Uma das actividades que gosto muito de fazer nesta fase da minha carreira é acompanhar pessoas mais jovens, em etapas de vida e de carreira, para as quais os meus anos de vida e de experiência podem constituir uma mais-valia ou, simplesmente uma opinião que pode funcionar como teaser para tomar decisões. Por isso acompanho várias pessoas em processos de mentoring, em alguns casos, mais orientados para mulheres que aspiram a funções de liderança nos locais onde trabalham.
Há uns dias almoçava com uma dessas mulheres, quadro superior numa grande empresa. Dotada de uma formação invejável, de uma inteligência cognitiva e emocional notórias, com avaliações de desempenho notáveis (que ficam na gaveta porque continuam a não servir para quase nada), esta mulher encontra-se numa fase de vida crucial para a sua carreira: acabou de regressar ao trabalho após ser mãe pela segunda vez. Ou seja, na casa dos 30 anos.
De entre as várias coisas de que conversámos, ela trazia uma pergunta sobre algo que a estava a preocupar: o que faço para me manter actualizada neste novo mundo digital? Onde aprendo? Quem me pode ir ajudando?
E, de facto, é fácil hoje em dia, ficarmos completamente “out” de uma conversa à nossa volta: diferença entre darkweb e deepweb, mooc, teams, slack, licenças creative common, atributos htlm, estado no WhatsApp…. etc… etc… (quando sair este artigo haverá já milhares de novas “palavras”)
Eu que venho de uma geração puramente analógica e que faço malabarismos para me manter à tona de água, tive que lhe dizer que, para além de umas banalidades óbvias não havia muito quem a pudesse ajudar a não ser ela própria. Compreender que o mundo está digital e que o analógico morreu não é difícil. Difícil é não ficar obsoleto. Difícil é ser um super expert sem ser obsoleto noutros aspectos da vida.
E, de repente, ficou-me muito evidente o surgimento de uma nova “não-competência” um descarrilador de personalidade, um entrave de comunicação a que decidi designar como: arrogância digital!
A arrogância digital revela-se nos modos, na superioridade “intelectual” com que os demais mortais são olhados. O arrogante digital não ensina, não ajuda, não transmite. Não o faz para ser doloso mas fá-lo por ignorância comunicacional. É como se o outro, tivesse um defeito de nascença e essa incapacidade se revelasse nos dias que atravessamos.
No final dos anos 90 a linguagem de programação Cobol tinha caído em desuso. Com o aproximar do ano 2000, surgiu o pânico do “bug do ano 2000” e foi necessário ir rever quase tudo à luz do Cobol. Nessa época, bastava “parecer” que se sabia Cobol para ter uma remuneração muitíssimo interessante. É assim na História. Ciclos de revolução e de contra-revolução e de nova revolução, por aí fora. A moda é apenas um conceito estatístico e “moderno” não é sinónimo de “melhor”. Mesmo num mundo digital e em constante mudança (já nos dizia Luis Vaz de Camões) as pessoas vão continuar a ser pessoas: pelo menos a nascer e a morrer.
Pensei então na pergunta da minha mentee: quem me pode ajudar nesta fase? E a resposta é a mesma de há 20 anos atrás: depende muito dela. Já o “como” é um pouco diferente: a procura de informação é mais exigente e os fóruns são outros. Nós, por exemplo, temos o foco de formação nesta área. O que se mantém igual é que a ajuda do outro continua a ser igual: e depende do outro. Do que sabe mais ou que tem mais experiência.