Autor:
Prof. Doutor Casimiro Ramos, Coordenador científico do Mestrado em Potencial Humano do ISG – Instituto Superior de Gestão
Ao longo dos tempos, as atividades profissionais que a humanidade foi desenvolvendo tiveram profundas mudanças, sendo comum o surgimento de novas profissões, ao mesmo tempo que outras se foram tornando obsoletas.
Esse fenómeno tem estado, quase sempre, associado ao desenvolvimento de novas técnicas de trabalho e, no último século, pelas inovações tecnológicas que foram surgindo a um ritmo alucinante. Tal facto trouxe associada uma melhor qualidade de vida da população mundial e consequentemente um modo de vida alimentado pela realização de sonhos que no passado eram inimagináveis.
Viajar pelo mundo, conhecer outras culturas, cuidar do físico e procurar uma vida saudável, praticar desporto, desfrutar de atividades lúdicas e culturais, impulsionaram um conjunto de atividades associadas à industria do lazer que, quase sem se dar por isso, tem empregado uma percentagem muito significativa da população ativa.
A prática de todo o tipo de desportos, ginásios, artes marciais, yoga, grupos musicais, cantores, artistas de todas as áreas e para todos os gostos, cursos de turismo e de alta cozinha, instrutores de desportos radicais e tantas outras atividades que eram a ocupação de milhões de profissionais e que possibilitava a outros tantos milhões desfrutarem de uma vida social totalmente preenchida, foi inusitadamente, alterada pela crise do Covid-19, que veio modificar todo esse cenário para uma realidade completamente inimaginável.
De repente, ser jogador de futebol pode deixar de ser o sonho de qualquer jovem, bem como ator, cantor ou qualquer outra atividade que esteja associada a uma proximidade social dos executantes e dos participantes.
Inesperadamente, o que era dado como certo passou a ser inseguro e o que era incerto passou a ser uma possibilidade de singrar na vida.
Questionar-nos-emos então. Mas quais serão, agora, as novas oportunidades?
Perante um cenário de vida social diferente, em qualquer momento da história da humanidade, há algo que se manterá sempre como uma necessidade: sobrevivência. Para sobreviver, os seres humanos precisam de se alimentar, abrigar e procriar. Tudo o que seja acessório ficará para segundo plano, pois uma percentagem significativa da população não terá sequer possibilidades financeiras para usufruir de muito mais. E, se não há procura, desaparece a oferta.
Estaremos então a assistir a um retrocesso do predomínio das atividades do sector terciário para o primário?
Talvez não, pelo menos de uma forma tão evidente. Mas, decerto que com as limitações de circulação de pessoas e de bens pelo mundo, cada país, cada região, cada agregado familiar procurará encontrar formas de autossubsistência ou, pelo menos, de não tão grande dependência de terceiros.
Claro que muitos sustentam que estamos numa situação passageira e que tudo voltará a ser como antes. Não sendo pessimista, mas simplesmente cauteloso, faço parte dos que acham que muitas das coisas não voltarão a ser como antes, ou pelo menos como nós estávamos habituados a que fossem.
Mas se tudo, ou quase tudo, muda tão rapidamente, não haverá nada mais sólido que resista a esta adaptação forçada? Há sim. Há uma atividade que é imprescindível nas sociedades organizadas: os gestores de pessoas.
Do chefe do clã ao CEO, ao longo dos tempos, em todas as organizações, em todas as atividades, o responsável de equipa tem sempre de existir: para planear, organizar, motivar, coordenar e decidir. Num cenário de aumento exponencial do exercício das atividades em teletrabalho, as estruturas organizacionais terão, necessariamente, de se tornarem mais descentralizadas, com mais subchefias e equipas mais pequenas.
E isso necessita de mais pessoas formadas em gestão de recursos humanos. É essa uma clara oportunidade para os jovens que procuram uma formação superior com um futuro menos inseguro e mais promissor. Porque não se nasce líder. Aprendem-se e melhoram-se as competências daquela que é a função que nunca desaparecerá.