas mais produtivas e que comunicam melhor. Feedbacks individuais, em que o colaborador se sente confiante para partilhar as suas angústias, forças e receios, ao mesmo tempo que recebe feedbacks assertivos e, com isso, é reconhecido o bom trabalho que esteja a ser realizado e os limites de cada pessoa.
Porque não há saúde sem saúde mental… e não há relações produtivas sem uma eficiente comunicação!