Autora: Joana Brito, HR Solutions Senior Associate da Aon Portugal
A saúde mental está intimamente ligada à resiliência de uma força de trabalho. Sendo o bem-estar emocional único e particular a qualquer pessoa, este pode constituir um poderoso alicerce do bem-estar numa empresa ou, pelo contrário, uma fonte de desgaste e energia, com impacto direto na produtividade. Para organizações de todo o mundo, o bem-estar emocional é uma questão pertinente.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), um ambiente de trabalho negativo conduz a um baixo nível de bem-estar emocional e «pode levar a problemas de saúde física e mental», estimando-se que cerca de 13% de todos os dias de ausência por doença estejam ligados a condições de saúde mental subjacentes. Para além disso, a OMS calcula ainda que um nível de saúde emocional deficitário custa à economia global cerca de 1 trilião de dólares por ano em perdas de produtividade.
Contudo, um nível de saúde emocional baixo não representa apenas uma ameaça para as organizações: pode e deve ser encarado como uma oportunidade. Prova disso é o crescente número de empregadores que se comprometem a ajudar a sua força de trabalho; concretamente cerca de 88% das organizações já oferecem algum tipo de apoio ao bem-estar emocional dos seus colaboradores.
Se o investimento que se está a fazer ao nível do bem-estar é ou não suficiente e eficaz, essa conclusão depende da existência de um compromisso genuíno com uma estratégia de bem-estar inclusiva. Todavia, ainda não sabemos que estratégias e abordagens foram suficientemente eficazes, por exemplo, para minimizar o stress relacionado com a pandemia da Covid-19.
Na sua essência, e de acordo com o estudo da Aon Rising Resilient, existem três indicadores de resiliência da força de trabalho: (1) a sensação de segurança no trabalho; (2) o forte sentimento de pertença à organização; e (3) a adaptabilidade e motivação, necessárias para o colaborador atingir todo o seu potencial. Mas o que podem os empregadores fazer para tornar o local de trabalho num espaço emocional que seja seguro, gratificante e ajude os colaboradores a trazerem a melhor versão de si próprios?
Ao dia de hoje, a maioria dos empregadores já reconhece as mudanças ao nível das necessidades físicas à medida que os colaboradores envelhecem, por exemplo, no que se refere à iluminação ou aos espaços de trabalho, e, por essa razão, poderão disponibilizar benefícios que se adaptam aos diferentes segmentos de idade da sua força de trabalho. Para apoiar o bem-estar emocional, é fundamental que empregadores e colaboradores estejam atentos aos fatores invisíveis que moldam a saúde emocional, assim como devem garantir suporte para combater quaisquer efeitos negativos.
Algumas pessoas têm uma autoestima naturalmente baixa, o que pode resultar com que alguns colaboradores sintam a sua confiança abalada quando começam uma nova função, ou mesmo colaboradores mais introvertidos podem sentir que interações muito frequentes com colegas sejam desgastantes. Os colaboradores que sentem que não podem ser autênticos no trabalho porque a cultura da organização não é espelho de diversidade podem sentir-se muito desconectados das suas equipas e restantes colegas.
Estes fatores podem ter um efeito negativo sobre se as pessoas sentem ou não que pertencem ao seu ambiente, o que pode levar a um sentimento de isolamento e, possivelmente, culminar em depressão. A rápida propagação da pandemia global e do seu impacto a nível social, emocional e económico, bem como as medidas rápidas que os empregadores tomaram, irão ter, necessariamente, consequências duradouras sobre como os empregadores e colaboradores veem o futuro do trabalho. Por isso, colocar o bem-estar emocional no centro das estratégias de bem-estar futuro, para criar resiliência contra desafios futuros desta natureza, deve ser uma prioridade para todas as organizações.
Ainda assim, manter uma interação positiva entre o colaborador e o local de trabalho não é algo fácil de compreender. Pode variar de acordo com a indústria, bem como o tipo de força de trabalho, e às vezes pode parecer não estar alinhado com a estratégia e objetivos de negócio, especialmente se o tempo não for alocado a práticas de bem-estar, razão pela qual é importante entender o papel que administradores/diretores de primeira linha ou gestores de pessoas podem ter para com as suas forças de trabalho.
Do ponto de vista prático, existem maneiras de ajudar os gestores de pessoas a trilharem esse caminho, mostrando-lhes o que procurar nas suas forças de trabalho. Comunicar aos colaboradores os benefícios disponíveis é o primeiro passo para garantir acesso aos mesmos, assim como garantir abertura e transparência na comunicação poderá influenciar positivamente esta dinâmica e reduzir a pressão que lhe está associada.
Acresce considerar a importância de compreender a influência do ambiente de trabalho. A forma como os colaboradores percebem o seu local de trabalho é amplamente definida pelas pessoas ao seu redor e pelos comportamentos que exibem coletivamente. Isto, por si só, pode moldar as atitudes em relação a si próprios, ao empregador e afetar diretamente o modo como se comportam e relacionam. Pode-se facilmente esquecer que o bem-estar positivo é a soma de experiências pessoais e humanas positivas e que a cultura é o produto final dos seus esforços, a manifestação de uma voz única e unificada que todos os colaboradores vivem e respiram, a partir da qual se cultivam sentimentos positivos.
A pandemia de Covid-19 em 2020 abalou e testou a dinâmica dos locais de trabalho de uma maneira e a uma escala sem precedentes. As organizações tiveram de acelerar drasticamente a inovação no local de trabalho para garantir que continuavam a obter o máximo das suas forças de trabalho. Uma abordagem pró-ativa não vai apenas garantir que os colaboradores obtêm o que precisam com mais rapidez, mas que a própria organização se transforme agora, e não num qualquer ponto não específico no futuro. Além disso, uma parceria entre empregadores e colaboradores constitui a base de um relacionamento duradouro e frutífero, além de ser a primeira linha de defesa na prevenção do sofrimento emocional.
Os efeitos indiretos de apoiar emocionalmente uma força de trabalho não podem ser subestimados. Desde a capacidade de manter bons relacionamentos, comunicação aberta e trabalho em equipa, até à criação de um propósito comum, os benefícios para as organizações de fornecer suporte emocional contribuem para uma força de trabalho mais resiliente e motivada para com os objetivos organizacionais. Os resultados são fáceis de traduzir: maior produtividade dos colaboradores, maiores taxas de retenção, redução dos níveis de absentismo e melhor relacionamento interpessoal, tudo com base numa força de trabalho mais feliz, saudável e forte. Não é este o cenário que todas as empresas procuram alcançar?
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