Autora: Rocío Cervino, CEO da MOLA Human Lab
Na Bhagavad – Gita, conhecida como a Bíblia hindu, que contém conhecimento do Yoga, o Mestre Krishna ensina a Arjuna – o seu discípulo – a fazer o que é justo, o que é certo. Nem sempre fazer a coisa certa é fazer a coisa correta. É isso mesmo que transparece este texto, onde uma situação difícil e de conflito leva o protagonista Arjuna a uma crise profunda, que resolve com o seguimento do seu dever – svadharma -, com honestidade, amor e serviço, mesmo que este dever lhe pareça terrível.
Esta situação dá-se muito frequentemente nos líderes: decisões difíceis onde o certo e o correto muitas vezes se sobrepõem. Mas o que é que tem a ver Yoga com auto-liderança? Entende-se Yoga como disciplina prática baseada em valores éticos e ensinamentos ancestrais, e não apenas a parte do Yoga que diz respeito às técnicas que se realizam com o corpo físico.
Ambos têm um ponto em comum: o autoconhecimento. Saber quem somos. Encontrarmo-nos com a nossa verdade é o caminho da descoberta… o caminho do Eu.
O conhecimento de nós próprios ajuda a criar uma ligação com o Eu essencial, onde reside o nosso maior talento, o nosso poder natural. Este poder não pode ser retirado, por nada nem por ninguém. É através deste poder pessoal que podemos influenciar cada pessoa que encontramos, podemos contribuir para mudanças positivas, pois o nosso diferencial é precioso na cocriação de novas aportações e soluções, nomeadamente quando as condições se apresentam menos favoráveis ou desejáveis, como os novos tempos de caos que estamos a viver.
“O potencial por concretizar transforma-se em dor”
(Robin Sharma)
Precisamos de despertar a nossa liderança interna, assumir o que já somos. A auto-liderança começa nesse ponto, onde otimizamos todas as nossas human skills (misto de competências técnicas – hard skills – e emocionais – soft skills) para colocá-las ao serviço dos papéis que representamos nas diferentes esferas da vida: pessoal, laboral, familiar e social.
Nesta integração, a inteligência emocional entra em jogo para prover a capacidade de nos gerirmos melhor a nós mesmos – autorregulação – e para nos ajudar a perceber, com a perspetiva certa, os nossos papeis – autoconsciência.
Uma das grandes liberdades que cada um de nós tem como indivíduos é a liberdade de escolher como ver e como viver os nossos papéis no mundo. Perante este sistema de escolha, o que escolho? Vitimismo ou auto-liderança? Ser vítima ou ser líder de mim mesmo?
– Como líder não vivo de: desculpas, nem das escusas, nem de gerar um paradigma tóxico que alimenta os meus interesses egoístas e “benefícios secundários”.
– Como líder vivo de: responsabilidade, reinvenção, exemplo, serviço, inspiração e elevação (minha e dos outros).
Auto-liderança só o é quando ativamos o líder interno, quando sabemos onde está a nossa força, o que nos limita, o que deveremos transformar… quando por fim sabemos quem verdadeiramente somos e o que andamos aqui a fazer. A partir deste momento, a auto-liderança revela-se prática, funcional, estruturada, equilibrada e consistente.
- Best Practices para cultivar a auto-liderança:
Auto-compaixão – que quer dizer, literalmente, ter paixão por mim, e isto é muito importante, pois sem cair em egocentrismos, o nosso valor reside no nosso diferencial, o que cada um de nós é. Deixar entrar o ego em jogo é contraproducente, tanto por excesso (querer ser ou aparentar ser mais do que realmente é), como por defeito (desvalorizar o que somos).
Auto-disciplina – o que seriamos sem a disciplina quando a motivação descai? De vez em quando é necessário abrandar as nossas exigências, mas um método torna-se necessário para a manutenção de uma estrutura que sustente o nosso fazer.
Auto-estudo – gosto deste e identifico-me muito com ele, pois refere a auto-observação constante. Adotar um papel de espectador, também connosco, e fazer dele o nosso guia ou manual de instruções.
Interdependência – é o nosso posicionamento no modus operandi “ir solo”, com a noção de que somos independentes, mas em correlação com todas as tarefas, experiências e pessoas que são importantes, aportam valor, nos complementam e nos fazem evoluir, crescer, melhorar.
“Só quem é independente pode ser interdependente”
(Stephen Covey)
Auto-liderança é uma questão de atitude, pois está ligada a uma missão: liderar. Não é um caminho nem um objetivo, é uma intenção que começa na própria mente e se revela nas tarefas quotidianas, que se tornam atos e estados de excelência, às vezes subtis e impercetíveis, mas significativos na construção do nosso verdadeiro líder.
Reflexões:
- Pensa em 3 situações na tua vida em que já aplicas a auto-liderança;
- Pensa em 3 situações onde gostarias de ter mais auto-liderança;
- Pensa em 3 situações onde colocas, cada dia, o teu potencial ao serviço do mundo.
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