Kelly McGonigal, psicóloga, apresentou numa TED Talk uma nova forma de sentir e de abordar o stress. Durante muitos anos, a profissional olhou para o stress como o inimigo da saúde pública – mas mudou a sua visão e pretende mudar a visão do público também.
McGonigal começa a sua TED Talk apresentando um estudo que acompanhou cerca de 30 mil adultos nos Estados Unidos durante oito anos. Este estudo consistiu em perguntar aos participantes, numa primeira instância, quanto stress tinham sentido no último ano. Ao mesmo tempo, os investigadores perguntavam também aos participantes se achavam que o stress era prejudicial à saúde. Para determinar os resultados, os pesquisadores avaliaram os registos de óbitos durante os cinco anos seguintes para verificarem quem tinha morrido.
A pesquisa verificou que quem tinha sentido muito stress tinha um risco acrescido em 43% de morrer. No entanto, isto era apenas válido para pessoas que também acreditavam que o stress era prejudicial à saúde. Ou seja: pessoas que sentiam muito stress mas que não o viam como um inimigo da saúde não estavam mais propensas a complicações. Aliás, tinham até o menor risco de morrer entre todos os participantes, incluindo aqueles que sentiam pouco stress.
Durante os oito anos do estudo, investigadores estimaram que 182 mil norte-americanos morreram prematuramente – não de stress, mas da crença de que o stress era perigoso e maligno.
A pesquisa alertou e preocupou a profissional e fê-la pensar: Será que mudar a forma como vemos o stress o pode tornar mais saudável? A ciência diz que sim. Quando mudamos a maneira de pensar o stress, mudamos também a resposta do nosso corpo ao stress.
Na sua TED Talk, Kelly McGonigal pede aos espectadores para imaginarem que são participantes de um estudo que está construído e concebido para fazer as pessoas sentirem stress: o teste de stress social. Neste teste, um participante era informado de que teria de dar um discurso improvisado de cinco minutos sobre as suas fraquezas pessoais a um painel de avaliadores especialistas. Neste cenário, luzes brilhantes e uma câmara apontariam para o participante, e os avaliadores teriam sido treinados para dar um feedback não verbal e desencorajador. E depois de tudo isto? Um teste de matemática, em que o experimentador teria sido treinado para incomodar o participante que o realiza.
A psicóloga remete para o que aconteceria ao participante durante este teste: o coração bateria com mais força, a respiração aceleraria, e o suor escorreria: a pessoa estaria, oficialmente, stressada. Kelly McGonigal fala-nos sobre a interpretação que fazemos destas alterações físicas. Rapidamente, interpretaríamos estas reações como ansiedade ou como sinais de que não estaríamos a lidar muito bem com a pressão. Mas, e se os virmos como sinais de que o nosso corpo está energizado, e a preparar-nos para enfrentar o desafio? Foi isto que foi dito aos participantes de um estudo conduzido na Universidade de Harvard.
Antes destes participantes passarem pelo teste de stress social, foram ensinados a repensar o stress: a considerar a resposta ao stress como útil. Entender um coração a bater mais forte como uma preparação para ação; entender a respiração mais acelerada como uma forma de fazer o oxigénio chegar em maior quantidade ao cérebro.
O resultado? Os participantes aprenderam a ver a resposta ao stress como útil ao seu desempenho, e ficaram menos stressados, menos ansiosos, mais confiantes, e a resposta física alterou-se.
Numa típica resposta ao stress, a frequência cardíaca aumenta e os vasos sanguíneos contraem-se – razão pela qual o stress crónico é muitas vezes associado a doenças cardiovasculares. Ora, nos participantes que viram o stress como útil, os vasos sanguíneos permaneceram relaxados. O coração ainda batia depressa mas o perfil cardiovascular tornou-se muito mais saudável – algo que se assemelha ao que acontece em momentos de alegria ou de coragem. Segundo Kelly McGonigal, esta alteração biológica pode ser a diferença entre ter um ataque cardíaco induzido pelo stress aos 50 anos ou viver bem até aos 90 anos.
A ciência revela que a maneira como pensamos o stress importa. Foi graças a estes estudos que a visão da psicóloga se alterou: Kelly McGonigal já não quer que as pessoas se livrem do stress; quer, sim, que elas fiquem melhores a lidar e a viver com ele. Se pensarmos «isto é o meu corpo a ajudar-me a estar à altura do desafio», o corpo vai acreditar neste pensamento e a resposta vai tornar-se mais saudável.
No decorrer da sua TED Talk, McGonigal aborda ainda mais uma resposta biológica: o stress torna-nos sociais. Porquê? Mais uma vez, a resposta encontra-se na ciência. A oxitocina, além de ser uma hormona, é também um neurotransmissor que afina com precisão os instintos sociais do nosso cérebro. Isto é, leva-nos a fazer coisas que reforçam as nossas relações próximas: faz-nos desejar contacto físico com família e amigos, aumenta a empatia, torna-nos mais prontos a ajudar e a apoiar pessoas com quem nos preocupamos. Mas eis o que as pessoas desconhecem: é uma hormona do stress. A glândula pituitária bombeia a oxitocina para o exterior como parte da resposta ao stress.
E quando a oxitocina é libertada nesta resposta, está a motivar-nos para procurarmos apoio. A resposta biológica do nosso corpo ao stress está a dizer-nos para estabelecermos uma ligação com alguém e exprimirmos as emoções, ao invés de as acumularmos. E como é que conhecer este lado do stress nos pode tornar mais saudáveis?
A oxitocina não atua apenas no cérebro, mas também no corpo. E uma das suas principais funções no corpo é proteger o sistema cardiovascular dos efeitos do stress. No fundo, e tal como refere Kelly McGonigal, funciona como um anti-inflamatório natural, pois ajuda os vasos sanguíneos a manterem-se relaxados. O coração tem recetores para esta hormona e a oxitocina ajuda o coração a regenerar-se e a recuperar de qualquer dano induzido pelo stress. Estes benefícios físicos da oxitocina aumentam com o contacto e apoio social.
Por isso, se procurar o apoio de alguém, ou até se ajudar alguém, libertará esta hormona e a resposta ao stress tornar-se-á mais saudável.
Tal como aponta McGonigal, temos dentro de nós um mecanismo incorporado para a resiliência ao stress – e esse mecanismo são as ligações humanas.
Num outro estudo, abordado pela psicóloga, foram seguidos cerca de mil adultos nos EUA, com idades compreendidas entre os 34 e os 93 anos. Nesta pesquisa, foi avaliada a quantidade de stress sentida pelos participantes, mas também o tempo dispensado a ajudar amigos, vizinhos ou pessoas na comunidade. Aqueles que tinham dispensado tempo a cuidar dos outros não tinham maior probabilidade de morrer relacionada com o stress. Cuidar de alguém, no fundo, cria resiliência.
Kelly McGonigal termina a sua apresentação argumentando que os efeitos prejudiciais do stress na saúde não são inevitáveis: como pensamos, e como agimos, pode transformar as nossas experiências de stress. Quando escolhemos ver o stress como algo útil e quando escolhemos estabelecer ligações humanas com os outros, criamos resiliência e recriamos a biologia da coragem.
No fundo, estamos a fazer uma afirmação muito mais profunda: estamos a dizer que podemos confiar em nós próprios para enfrentar os desafios da vida e que podemos contar com os outros para não os enfrentarmos sozinhos.
ASSINE AQUI A NOSSA NEWSLETTER SEMANAL E RECEBA OS MELHORES ARTIGOS DA SEMANA!