O problema com as situações de imprevibilidade é que forçam os nossos cérebros a contrariar a sua natural tendência para funcionar em “modo de repouso”. O desconforto sentido com essa “contrariedade” é a principal causa que nos leva a atualizar mecanismos de defesa contra a “novidade”, fenómeno que é habitualmente conhecido na linguagem organizacional como “resistências à mudança”.
Quanto mais a situação em causa for sentida como ameaçadora, maior é a tendência de cada pessoa para a ela “reagir” através de respostas emocionais intensas, muitas vezes desconexas e descontroladas, que acabam por provocar comportamentos indesejados e, sobretudo, pouco eficazes para a resolução das situações. Esse é o grande problema das atitudes e dos comportamentos reativos: são rápidos, espontâneos, catárticos e verdadeiros, mas, cotejando a famosa anedota sobre os consultores, “não adiantam nada”.
Atualmente, com a recente entrada do surto epidémico do coronavírus na fase mais crítica de “mitigação” e com a catastrófica situação económica que se adivinha e que pode pôr seriamente em causa muitos dos nossos planos e projetos de futuro, vivemos num ambiente propício à escalada de emoções disruptivas e aos consequentes e típicos comportamentos reativos de desnorte, ansiedade aguda e depressão, que coincidem, aliás, com toda a teorização que tem vindo a ser feita sobre os fenómenos psicossociológicos característicos dos momentos de mudança profunda.
Mas uma coisa é conhecermos e compreendermos as teorias sobre a mudança; outra coisa, bem diferente, é confrontarmo-nos direta e dramaticamente com a sua prática.
Subitamente, sem nunca sequer nos ter passado pela cabeça que uma coisa destas poderia ocorrer nos anos 20 do século XXI, grande parte da estrutura social em que assenta o nosso sentimento de segurança existencial e a nossa esperança de futuro, encontra-se à beira do colapso.
Vivemos no próprio cerne de um universo cujas características se situam algures entre o irreal e o absurdo e a brutal dimensão da mudança que enfrentamos e a angustiante incerteza da sua imprevisibilidade, convocam a irrupção desordenada de algumas das emoções mais primárias e larvares do ser humano que sustentaram por milénios a nossa luta filogenética pela sobrevivência: a surpresa ansiosa perante o atípico, a raiva pela ameaça ao “status quo” e o medo irracional do desconhecido.
Toda a gente sabe, percebe ou pressente que a situação é grave; e toda a gente sabe ou percebe o que sente perante essa gravidade.
O que fazer? Alguns, tentando fintar o medo com uma equívoca aparência de normalidade, vão assobiando para o lado à espera “que a coisa passe”; outros, pelo contrário, denunciam profeticamente a mancomunação da Natureza com o “Anti Cristo” e vislumbram, na crise, os prenúncios do Apocalipse; a maior parte, no entanto, embora encarando os acontecimentos com a maior apreensão, ensaia estratégias de resposta, mobilizando um esforço adaptativo cuja intensidade é diretamente proporcional à sua capacidade de controlar as emoções.
E é justamente aqui que é essencial que nos centremos.
Tal como insistentemente se afirma nos fóruns de desenvolvimento pessoal, as respostas reativas não passam de meras exorcizações de emoções negativas, conduzindo com frequência a desvios da nossa atenção para coisas que estão para além do âmbito do nosso controlo e do nosso raio de ação.
Não é disso que precisamos.
É preciso, sim, manter o foco, dominar o medo através de uma visão informada e realista, e adaptarmo-nos às situações da forma mais positiva que nos for possível.
E manter bem firme um propósito claro e mobilizador como orientador das nossas ações. Porque só a força de um propósito maior é suficientemente poderosa para nos libertarmos das divagações ansiosas e contra produtivas da mente e agirmos proactivamente na reconcepção de um novo sentido de futuro.