O Grupo Jerónimo Martins tem mantido o foco na área da responsabilidade social interna, com iniciativas que procuram melhorar a qualidade de vida dos colaboradores. Uma das preocupações vinculadas na cultura e nos valores da empresa passa igualmente pela inclusão social. A RHmagazine esteve à conversa com Susana Correia de Campos, Head of Corporate Employer Relations and Internal Social Responsibility do Grupo Jerónimo Martins, para perceber que iniciativas e boas-práticas têm sido implementadas na empresa.
Há mais de 10 anos que o Grupo Jerónimo Martins criou a área de responsabilidade social interna. Porque tomaram essa decisão?
A área de responsabilidade social interna, que designamos Por Nós, foi formalizada há uma década, mas
a sua missão de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de todos os colaboradores das nossas companhias e respetivas famílias confunde-se com a história do Grupo.
A preocupação com os colaboradores e suas famílias, designadamente, no que respeita aos colaboradores com filhos ou em situação de maior vulnerabilidade, levou a que o Grupo estabelecesse, ao longo dos anos, um conjunto alargado de apoios nas áreas de saúde, educação ou bem-estar familiar. A atenção aos nossos colaboradores constitui um legado da nossa cultura enquanto empresa, que procuramos transmitir a todos os que entram para o Grupo e fazer refletir nas políticas e práticas que implementamos.
Em que consiste o programa Por Nós?
O nosso programa de responsabilidade social interna tem como objetivo desenvolver ações e iniciativas em áreas prioritárias para a qualidade de vida das nossas pessoas, procurando complementar as respostas existentes no Estado.
A título de exemplo, salientamos os nossos programas de apoio na área da saúde, como o programa de apoio às famílias com crianças e jovens portadoras de doenças raras, o protocolo com a Fundação Champalimaud, para o apoio a pessoas a quem é diagnosticado cancro, ou o SOS Dentista, um programa que possibilita o acesso a tratamentos dentários mediante um pagamento simbólico.
Também o programa de bolsas de estudo para colaboradores e familiares, a campanha de regresso às aulas que inclui o apoio na compra de livros e material escolar, ou os campos de férias são exemplos de medidas implementadas na área da educação, algumas das quais já com quase uma década.
Também como resposta aos desafios e dificuldades provocadas pela pandemia, reforçámos os nossos programas de psicologia, incluindo a psicologia infantil, e oferecemos tablets e computadores, mediante comparticipação simbólica, aos filhos dos nossos colaboradores, que, de outro modo, não poderiam aceder à escola online.
De referir, ainda, o Fundo de Emergência Social, criado em 2011 para responder a pedidos de apoio de colaboradores que se encontram em situação de vulnerabilidade ou emergência social. Em 2020, mais de 1100 colaboradores foram apoiados por este fundo. A intervenção junto das famílias é desenvolvida por uma equipa de assistentes sociais que fazem um diagnóstico da situação económica, social, profissional e educacional dos colaboradores apoiados, com o objetivo de desenvolver planos de intervenção integrados e estruturais.
Mais do que um apoio pontual, o Fundo de Emergência Social procura dotar os nossos colaboradores com ferramentas essenciais para efetuarem mudanças significativas e estruturais na sua vida futura.
Estes apoios são dados – de forma isolada ou integrada – em cinco áreas de atuação: alimentação, saúde, educação, aconselhamento jurídico e orientação financeira. A respetiva intervenção concretiza-se através de medidas internas do Fundo de Emergência Social ou de encaminhamento e articulação para entidades da comunidade.
Uma das vossas áreas de atuação atualmente é a empresa inclusiva. Qual é a vossa visão desta empresa inclusiva?
Nos últimos cinco anos, temos vindo a desenvolver um programa de inclusão social denominado Programa Incluir, que tem como objetivo a empregabilidade de pessoas vulneráveis no acesso ao mercado de trabalho, destacando-se as pessoas portadoras de deficiência, migrantes e refugiados, e pessoas em situação de elevado risco social. Esta é uma forma de contribuir para a inclusão no mercado de trabalho de pessoas a quem, habitualmente, são dadas muito poucas hipóteses. Por exemplo, há pais que nos relatam que, antes desta possibilidade que é dada aos seus filhos através do Programa Incluir, eles esbarravam logo na fase de entrevista para um emprego, porque não se sentiam confortáveis num formato padronizado.
Enquanto empregador responsável, entendemos ser nosso dever ter uma abordagem inclusiva às comunidades onde estamos presentes, com a consciência de que a promoção da inclusão social contribui para a eliminação das desigualdades e para o combate à pobreza.
Acima de tudo, implementámos este programa com a forte convicção de que não existem pessoas sem capacidades, mas sim pessoas sem oportunidades, e fazemo-lo suportados por uma cultura inclusiva.
“Enquanto empregador responsável, entendemos ser nosso dever ter uma abordagem inclusiva às comunidades onde estamos presentes”
Muitas vezes, quando pensamos em inclusão, pensamos na integração de pessoas portadoras de deficiência na empresa. Ora, isso nem sempre é possível. Sei que, na JM, uma das ações que põem em prática é comprar produtos de IPSS que dão trabalho a pessoas com deficiência. Pode-nos dar exemplos de casos de inclusão pela economia social?
Posso dar o exemplo do Mercado Social, um projeto que o Pingo Doce iniciou em 2018 e que visa apoiar instituições do terceiro setor que tenham produção alimentar própria, disponibilizando-lhes, em loja, um espaço dedicado à comercialização dos seus produtos, cujo valor da venda reverte na totalidade para as instituições em causa: Mercearia Semear da Associação BIPP, Casa dos Sabores da Casa de Protecção e Amparo de Santo António, CERCICA – Cooperativa para a Educação e Reabilitação de Cidadãos Inadaptados de Cascais e delegação de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa.
Na origem desta entrevista está o lançamento do Toolkit “Como recrutar e integrar pessoas com deficiência”, lançado pelo Grace, e que conta com o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Vocês são um dos exemplos de boas práticas também aqui. Pode-nos explicar o que fazem e como o fazem?
O toolkit lançado pelo Grace é uma iniciativa muito importante no âmbito da inclusão social e cumpre o papel crucial de pôr em comum boas práticas, desafios e iniciativas na área da empregabilidade de pessoas com deficiência que podem orientar e inspirar cada vez mais empresas a adotar práticas inclusivas.
Nos últimos seis anos, alicerçados numa rede de parceiros especialistas nas suas áreas de atuação, temos vindo a desenvolver boas práticas internas de acolhimento, formação prática em contexto de trabalho e acompanhamento dos candidatos, com destaque para o papel dos tutores das companhias e para a criação de oportunidades customizadas que estimulam novos percursos de vida.
Esta entrevista foi publicada na edição n.º 133 da RHmagazine, referente aos meses de março/abril de 2021.