Ema Perdigão
Diretora executiva da Your Care
De acordo com a agência EFE, todos os anos, no mundo, morrem 2.4 milhões de pessoas com doenças relacionadas com o trabalho e 374 milhões são vítimas de acidente de trabalho. Já os dias perdidos por problemas relacionados com segurança e saúde no trabalho representam uma despesa de 4% do PIB da economia mundial, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho.
Portugal não é exceção. Só em 2018, a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) registou 146 acidentes de trabalho mortais e 427 acidentes de trabalho graves. Sendo que não vivemos uma cultura de saúde, atua-se relativamente numa ótica de reparação de danos e raramente numa lógica proativa por forma a prevenir doenças e acidentes. Face a esta realidade, é importante pensar nas questões da prevenção integrada na educação numa perspetiva de desenvolvimento de uma cultura de segurança e saúde a partir da infância.
Ao familiarizar as crianças com os temas da segurança e da saúde à medida que aprendem a ler e a escrever, é possível promover a sua integração de forma natural no seu modo de brincar, estudar e viver. As crianças de hoje serão os colaboradores, os gestores, os políticos de amanhã e desenvolvendo, desde cedo, atitudes positivas face à segurança e saúde tornar-se-ão mais competentes no reconhecimento e na operacionalização de medidas preventivas adequadas à sua exposição aos riscos profissionais.
Para produzir resultados, a abordagem deverá ser multidimensional e compreender diferentes settings, a família, a escola, as empresas, começando no Estado e poder político para o desenvolvimento de políticas promotoras desta cultura de segurança e saúde.
Em termos práticos, existem várias formas de promover uma cultura de segurança e saúde desde a infância, assegurando a sua consolidação até à idade adulta:
- A partir do ensino básico, com matrizes curriculares que integrem o ensino da prevenção de riscos profissionais, associando a aquisição de conhecimentos a um ambiente de aprendizagem saudável e seguro para toda a comunidade escolar, ao longo dos diferentes níveis de ensino;
- Durante todo o percurso escolar, com intervenção ativa neste tipo de questões, nomeadamente, através da nomeação de representantes dos alunos para a equipa de segurança e contando com a sua participação na identificação de perigos e riscos nas escolas, bem como, no estabelecimento do plano de medidas corretivas e preventivas;
- Promovendo o Dia das Profissões, onde filhos têm a oportunidade de experienciar um dia de trabalho dos pais, alertando-os para a exposição a riscos profissionais que envolve o desempenho de cada atividade e ensinando-os através de técnicas de role modeling, como se pode prevenir ou minimizar as consequências dessa exposição.
Por parte das organizações com responsabilidades relativamente à Segurança e Saúde no Trabalho (SST), estas devem estar aptas a influenciar e a participar em todo o processo, através de parcerias com as instituições escolares, quer na fase de construção dos programas disciplinares, quer enquanto prestadores de serviços de SST nessas mesmas instituições escolares.
Também a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA), tendo como lema “Crescer em Segurança, Viver em Segurança”, promove esta integração através da sistematização e publicação de resultados que dêem provas das boas práticas e da disponibilização de ferramentas online ou mesmo da prestação de apoio prático aos diferentes estados membros.
O compromisso com a promoção da segurança e saúde no trabalho através de estratégias de empowerment a partir da infância, pode ser um caminho a considerar, se queremos efetivamente contrariar as estatísticas no futuro.