Autora: Lúcia Palma, CEO da Mind Up – Recursos Humanos Ágeis
É crescente a preocupação das organizações em proporcionar aos seus colaboradores um ambiente salutar e bem-estar, promovendo uma cultura organizacional que estimule a partilha de ideias e cooperação, e minimize situações de medo de julgamentos ou represálias por manifestarem as suas ideias e convicções.
O conceito de Segurança Psicológica no Trabalho foi desenvolvido no final da década de 90, pela Professora Amy Edmondson da Harvard Business School, altura em que se dava os primeiros passos para combater as situações de stress laboral e burnout causadas por ambientes de trabalho tóxicos e chefes “velhacos”.
Garantir que os colaboradores não vão correr riscos interpessoais durante as suas atividades quotidianas parece um corolário básico, mas que afinal está longe de ser um dado adquirido em todas as organizações, onde abusos e episódios de assédio laboral coexistem num ambiente de silêncio absoluto, onde todos sabem mas ninguém quer levantar a voz para denunciar o que se passa.
Sabemos hoje que a segurança psicológica no trabalho tem uma relação direta com o absentismo e a retenção de talentos, bem como o sucesso para alcançar resultados de excelência, e garantir a união das equipas nos momentos mais críticos.
Este conceito mostra-nos ainda que é necessário poder assumir riscos sem se sentir inseguro ou envergonhado, uma vez que dentro da organização existe, acima de tudo, respeito mútuo entre colaboradores, entre e para com as chefias, o que gera absoluta confiança para partilha de ideias.
A segurança psicológica no trabalho assenta em três pressupostos fundamentais:
- O trabalho deve ser executado a partir de uma perspetiva de aprendizagem, ou seja, dando espaço a tentativas e erro para resolução de qualquer problema ou questão;
- Todos os membros da organização estão sujeitos a errar, e isso deve ser encarado com normalidade;
- E, por último, cada pessoa deve manter a mente aberta e curiosa para que possa levantar todo o tipo de questão, e, com isso, seja possível promover a inovação e sucesso de qualquer projeto.
A segurança psicológica no trabalho traduz-se assim em quatro quadrantes: segurança para aprender, para comunicar, para interagir e para pertencer (ou seja, os membros de uma organização sabem que serão apoiados e não prejudicados, o que os leva a ter um maior sentido de pertença dentro da organização).
Segundo Daniel Coyle, autor do livro The Culture Code, a segurança psicológica no trabalho faz parte dos três grandes elementos que integram uma cultura organizacional forte, ao lado do propósito e da vulnerabilidade.
Todos nós devemos legitimamente questionar-nos se integramos uma organização onde existe segurança psicológica. Para tal, deixo algumas questões para reflexão:
- De uma maneira geral, sinto-me confortável em trazer novas ideias, ou em fazer perguntas que possam ser consideradas “idiotas” perante a equipa?
- Sinto-me confortável em expressar a minha opinião, mesmo que divergente, sempre que eu entendo ser necessário?
- É seguro assumir riscos perante a equipa?
- Se cometer um erro, isso será usado contra mim?
- Sinto-me confortável em pedir ajuda?
- Percebo que a equipa rejeita outros por serem diferentes?
- Percebo que alguém da equipa poderia atuar intencionalmente para prejudicar-me?
- Os membros desta equipa tratam-se com respeito e cordialidade?
- A equipa tem um espaço para que possa falar dos problemas e dúvidas relacionados com a minha atividade?
- A equipa tem objetivos claros e desafiadores?
A reflexão sobre as respostas a estas perguntas é um importante indicador do índice de segurança psicológica no trabalho, e como a sua ausência ou presença se podem manifestar na produtividade, motivação, eficácia, maior ou menor receita, bem como no turnover de uma organização.
Por fim, nunca é demais ter em conta que comportamentos como a promoção de feedback, tolerância ao erro, incentivar os outros a arriscar e mostrar as suas ideias, bem como ajudar a ressignificar as falhas, mostrando que os fracassos são naturais na vida, são atitudes simples que criam um clima de maior segurança dentro das organizações.
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