Autora: Joana Santos Silva, Diretora de Inovação e Professora de Estratégia do ISEG Executive Education
Tenho 45 anos de idade, o que quer dizer que estou em plena meia-idade e dou por mim a contemplar o tempo e a perceção do mesmo.
Há uma citação de Gretchen Rubin, que escreve sobre temas como a felicidade, os hábitos e a natureza humana, que resume o sentimento que tenho atualmente: “Os dias são longos, mas os anos são curtos”. Esta sensação de que os dias estão repletos de atividades e de tarefas que na sua maioria são cansativos e que, por vezes, “demoram” a passar é um paradoxo face ao sentimento de os anos parecerem voar.
Quando somos mais novos, temos a sensação de o tempo ser infinito.
Foram tantas as situações em que estive num local ou em que participei numa determinada atividade e pensava para mim: podes sempre voltar. Era claramente a minha imaturidade e desconhecimento da importância do tempo e da necessidade de verdadeiramente viver o momento.
Hoje, tenho maior consciência do valor do tempo e da importância dos micro-momentos: pequenas experiências repletas de emoções positivas e que são inesquecíveis. Não precisam de ser momentos de grandiosidade e de grande pompa. Pelo contrário, é um almoço com uma amiga, é o momento de final de tarde em que capturamos o sol em formato de “micro-ondas” em que tudo fica com uma luz dourada, é o momento em que o nosso filho diz “Mummy” e que ainda tem voz de criança…
A forma como um relógio mede o tempo não define a perceção que temos do mesmo. Em muitas aulas, pergunto: quanto tempo é muito tempo? E é óbvio que a resposta é, depende!
Enquanto cinco segundos a aguardar que o anúncio do Youtube termine parece uma eternidade, duas horas a almoçar com os nossos amigos mais chegados parece ter voado.
Dito isto, os psicólogos reconhecem que à medida que envelhecemos a nossa perceção subjetiva de tempo tende para acelerar. Contudo, não existe um consenso sobre a causa deste fenómeno. Existem especialistas que especulam que esta perceção está assente na velocidade do processamento de informação visual. Com a idade, o tempo de processamento aumenta e, consequentemente, capturamos menos imagens-por-segundo, distorcendo a perceção do tempo. Quando somos jovens, cada segundo está repleto de imagens mentais, à semelhança de uma gravação em câmara lenta. Assim, o tempo parece passar mais lentamente.
Assim, quase todos temos mais memórias da nossa infância e da adolescência do que da nossa fase adulta. Apesar de haver um consenso total quanto à causa deste efeito, não se trata apenas da nossa perceção, é a nossa biologia. Com a idade, o tempo foge! Tempus fugit!
Por outro lado, em tempos de crise, a nossa perceção de tempo fica acelerada. Para a maioria de nós, os anos da pandemia voaram! Dias vividos dentro de quatro paredes, com rotinas repetitivas em loop infinito e sem fatores de diferenciação, tornaram difícil criar marcadores subjetivos da passagem do tempo. Se, por um lado, parecia que o tempo ficou em “pausa”, por outro, ficámos quase todos com a sensação de tempo perdido, ou por outro, de que não aproveitámos o tempo que tivemos à nossa disposição durante os períodos de confinamento. Para mim, ficaram milhares de projetos por fazer… E 2022, apresentou-se-nos com ainda mais crise… Em momentos de impacto emocional, a passagem do tempo tem tendência de parecer “híper rápido”.
Assim, estando no contexto repleto de fontes de stress e pressão, a minha sugestão de verão é de aproveitarem ao máximo o vosso tempo. Não com listas to-do, multitasking, projetos, e agendas preenchidas, mas com micro-momentos. Preencham o vosso tempo com os momentos que deixam marcadores somáticos e que servem de referência para os momentos importantes da nossa vida. Os últimos anos foram difíceis e estranhos para todos; merecemos todos um pouco de self-care com menos exaustão e mais slow time.
Preencham o vosso tempo com os momentos que deixam marcadores somáticos e que servem de referência para os momentos importantes da nossa vida. (…) merecemos todos um pouco de self-care com menos exaustão e mais slow time
De todos os nossos ativos, o mais inestimável provavelmente é o tempo. Não podemos guardá-lo, comprá-lo ou reviver o mesmo. Assim, aproveitem a silly season para serem silly. Porque como diz a célebre frase de publicidade: “porque nós merecemos…”
Ou se preferirem uma fonte mais erudita, o estudioso da inovação e falecido professor de Harvard, Clayton Christensen: “Se adiar investir o seu tempo e energia até ser necessário, é provável que seja tarde demais”.
Espero que criem excelentes micro-momentos e desejo-vos boas férias!
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