A CIP – Confederação Empresarial de Portugal já apresentou a segunda edição do Programa Promova, uma iniciativa criada para desenvolver talentos femininos com potencial de liderança. O Promova conta com a parceria da Nova School of Business and Economics, e inclui um programa de formação de executivos e suporte ao desenvolvimento das participantes, através de sessões de networking, coaching e mentoring cruzado.
Na primeira edição, que decorre até julho, o programa contou com quase 50 candidaturas, provenientes de 27 empresas. De modo a perceber o porquê desta iniciativa, bem como em que consiste o programa e de que forma fomenta o acesso das mulheres a posições de decisão em altas funções, a RHmagazine foi falar com António Saraiva, Presidente da CIP.
Nesta entrevista, António Saraiva fala-nos ainda sobre o que está a falhar para não vermos mais mulheres em cargos de liderança em Portugal e como as empresas podem promover a igualdade de género.
BC: O Programa Promova foi criado com o objetivo de desenvolver talentos femininos com potencial de liderança em funções de alta direção. É não só um projeto de formação executiva, que surge em parceria com a Nova SBE, mas também de promoção do mérito e da excelência feminina. Porque é que a CIP criou este programa?
AS: O Promova surge da necessidade que a CIP identificou para que sejam criadas novas abordagens para promover de forma mais eficaz a cultura da igualdade de género nas empresas. O Projeto foi criado como um incentivo claro à transformação cultural em prol da igualdade de género, diversidade e inclusão.
Mais ainda, a CIP acredita que não podemos desperdiçar ativos, as empresas não podem desperdiçar talentos. Necessitam, nas diversas funções organizacionais, das pessoas mais bem preparadas e com melhores competências, sejam homens ou mulheres.
Isto é mais verdade nas equipas de liderança, direção e administração das empresas. Com este programa, a CIP pretende contribuir para acelerar estes processos de transformação cultural nas empresas, donde resultam evidentes vantagens competitivas vitais ao crescimento das empresas e da economia.
Quais são os momentos e metodologias inerentes ao Promova?
O primeiro momento é das empresas, ao identificarem talentos femininos que já estejam a exercer funções de coordenação ou de gestão e que têm ambição e potencial para crescer para funções de gestão de topo. As empresas promovem a candidatura e têm de assumir o apoio ao desenvolvimento e crescimento profissional da candidata. As candidatas serão depois sujeitas a um processo de seleção, com base no seu curriculum e numa entrevista, em que têm a oportunidade de expressar a sua motivação. Não basta terem competências de liderança, queremos participantes que tenham ambição e que queiram evoluir.
Existe uma urgência na transformação cultural? O que está a falhar para ainda não vermos mais mulheres em cargos de liderança em Portugal?
Os dados disponíveis mostram que temos evoluído rapidamente, em alguns casos ao dobro da velocidade da União Europeia, mas também mostram que ainda há muito caminho para a andar, porque os nossos indicadores não são os melhores. No último Índice da Igualdade de Género, Portugal surge no 16º lugar do ranking europeu, o que representa uma boa subida, porque em 2005 estávamos no 21º lugar. Mas, no que respeita à economia, segundo dados divulgados pelo Fórum Económico Mundial, temos menos mulheres em cargos de direção nas empresas, relativamente a Espanha, por exemplo, e metade de Itália e quase um terço de França. Temos de fazer melhor, para aproveitar mais o talento que está disponível.
De que forma é que este projeto fomenta o acesso das mulheres a posições de decisão em altas funções?
Desde logo, com o excelente programa formativo que a CIP construiu em parceria com a Nova SBE, que reforça os conhecimentos, as ferramentas e as competências das participantes, ajudando-as a serem líderes inspiradoras e capazes de fomentar a mudança e inovação nas suas organizações e nas suas carreiras.
Para participar no Promova, as participantes têm de demonstrar não só competências de liderança, mas também vontade e ambição: o querer chegar ao topo é um requisito fundamental.
Tendo competências, ambição, e um programa pensado em potenciar essas qualidades, através do coaching, do networking e da mentoria, diria que o acesso passará a ser natural, pois as empresas valorizam os seus talentos.
Foi já apresentada a segunda edição deste projeto. E como está a ser a primeira, sendo que se encontra ainda a decorrer? Houve uma grande adesão? Os testemunhos têm sido positivos?
O balanço é muito positivo e temos atingido todos os objetivos propostos, mesmo tendo em conta que a pandemia nos obrigou a atrasar o início dos trabalhos e a adaptarmos algumas ações previstas. Tivemos cerca de 50 candidatas, das quais foram selecionadas 32 participantes, que se encontram ainda a cumprir o programa, mas cujo testemunho tem sido muito positivo. Tanto a avaliação dos módulos formativos já realizados, como o feedback sobre as sessões de coaching e sobre os eventos de networking, fazem-nos ter confiança de que serão as próprias participantes as principais promotoras da segunda edição do Promova.
Traz esta segunda edição alguma novidade, comparativamente à primeira? Em que irá consistir?
Mesmo com as condicionantes que tivemos de enfrentar, a interação constante que temos tido com todas as que participam nesta primeira edição permitiu-nos recolher informação e conhecimento, que vai traduzir-se em alguns ajustes aos módulos formativos, por exemplo, com o reforço dos momentos de coaching, e, também, com a promoção da prática de mindfulness, para complementar o plano curricular.
No final, o que retiram as candidatas deste programa? Novos conhecimentos, novas oportunidades?
O objetivo é que reforcem conhecimentos e que construam redes de contactos que possibilitem relações não só entre participantes, como entre empresas de vários setores de atividades e mesmo redes internacionais, com participantes de edições do Projeto “Promociona” em Espanha e no Chile, por exemplo. Além desta importante rede de contactos, o Projeto dá a cada participante a possibilidade de desenvolver um plano individual que indica as metas profissionais de cada uma e cria o incentivo a uma ascensão a funções de direção e administração.
No contexto atual, sente que este tipo de iniciativas tomam uma pertinência e importância maior? Veio o surgimento da pandemia provocar um desequilíbrio maior de igualdade de género nas empresas?
É um projeto direcionado para empresas, mas essencialmente, para mulheres, com o objetivo preciso de diminuir o gap da igualdade de género na gestão de topo das empresas e, nesse sentido, considero que é um projeto da maior importância, não só agora, mas em qualquer altura.
Se me fala das desigualdades em momentos de pandemia, atrever-me-ia a dizer que qualquer crise representa um risco direto de agravamento de todos os tipos de desigualdade, incluindo a desigualdade de género.
Este é um pequeno sinal de que estamos no caminho certo para encontrar o equilíbrio social que desejamos.
De que forma podem as empresas promover a igualdade de género?
Há muito que a CIP identificou a necessidade de promover a igualdade de género nas empresas e viu neste Projeto essa possibilidade. Muitas são as empresas que já tem políticas internas de promoção da diversidade e inclusão e políticas de promoção de conciliação trabalho-família. Num trabalho recente com a ACEGE e com a Nova SBE, a CIP compilou algumas boas práticas de políticas de conciliação e, neste projeto, temos também vindo a registar e divulgar alguns vídeos em que as empresas partilham as suas políticas internas. Ao aderir a este programa, as empresas estarão exatamente a dar mais um passo para essa promoção da igualdade de género, ao identificarem mulheres com potencial de liderança e ao promoverem a sua participação neste programa.
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