Autor: Alain Dehaze, CEO The Adecco Group
À medida que avançamos num mundo onde o impacto económico da Covid-19 e da transformação imediata da forma como costumávamos trabalhar é real, começamos a observar tendências emergentes que provavelmente terão um impacto duradouro em todos nós. Desde a mudança gradual da globalização e do comércio aberto, o aprofundamento das desigualdades económicas e sociais, até à aceleração da automatização nos nossos locais de trabalho – estes últimos meses destacaram as mudanças subjacentes que definirão a forma como trabalharemos nos próximos anos.
Mas embora estes tempos difíceis possam ter dado a impressão de que a melhor linha de ação é que os países, empresas e indivíduos se isolem e fechem, fora do resto do mundo, é importante enfrentar quaisquer desafios futuros através de mais e não menos colaboração.
Só quando trabalhamos em conjunto podemos enfrentar muitos dos grandes desafios do mundo pós-Covid, e responder a temas que nos suscitam dúvidas: como criar uma forma híbrida e flexível de trabalhar? Como abraçamos a Inteligência Artificial (IA) no local de trabalho? Como é que forjamos um novo Contrato Social para encapsular a mudança necessária?
Por isso, sublinho a importância da colaboração em três áreas:
- Colaboração entre empregadores e empregados: construção de um local de trabalho mais flexível
O que sabemos ao certo é que o futuro do trabalho será flexível. Um modelo híbrido de trabalho remoto e de escritório, com a divisão global de 50/50, tornar-se-á a norma. Da nossa investigação sabemos que cerca de três quartos (77%) dos empregados querem mais flexibilidade no trabalho na era pós-Covid. Querem concentrar-se nos resultados que entregam, não necessariamente no tempo que passam nas suas secretárias e nos seus escritórios.
Ao mesmo tempo, mais de dois terços (69%) dos trabalhadores, e 76% dos executivos querem que os contratos de trabalho se baseiem nas necessidades das empresas. Não surpreende que estas novas expectativas também se tenham refletido no discurso político em todo o mundo – da Nova Zelândia à Finlândia – uma vez que as normas históricas do local de trabalho estão a ser postas à prova.
Este debate não é novo, claro, mas a pandemia do coronavírus agiu como um catalisador. O que sabemos com certeza é que nenhuma das mudanças conducentes a um futuro de trabalho mais flexível acontecerá sem uma cooperação mais estreita, diálogo e abertura entre os empregadores e os seus empregados.
- Colaboração entre humanos e robôs: Libertando todo o potencial da IA
A pandemia da Covid-19 sublinhou a necessidade da IA e o papel que esta desempenha no local de trabalho. De acordo com o relatório sobre o Futuro do Emprego do Fórum Económico Mundial, a percentagem “humana” de horas de trabalho diminuirá de 71% para 58% nos próximos cinco anos.
Contudo, isto não quer dizer que as máquinas irão substituir os humanos. Muito pelo contrário – 83% dos trabalhadores inquiridos no nosso recente White Paper acreditam que software avançado poderia ajudá-los a desempenhar as suas tarefas de forma mais eficiente. A tecnologia não está necessariamente aqui para substituir postos de trabalho, mas sim para os melhorar.
Mas embora a nossa aceitação da IA tenha melhorado ao longo do tempo, ainda subsistem alguns mal-estar, especialmente quando se trata da colaboração homem-máquina. Cerca de um quarto (26%) dos trabalhadores sente-se desafiado ou incapaz de lidar com tecnologia avançada, e apenas cerca de um terço (34%) sente-se confortável.
Para desencadear todo o potencial da IA e promover uma melhor colaboração entre humanos e robôs, teremos de aumentar ainda mais o investimento na aprendizagem ao longo da vida e no desenvolvimento de competências.
- Colaboração a todos os níveis: Governos, empresas e trabalhadores precisam de um novo Contrato Social
Há dois anos, o Grupo Adecco lançou a campanha #TimeToAct para sublinhar a necessidade de atualização dos nossos mercados de trabalho para o século XXI. À luz dos desenvolvimentos passados, incluindo a revolução tecnológica, o aprofundamento da volatilidade política e económica, o aumento das desigualdades, e mais recentemente, a Covid-19, é seguro dizer que existe uma necessidade urgente de um novo Contrato Social.
Todos nós temos expectativas diferentes sobre o que o futuro do trabalho deve trazer. Os trabalhadores procuram flexibilidade aliada à proteção contra a perda de rendimentos. As empresas, por outro lado, estão concentradas na agilidade combinada com a estabilidade económica e a eficiência de custos. A única forma de alinhar estes objetivos e proporcionar tanto um mundo mais justo para os trabalhadores como maiores ganhos económicos para as empresas e a sociedade é, assim, através de um alinhamento deliberado e atento. É por isso que é crucial que todos os intervenientes no mercado de trabalho estejam à altura das suas responsabilidades com a clara ambição de aproveitar ao máximo as oportunidades que se nos deparam.
Por essa razão, a transformação do mercado de trabalho deve ser considerada como uma oportunidade real para todos – governos, empresas e trabalhadores.
Contudo, precisaremos de um diálogo aberto e, o mais crucial, de mais colaboração a todos os níveis, geografias e demografia.
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