A recrutar para os quatro escritórios em Portugal e para os nove espalhados pelo mundo, a Farfetch procura que os futuros colaboradores se integrem na sua cultura e sejam felizes.
Cultura é a palavra que define o unicórnio português fundado por José Neves. Todos, e são mais de três mil colaboradores em Portugal e no mundo, vivem a cultura Farfetch – o “elemento aglutinador” das 56 nacionalidades que, em equipa, contribuem para os resultados, que também são deles, como afirmou o fundador da plataforma tecnológica de moda de luxo aquando da sua estreia na bolsa de Nova Iorque, em setembro. No recrutamento, alheio a geografias, importa à Farfetch perceber, contou Ana Sousa, VP People, à RHmagazine, em novembro do ano passado, se os candidatos serão felizes na cultura da empresa e se serão seus embaixadores.
Várias são as intervenções do fundador da Farfetch, José Neves, acerca da missão e dos valores da empresa. Esta preocupação está presente quando recrutam novos profissionais?
Procuramos que a Farfetch seja uma empresa coerente em todos os seus projetos, programas e ciclo de vida do colaborador. A forma que temos de materializar essa coerência é através de uma cultura forte vivida por todos. O José é um líder extremamente inspirador que se preocupa genuinamente com as pessoas e com uma cultura saudável. É o grande promotor dos nossos valores, pelo que se torna mais fácil que a tal coerência exista. Assim, desde um estado muito inicial, quando recrutamos novos profissionais, o nosso trabalho é não só perceber as valências técnicas, mas, sobretudo, perceber se o candidato será feliz numa cultura como a nossa e se será um embaixador dessa cultura.
A união dos colaboradores dispersos por 13 escritórios, localizados em nove países, consegue-se através dessa forte cultura empresarial. Que características a definem e como é que a transmitem em Portugal e internacionalmente?
A palavra-chave aqui é mesmo essa: cultura. É ela o elemento aglutinador que faz com que mais de três mil colaboradores em todo o mundo se entendam, mesmo que tenham 56 nacionalidades diferentes. Claro que há diferenças culturais vincadas, o que é perfeitamente natural quando temos escritórios com pessoas de todo o mundo. O nosso objetivo não é que todos os colaboradores sejam iguais, mas que se reconheçam nos valores e princípios da empresa e que sejam felizes no local de trabalho. Privilegiamos a diferença, embora tenha de haver princípios básicos orientadores que sejam comuns e isso consegue-se através da tradução dos nossos valores em comportamentos, que têm de estar presentes em todos os nossos fóruns de atuação.
Os vistos de trabalho são um problema no recrutamento?
Temos conseguido sempre lidar com essas situações. Felizmente, de uma forma geral, os vistos de trabalho não têm sido um obstáculo à contratação. Podem demorar algum tempo, mas temos conseguido diminuir o tempo de entrada na Farfetch de estrangeiros. Para isso, contribuiu termos especialistas e pessoas na Farfetch dedicadas ao apoio de obtenção dos vistos, o que traz conhecimento interno e acelera o processo.
O recrutamento da Farfetch vive apenas da marca?
Penso que as pessoas já associam a Farfetch a inovação e empreendedorismo. Sabem que é uma empresa global, revolucionária, que tem escritórios onde há lugar para a informalidade e a descontração. Do ponto de vista de employer branding, é muito importante construir a marca e naturalmente todas as empresas têm de ter estratégias para atrair e reter talento, mas o que me parece crítico é ser autêntico. No caso da Farfetch, aquilo que promovemos condiz com o que somos e isso envolve os colaboradores e dá-lhes um sentimento de familiaridade e pertença que é muito importante. A autenticidade é a melhor estratégia.
A palavra-chave aqui é mesmo essa: cultura
A que ferramentas recorrem para recrutar?
