Qual filme de ficção, no momento em que escrevo estas linhas, toda a população de Itália, cerca de 60 milhões de pessoas, está isolada, devido ao surto de Covid-19 que colocou todo o mundo (com acesso a comunicação social) em estado de pré-pânico. Refiro-me especificamente a Itália porque é aqui ao lado, ao virar da esquina e, sem dúvida que nem uma realização de Ed Wood poderia retratar esta situação.
Sem entrar na discussão do pânico generalizado ou da péssima e alarmista comunicação dos media, o facto é que, como em qualquer epidemia, se devem seguir as orientações oficiais dos organismos de saúde e agir prudentemente no campo preventivo perante uma ameaça real. E por isso parar e ficar em casa, se forem essas as indicações. No médio prazo espera-se que o impacto que tudo isto vai ter na economia a nível mundial terá consequências imensas. Para muitas empresas o custo é já no imediato.
Quando pensámos e criámos esta empresa estava subjacente a ideia de que, num curtíssimo espaço de tempo no mundo 4.0, todos os processos iriam ser digitalizados. Por sermos profissionais de pessoas, conseguíamos antever todos os que iriam ficar obsoletos antes dos 40 anos por nada ser feito para acompanhar essas alterações externas. Esta preocupação social inspirou-nos a promover a capacitação das pessoas e das empresas para a transformação digital que já aí estava. E tornou-se o core na nossa organização.
Aquando da crise financeira mundial pós subprime muitas empresas tiveram de reduzir drasticamente os seus custos, moralizando muitas práticas luxuosas e desnecessárias utilizadas com normalidade. Na realidade, após ultrapassar a crise, as práticas passaram a ser mais racionais, mais contidas e menos faraónicas em muitas organizações. Ou seja, houve medidas que se tornaram permanentes e que continuam em vigor. Nessa época, pensando nos processos de selecção a nível nacional e estimando os custos de deslocação de candidatos e de recrutadores, bem como aluguer de espaços para a realização dos processos, começamos a utilizar e desenvolver provas online, business cases e assessment centre remotos. Apesar de todos os estudos psicométricos e de toda a referenciação internacional, muitas empresas em Portugal (incluindo grandes empresas) olhavam com suspeita, optando por continuar a utilizar os mesmos processos de sempre, usando o papel e lápis e repetindo os mesmos procedimentos de meados do século XX.
Mas, no momento actual, estão a ser cancelados eventos, reuniões, concertos, viagens e até missas! Recomenda-se o teletrabalho, chegando a haver empresas que em uma semana adquiriram mais de 2000 portáteis! Encontram-se a decorrer muitos projectos de Trainees para grandes empresas! E, de repente, não é aconselhável juntar pessoas, fazê-las deslocar ou interagir….
E o online, o remoto, passa a ser usado. E validado empiricamente. Funciona (já estava validado cientificamente). Tudo pode ser feito sem sair de casa. E é rápido, menos oneroso, fornece data… nos últimos tempos foi reavivado o contato, o conceito e, naturalmente a utilização. E a compra. E a utilização recorrente de ferramentas online.
É um sentimento estranho obter benefício através de um produto devido ao medo de contágio de um vírus. Mas, quando passar o medo da epidemia e o nosso mundo voltar ao seu normal – lutando com os graves problemas financeiros que muitas empresas vão sofrer – o remoto, o online, o teletrabalho já terão mostrado que vieram para ficar. E, além de ser melhor, reduz custos significativos. Mesmo em quarentena – que o diga a Netflix…