O “Programa-Piloto Semana de 4 Dias” irá arrancar já em junho e as empresas interessadas em participar tiveram oportunidade de submeter a sua inscrição até ao dia 20 de janeiro.
Foram 99 as empresas inscritas no projeto que tiveram, ao longo dos últimos meses, acesso a diversas sessões de esclarecimento onde foi explicada a filosofia do projeto, “bem como como as principais vantagens da semana de quatro dias para as empresas”, pode ler-se no relatório divulgado pelo IEFP sobre as principais conclusões desta primeira fase.
“Pedimos aos gestores que ponderassem se a semana de trabalho de quatro dias poderia ser um instrumento que se enquadrasse na visão estratégica que têm para as suas empresas, ora permitindo que estas se diferenciassem positivamente em relação à concorrência, ora sendo uma solução para eventuais problemas que enfrentassem”, descrevem também os coordenadores do projeto.
Das 99 empresas inscritas, menos de metade avançarão para a segunda fase
Das 99 empresas inscritas, apenas 46 decidiram avançar para a segunda fase do projeto, onde será elaborado um plano de teste da semana de quatro dias para cada empresa, à medida das suas especificidades.
Para estas, os próximos três meses serão dedicadas à realização de sessões de formação e mentoring dinamizadas pela equipa do piloto, em parceria com a 4 Day Week Global. As empresas participantes terão ainda acesso às plataformas da 4 Day Week Global, onde terão acesso a casos práticos, sessões gravadas a dar a conhecer diferentes pilotos mundiais, respostas a perguntas frequentes, e um extenso leque de material de investigação sobre a semana de quatro dias.
As empresas vão poder ajustar o plano à sua medida, no entanto, terão de cumprir alguns requisitos impostos pelo piloto: a experiência não pode envolver corte salarial, e tem de implicar uma redução de horas semanais. Uma vez que o Estado não oferece nenhuma contrapartida financeira, não será estipulado um número de horas semanais exatas, que podem ser 32 horas, 34, horas, 36 horas, definidas por acordo entre a gestão e os trabalhadores.
A semana de 4 dias terá, também, de envolver a grande maioria dos trabalhadores, com exceção das grandes empresas, onde pode este modelo de trabalho ser testado em apenas alguns estabelecimentos ou departamentos.
Isto significa que a semana de 4 dias não pode simplesmente ser encarada como uma semana com um dia extra de folga, em que a forma de trabalhar se mantém semelhante ao que era dantes. As empresas terão de transformar a sua forma de trabalhar e não simplesmente encolher a as 40 horas semanais em 4 dias.
O perfil das empresas inscritas
Das 99 empresas que decidiram inscrever-se no piloto até ao final de janeiro, muitas estão localizadas na área de Lisboa (23 empresas em Lisboa e 8 em Oeiras). A região do Porto contou com 7 empresas e Coimbra com 4, enquanto as restantes 57 estão dispersas por todo o país, incluindo uma empresa situada nos Açores.
Em termos de setores de atividade, várias empresas de consultoria, informática e de “escritório” decidiram avançar com a sua inscrição, mas verificou-se também um interesse por parte de empresas da indústria, comércio, construção, educação e atividades de saúde humana e apoio social. Já em termos de dimensão, as empresas também são representativas da estrutura empresarial que caracteriza o tecido produtivo em Portugal, com preponderância de empresas de menor dimensão.
Metade das empresas têm menos de 20 trabalhadores. Ainda assim, 11 grandes empresas com mais de 1000 trabalhadores mostraram interesse no piloto.
Para a grande maioria das empresas inscritas, a preocupação em oferecer um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e em aumentar a satisfação dos seus colaboradores estava na origem da sua decisão.
No entanto, 53 das empresas inscritas não vão avançar com o projeto e apenas 26 deram alguma justificação para tal, tendo apontado as atuais condições macroeconómicas como maior obstáculo.
Quem são as empresas que vão avançar para a segunda fase?
As 46 empresas que vão avançar para a segunda fase mantêm a representatividade a nível geográfico, setorial e de dimensão. Os distritos de Lisboa (11 empresas), Porto (8), Coimbra (5), Braga (4), Beja (3), Faro (3), Aveiro (2), Santarém (2), Viana do Castelo (2), Guarda (1), Leiria (1), Viseu (1) e Açores (1) estão representados. Já Setúbal e Açores deixam de ter participação no projeto.
Quanto aos setores, estes mantêm-se os mesmos, à exceção de uma empresa na área de construção de outras obras de engenharia civil, uma de instalação de canalizações e distribuição de água e uma fundação cultural, que decidiram não avançar. Das 11 empresas com mais de 1000 trabalhadores que se interessaram pelo projeto, apenas 5 decidiram avançar.
No entanto, avança o relatório, “não é esperado que estas empresas adotem a semana de quatro dias com todos os seus trabalhadores, mas que façam um teste num departamento que seja representativo”. “Sentimos uma grande abertura da sua parte ao projeto, mas sentimos também que alguns tiveram dificuldades a persuadir os administradores. Entre as grandes empresas participantes, três das empresas tiveram um contacto direto da nossa equipa com os administradores para responder às dúvidas existentes. Numa outra, a participação deveu-se a um esforço meritório da direção de recursos humanos em preparar um business case capaz de persuadir a administração dos benefícios de testar a semana de quatro dias”, pode ler-se no documento redigido pelos coordenadores do projeto.
Apesar de terem decidido avançar, estas 46 empresas apresentam algumas preocupações. Quebra na produtividade, percepção do cliente, sobrecarga de trabalho devido à redução do número de horas semanais e custos associados são algumas das preocupações demonstradas pelas empresas que vão agora avançar para a segunda fase do piloto.
Além das seis empresas que deram o seu testemunho nas sessões de esclarecimento promovidas nos últimos meses, duas outras empresas já tinham começado a sua experiência com a semana de quatro dias, e, por esse motivo, ficaram como empresas associadas ao projeto, com acesso a todos os apoios do programa piloto. No total, são oito agora as empresas associadas.
Resultados da semana de 4 dias de uma das empresas associadas já são conhecidos
A maioria iniciou a experiência em 2022, como é o caso da 360imprimir/Bizay, que iniciou a sua semana de 4 dias em outubro de 2022. A empresa auscultou os seus colaboradores para fazer uma análise do impacto que a semana de 4 dias teve durante os seus primeiros meses de atuação e chegou à conclusão de que esta foi responsável por aumento do bem-estar dos colaboradores, sem uma quebra na sua produtividade.
O primeiro trimestre revelou uma quebra de 6.4% no volume de trabalho gerado, resultado positivo quando comparado com a redução prevista para o número de horas trabalhadas (7%). A produtividade, no entanto, registou um aumento ligeiro(+0.6%). Ao contrário das expetativas da empresa, os resultados do barómetro mostraram um aumento da taxa de absentismo.
A nível de atração de talento, o facto de ter implementado a semana de 4 dias mostrou-se um sucesso, com a 360imprimir/Bizay a registar um aumento de 297% nas candidaturas face ao trimestre anterior, antes da implementação do modelo. Já em relação à retenção de talento verificou-se uma redução de 36% de taxa de saída em comparação ao período homólogo, com 90% dos colaboradores a dizerem que recomendariam a empresa como lugar para trabalhar e 93% a imaginar-se a trabalhar na empresa daqui a 1 ano.
O efeito positivo na retenção refletiu-se na queda da taxa de turnover, mas também no facto de 75% dos colaboradores da 360imprimir/Bizay, afirmarem que precisariam de um aumento salarial de pelo menos 30% para considerarem voltar a trabalhar 5 dias por semana.
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