Autora: Joana Santos Silva, Diretora de Inovação e Professora de Estratégia do ISEG Executive Education
Passei os últimos dias a lecionar na Suíça. Mais concretamente, fui dar 25 horas de aulas a Lausanne, ao longo dos últimos três dias. A consequência desta aventura foi ter de comer pão frio todos os pequenos-almoços, enquanto lá estive. Frio, não fresco… Aliás, foi um debate que tive oportunidade de ter com a senhora da padaria.
Em Portugal, seria inédito ou mesmo inaceitável servir pão “fresco”, acabado de sair do frigorífico, a quem quer que fosse. Aliás, temos pão bom. Melhor, temos pão fantástico! Na realidade, entrar numa padaria em Portugal é ter o privilégio de uma experiência sensorial de cheiro, calor, sabor e de convívio. Não é frio, nem fresco…é quente!
O Sul da Europa há muito que parece que se menoriza perante os primos do Norte. Presumivelmente, pela soberania intelectual e económica. Gostava de começar por clarificar que ser mais rico não é sinónimo de ser mais inteligente, educado e mais “cool”. Nunca ninguém teve de me ensinar que o pão sabe melhor quente, saído do forno, com o vapor ainda visível e com um pouco de nada de manteiga, em ponto de fusão.
Se o Sul se sente menorizado pelo Norte, Portugal tem sofrido da síndrome de bullying há anos. Carecemos de um problema de autoestima nacional, há décadas. Não é um atributo de uma pessoa (na perspetiva individual), infelizmente, é algo coletivo.
Quando regressava de avião para a minha querida casa com pão quente, à fantástica cidade que me acolhe, que é Lisboa, e na linha aérea da qual sou “acionista”, tive a oportunidade de assistir a um conjunto de episódios de uma blogger que mostrava os segredos da cidade. Alguns conhecia, outros confesso que fiquei com vontade de conhecer. Foi com um misto de tristeza e orgulho, que observei que muitos dos exemplos eram apresentados pelas mãos de estrangeiros, que tinham visto o potencial em algo português, mas que infelizmente os próprios portugueses tinham ignorado.
Se o Sul se sente menorizado pelo Norte, Portugal tem sofrido da síndrome de bullying há anos
O próprio filme de segurança da TAP, é hoje apresentado nas vozes de estrangeiros do mundo inteiro e nem um “acionista” consta no guião. Clarificando, não conta com a participação de um único português no filme de segurança da própria TAP. Por que será? Seremos piores embaixadores de nós próprios do que os estrangeiros, que em número marginal, escolhem o nosso país?
Temos de voltar ao ponto de fusão!
Por coincidência, foi esta semana que tiveram lugar as celebrações do 25 de abril. Vim da Suíça, mas fui a correr para almoçar à beira-rio, com uma bela paisagem do Tejo, junto dos monumentos das conquistas portuguesas, e a pensar como somos extraordinários.
Seremos piores embaixadores de nós próprios do que os estrangeiros, que em número marginal, escolhem o nosso país?
Somos extraordinários pela nossa história coletiva, contudo também pela nossa capacidade de encaixe. Ainda hoje, “conquistamos” os locais onde trabalhamos e que visitamos por este mundo fora, com a nossa competência, simpatia e humildade. Somos extraordinários, porque temos mais mundo do que aquilo que somos levados a pensar e temos o espírito de aventura. O gosto pela qualidade, pela atenção ao detalhe e pelo requinte está no nosso sangue. Somos extraordinários, porque temos a coragem de sair de casa de coração cheio e de pão quente, para assegurar o melhor para as nossas famílias.
Portugal é um país repleto de pessoas cheias de talento, de qualidades, de capacidades e de vontade de trabalhar. Somos exportadores de talento, há décadas. Somos excelentes professores no sentido de desenvolver pessoas com competências, valores e saber estar. Devemos estar muito orgulhosos, pois somos extraordinários enquanto “organização”. Contamos com pessoas fora de série e isso é a base fundamental para o sucesso – do país e das organizações.
Somos lutadores, criativos, inteligentes, simpáticos e, acima de tudo, extraordinários. E assim, chega de sentimento de menorização. O nosso fado mudou.
Portugal é um país repleto de pessoas cheias de talento, de qualidades, de capacidades e de vontade de trabalhar
Vamos fazer amizade com aqueles que reconhecem o nosso valor. Vamos ignorar aqueles que continuam a puxar o país para baixo. E vamos começar este exercício dentro de fronteiras. Para o bem da nova geração e para aqueles que sonham, trabalham e lutam por um Portugal extraordinário, tão extraordinário como o seu próprio povo – vamos pensar novo e diferente.
Vamos parar de criticar em excesso as estruturas que nos apoiam, vamos eliminar os pensamentos de inveja mesquinha do concorrente do lado e vamos passar das palavras a ações. No dias que seguem a celebração do movimento mais difícil que um povo pode envergar, aquele que muda o próprio sistema de governança, vamos pensar em resultados e não em meios.
Pomos de lado as narrativas e vamos por mãos à obra. Na realidade é nisso que somos bons! O eterno “desenrascanço” português. Fazer muito com pouco, porque ser empreendedor corre-nos no sangue.
Vamos parar de criticar em excesso as estruturas que nos apoiam, vamos eliminar os pensamentos de inveja mesquinha do concorrente do lado e vamos passar das palavras a ações
Fomos sempre destemidos, corajosos e orgulhosos. Vamos voltar às nossas origens. Voltaremos a apoiar-nos mutuamente e ter uma ambição coletiva. Juntos somos mais e melhor. Juntos somos extraordinários.
A cultura das organizações é fundamental, mas a de um país e de um povo é algo que nos une. É uma linha condutora da energia do conjunto alargado de pessoas e de instituições. Representa os valores, a missão e a visão que temos de conjunto. Somos e seremos grandes. Não sabemos menos do que os outros, mesmo que a conta bancária seja mais modesta. Aliás, a modéstia é um valor que nos caracteriza, mas não nos menorizemos.
Vamos defender a nossa cultura, a nossa história e tudo aquilo que nos torna extraordinários! Porque sempre soubemos que o pão é melhor quente.
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Que orgulho em ser portuguesa, e ter lido em bom português uma crónica tão inspiradora!
Parabéns Joana *
“Avante camaradas” sem qualquer conotação!!
Bem dito “professora”!
Já escrevi por vezes mensagens destas, do pão quente português. Vivo fora de Portugal há vários anos e tenho o privilégio de contactar sistematicamente com vários povos de diferentes países e diferentes continentes, e por experiência própria, diária, afirmo categoricamente, nós, portugueses somos os melhores do mundo nas hard skills e muito mais nas soft skills!
Falta-nos confiança coletiva e união!
Somos realmente pãezinhos-quentes com manteiga!
Bem escrito, gostei, sinto entusiasmo pelas ideias, contudo o que falta é o que escreve no final, isto é, que Valores, que Visão e que Missão. A falta de discussão e de clarificação destes aspectos deixa-nos sem farol, sem um rumo explicitado…