Sabia que inteligência artificial, realidade aumentada e drones podem ajudar a fomentar soft skills? Como a tecnologia está a transformar a formação profissional.
S
erá que alguém com as mais elevadas competências técnicas consegue ser competente, se não corresponder em termos de soft skills? Para Margarida Segard, diretora da ISQ Academy, as competências tecnológicas conduzem os colaboradores até determinado patamar, mas são as soft skills que os fazem chegar ao topo. Foi a partir desta ideia que esta empresa de formação e desenvolvimento do capital humano decidiu aliar a formação técnica à formação em soft skills.
Com mais de 50 anos, o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ) foi criado para garantir aos clientes know-how tecnológico ao nível da inovação, investigação e desenvolvimento. Há 15 anos, iniciou trabalhos numa perspetiva mais holística. Margarida Segard, diretora da academia de formação, fala da importância da inovação, das competências técnicas e soft skills e do papel da inteligência artificial (IA) na formação oferecida.
Aliar tecnologia e soft skills
Atualmente, a ISQ Academy trabalha soft skills como liderança, em programas de e-leadership (liderança em equipas remotas), competências ligadas ao controlo de key performance indicators, mobilização e motivação de equipas, comunicação e competências de inovação e transformação do negócio – as últimas a ganhar relevo com a situação pandémica.
“Se, há uns anos, desenhávamos para as academias das empresas módulos de formação técnicos, com diplomas ou passaportes associados, com níveis de desenvolvimento e de complexidade, responsabilidade e autonomia, hoje acrescem as competências ligadas à inovação, que passaram a ser absolutamente essenciais”, diz à RHmagazine.
Da formação à ação
Para a diretora da ISQ Academy, fomentar a inovação passa por um trabalho continuado, baseado em metodologias de formação-ação.
“Trabalhar a inovação pressupõe um diagnóstico, valorização de todos os momentos de aprendizagem, de partilha de conhecimento, de trabalho em equipa, para se chegar a novas soluções — serviços, produtos ou melhoria de processos internos — que, hoje em dia, estão muito ligadas à tecnologia, como a introdução de soluções de IA”, explica.
A inovação começa no estímulo da criatividade de cada colaborador. Neste âmbito, a ISQ Academy oferece ferramentas às várias equipas, para que passem a valorizar esta competência e a criar estímulos para transformar uma ideia num produto, serviço ou novo processo de trabalho. O objetivo é tornar mais interessante o trabalho de cada um em cada empresa: “Temos de tentar substituir os trabalhos mais rotineiros por soluções que estão à nossa disposição, trabalhamos modelos de design thinking de forma muito proativa.”
“O ideal seria ter formadores com várias competências de transformação, desde as soft skills às tech skills, e que as pudessem potenciar nos colaboradores das empresas ao trabalhar, por exemplo, novos layouts industriais ou soluções 4.0 nas várias linhas de produção. Quando isto não acontece, criamos equipas que trabalham muito bem e interagem entre elas”, acrescenta.
As tech skills conduzem os colaboradores até determinado patamar numa empresa, mas as soft skills levam-nos ao topo
Simuladores, robótica, realidade virtual
Com a pandemia, grande parte da formação da empresa passou a ter um formato online, o qual é impossibilitado apenas quando a área de formação exige muita formação técnica em laboratório. “Desde o gás à soldadura, mas também à robótica, automação, algumas áreas de energia, há uma mais-valia muito grande nos laboratórios presenciais ou híbridos, com formação hands-on, com uso de equipamentos de ponta. Contudo, se há uns anos a nossa formação de catálogo era 80% presencial, hoje em dia é 80% online”, revela a responsável. Na formação à medida das empresas, os decisores de RH e da área da produção ainda preferem o modelo presencial, em Portugal.
Esta realidade é possível graças à existência de simuladores, de software e à intensificação da realidade virtual e aumentada, que é uma forma de, na sua casa, empresa ou escritório, o formando poder experimentar virtualmente os equipamentos da formação tecnológica e perceber como funcionam.
“No âmbito da IA, criámos uma série de soluções, umas que já tínhamos e outras que otimizámos. Mesmo ao nível da gestão de recursos humanos, a IA é absolutamente crítica, pois permite soluções de aprendizagem muito personalizadas, client experience e conteúdos de formação mais interativos e atrativos, mais úteis e mais fun”.
Porque confinamento não tem de ser sinónimo de interromper a formação técnica, a diretora da empresa, que tem uma forte presença em mercados internacionais, dá-nos o exemplo de países como Angola, Moçambique, Argélia e Mauritânia, com os quais trabalham. Embora a viver uma quarentena intransponível, continuaram a fazer praticamente tudo online, em termos de formação e de projetos aprovados. “Em alguns casos específicos vamos mesmo on-site, mas também passámos a usar a formação online como preferencial”.
Artigo publicado na edição n.º 136 da RHmagazine, referente aos meses de setembro/outubro de 2021.