Não é uma novidade que o ano de 2023 seria difícil para as empresas, especialmente com o risco acrescido da guerra na Ucrânia e a tensão entre os Estados Unidos e a China. Por isso, Paulo Portas quis deixar uma alerta aos convidados presentes no Growth Forum – que, mesmo não sendo do agrado de todos, pode ser uma ideia importante para aproveitar um ano que ainda têm oportunidades.
“Existe um grau de imprevisibilidade que tem de estar presente nas vossas decisões”, afirma Paulo Portas, enfatizando o facto que a guerra e a pandemia aconteceram fora do mundo das previsões de quem tem a função de as prever. Por isso, mais do que nunca, o vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), enfatiza a necessidade de melhorar as capacidades de risk assessment das empresas.
“Outra coisa que não é de agrado é a volatilidade. Aquilo que pode ser previsível, com cautelas, pode-se tornar invisível e volátil – como, por exemplo, o diálogo entre os Estados Unidos e a China, que foi interrompido no início de este ano. Por isso, habituem-se ao mundo com uma potência dominante, os Estados Unidos, e a potência desafiante, a China”, explica.
2023 será um ano “modesto” em termos de crescimento
“A previsão para 2023 era má. Com o que sabemos hoje, 2023 não será um ano brilhante, mas parece-nos que não vai ser um ano recessivo“, reitera Paulo Portas. O vice-presidente da CCIP também relembrou que era “provável” um cenário de estagflação nos Estados Unidos, cenário esse que passou de “provável” para “possível“.
Nesse sentido, Paulo Portas aproveitou para apresentar alguns fatores que fazem com que esteja menos pessimista relativamente ao ano de 2023 e que ajudaram as economias europeias a ganhar maior resiliência.
“Ocorreu um inverno menos rigoroso, o que resultou num menor consumo de energia. Existiu uma abertura antecipada da China, comparativamente com o que eram as expectativas do Ocidente. E, no caso da União Europeia, o divórcio, ou decoupling, da dependência energética entre a Europa e a Rússia foi absolutamente extraordinário, porque ocorreu em 12 meses”, enumera.
Quatro fatores que podem ajudar as empresas em 2023
Além de fatores externos que permitiram com que o ano seja “modesto”, também existem fatores, exclusivos à economia portuguesa, que contribuem para este balanço positivo.
“O peso extraordinário do turismo no PIB português, e duvido que vá mudar (21 mil milhões de euros), e das exportações. Quando Portugal esteve falido, muitas empresas internacionalizaram-se e eu lembro o dia em que as exportações representavam 40% do PIB português. Hoje, representam 50% do PIB português. Incentivo que vocês continuem nesse passo”, afirma Paulo Portas, dirigindo-se à audiência.
Outro fator foi a compra de ativos (agrícolas, imobiliários, industriais, entre outros), que representam milhares de milhões de euros que entram na economia.
Em terceiro lugar, o que Paulo Portas chama de “mix energético”, em que Portugal deixou de ter uma dependência energética da Rússia, que durava a décadas, para uma mistura de energia proveniente de países como África e Estados Unidos.
Em último lugar, Paulo Portas também considera como importante a “bazuca europeia”, mesmo tendo reservas relativamente à efetividade da mesma.
Quatro pontos essenciais para as empresas
Paulo Portas também aproveitou a apresentação para tecer quatro pontos essenciais para as empresas em 2023.
“Continuem a internacionalizar, porque o mundo com dificuldades não é um mundo com dificuldades simétricas, e tenham atenção a preconceitos relativamente a oportunidades em outros mercados. Não estejam dependentes de somente um mercado. Tenham maior cuidado ou conservadorismo financeiro relativamente ao endividamento das vossas empresas. E, se as vossas empresas dependerem exclusivamente dos recursos humanos, tenham cuidado com a escassez, derivada da demografia e da produtividade“, elenca.
“Desejo-vos uma coisa: Os melhores negócios, os melhores contratos e os melhores lucros em 2023”, conclui Paulo Portas.