Dependendo do perfil e grau de senioridade, utilizamos ferramentas e abordagens diferentes. Por exemplo, para perfis em início da sua carreira profissional, temos um programa denominado Plug-In, que vai já na terceira edição, com excelentes resultados. Na última edição, recebemos 36 trainees e todos foram convidados a ficar connosco no final do período de estágio. É um programa que está orientado para licenciados que queiram iniciar a sua carreira profissional num contexto que é muito diferente de um comum estágio. No Plug-In, a formação e o desenvolvimento continuam em contexto de trabalho, com um acompanhamento único e muito próximo por parte de mentores que são reconhecidos como os maiores especialistas nestas áreas. Para além de terem a oportunidade de fazer parte deste desafio, que a Farfetch está a liderar, de revolucionar o retalho do futuro. Acabar de sair da faculdade e poder participar em projetos absolutamente transformadores de uma indústria é uma oportunidade fantástica. Para além disso, temos uma ligação muito próxima às universidades. Temos ainda um programa de referenciação, o F-Hunter, onde encorajamos que os nossos colaboradores identifiquem pessoas que consideram que têm as competências técnicas e humanas para trabalharem na Farfetch.
Que etapas integra o processo de recrutamento e quanto tempo demora?
O processo de recrutamento pode variar muito consoante a função e a área para onde se está a recrutar. Temos todas as vagas disponíveis no nosso site, onde os candidatos têm acesso a toda a informação, desde os requisitos ao descritivo da função. As candidaturas são avaliadas, há uma pré-seleção e depois a fase de entrevistas. Em alguns casos, pode justificar-se também pedir que completem um desafio relacionado com a função que irão desempenhar. Levamos muito a sério cada candidatura, porque estamos a falar de pessoas que têm a esperança de fazer parte desta equipa. No meio de tantas boas empresas, decidiram investir tempo a preparar uma candidatura à Farfetch, por isso merecem a nossa atenção, responsabilidade e empenho em todas as fases da candidatura. Diria que em média, desde a submissão da candidatura, ou do contacto directo, até à proposta ser aceite, demoramos 40 dias.
Em março, José Neves dizia, ao jornal Expresso, que daqui a dez anos quer ter criado uma empresa fantástica para se trabalhar, onde as pessoas sejam felizes no trabalho. Trabalham em conjunto para que esse objetivo a longo prazo se concretize todos os dias?
O nosso objetivo, desde o início, é conseguir dar às pessoas um local de trabalho fantástico, com excelentes condições a todos os níveis, ao mesmo tempo que construímos um negócio de sucesso e tentamos revolucionar o comércio. E isso só se faz trabalhando em equipa e olhando com atenção para as pessoas. Damos muita importância ao equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, por isso damos flexibilidade de horários, transporte de e para alguns escritórios e alimentação variada todos os dias. Temos vários espaços para reuniões informais, espaços de descontração, como uma sala de jogos, e aulas de ioga. Investir nas pessoas é muito importante para nós. Outro aspeto a salientar tem a ver com o regresso de alguns colaboradores que em determinado momento optaram por outros desafios profissionais. Temos vários que regressam e afirmam: “é aqui que sou feliz”. Isto dá-nos a motivação e a certeza que estamos a ter impacto na vida das pessoas. Não há empresas perfeitas, mas acreditamos que é possível chegar lá perto.
Que orientação conferem os recursos humanos à vossa administração?
Claramente a people team – é assim que denominamos a equipa de RH – é um parceiro estratégico no negócio. Sentimos que temos espaço para poder sugerir ideias, tomarmos alguns riscos e inovarmos. Não só o José, mas todos os membros do board respeitam muito os programas e projetos que estão ligados ao investimento em pessoas. Um exemplo é a dimensão da people team em Portugal. Somos 70 para uma população de 1.690 colaboradores. São raras as empresas com este rácio. Pode parecer muito, mas há ainda tanto por fazer!
Não há empresas perfeitas, mas acreditamos que é possível chegar lá perto
É vossa pretensão continuarem a contratar e a gerar mais emprego?
Ao longo dos últimos dez anos da nossa existência, temos crescido a um ritmo exponencial. Nos últimos cinco anos, temos vindo a duplicar o número de colaboradores. É natural que comece a existir alguma estabilização. Não fazemos futurologia, mas sabemos que queremos continuar a crescer e a revolucionar a indústria. Para isso, precisamos de pessoas com talento, que acreditem na nossa missão e com vontade de fazer este caminho connosco.