Pedro Ramos
Diretor de recursos humanos do Grupo TAP Air Portugal
Vice-Presidente da APG – Associação Portuguesa de Gestão de Pessoas
Membro do Conselho Estratégico e Diretor da ABRH Brasil – Associação Brasileira de Recursos Humanos
Comecemos na 1.ª pessoa…
Sou um profissional com mais de 25 anos de experiência em Gestão de Topo de RH, em várias empresas de grande dimensão e que tive o maior gosto em ter sido reconhecido com o “Prémio Carreira 2019” nos Prémios RH 2019…
Costumo dizer que entrei nas empresas “pela porta do treinamento” pois Iniciei a minha atividade profissional na área do desenvolvimento de pessoas e formação no início da última década do século passado, mas rapidamente passei a assumir uma maior responsabilidade pela Gestão Integrada das pessoas nas empresas onde tenho passado.
Tudo começou quando me enganei no formulário escolha do curso superior e fui admitido a um curso de pedagogia em vez de em administração ou economia. Daí um professor meu convidou-me logo no início da faculdade para eu ser formador para as empresas e nunca mais parei.
Por essa razão, a minha primeira função foi de formador, depois coordenador de formação e mais tarde Diretor de Formação/Treinamento.
Tive a sorte de ter começado logo a trabalhar quando estava na faculdade e nunca mais parei… E sempre estive fortemente envolvido em projetos de grande mudança e transformação organizacional.
Julgo que me pode distinguir de outros profissionais é o facto de ter sido sempre um profissional sem nunca ter perdido de vista um aprofundado crescimento, materializado numa aposta na minha formação académica. Nunca deixei de ser aluno!
Em termos académicos, sou um “colecionador de títulos académicos”… Tenho todos: um bacharelato uma licenciatura em Ciências da Educação, um mestrado em Sociologia do Emprego e um doutoramento. Sou PhD em Economia de Empresa pela Universidad Rey Juan Carlos, em Madrid. E também nunca deixei de ensinar.
Ao longo da minha vida profissional e académica, e também como autor e palestrante nas áreas da Liderança, tenho falado com muitos líderes de variadas empresas e organizações.
E, um aspeto transversal, tem a ver com a cada vez maior necessidade de envolver as pessoas, as equipas nos processos relacionados com o próprio negócio das empresas e das organizações. Apesar de uma profunda consciência de que a revolução digital está a afetar fortemente a forma como o trabalho, a produção propriamente dita, mas sobretudo as relações que se alterarão dentro e fora das organizações, um fator dominante é que criatividade, inovação e mobilização farão parte sempre das pessoas exatamente como forma de se produzirem e alcançarem resultados. No fundo, uma “ligação direta” entre negócios e pessoas.
Este é um futuro altamente desafiador! Hoje já se fala e escreve muito sobre as características do atual mundo dos negócios que usualmente é designado pela sigla VICA (volátil, incerto, complexo e ambíguo). Esse efeito estará definitivamente relacionado com a necessidade de se assegurar e empreender novas formas de pensar e de atuar em relação aos processos de liderança. Eu diria que o caminho do futuro é, afinal, o caminho do “muito”… muito volátil, muito incerto, muito complexo e muitíssimo ambíguo… Assim, haverá uma cada vez maior pressão para que as organizações se tornem mais competitivas, muito mais ágeis e rápidas a reagir e muitíssimo focadas nos clientes. Este é também um mundo cheio de oportunidades! Será um novo mundo marcada uma extrema longevidade por um incremento brutal a nível das “smart machines & systems” como forma de amplificação das capacidades humanas, um mundo onde quase tudo pode ser programado, um mundo verdadeiramente multimédia, multiplataforma e verdadeiramente conectado em tempo real e onde novas formas de organização terão de imperar por forma a dar sentido e consistência a todos os processos de trabalho.
Mas, no “fim do dia”, o papel dos líderes é sempre o mesmo: inspirar, mobilizar, fazer acontecer!
E agora a história na 3.ª pessoa! Será?
…. Antes de mais, tenho que fazer algumas declarações de interesses (pessoais):
Primeiro: gosto genuinamente de pessoas, do que elas têm de comum, mas sobretudo no que têm de diferente especialmente num mundo cada vez mais similar…
Segundo: gosto de surpreender e, sobretudo, ser surpreendido pelas pessoas que me rodeiam e que me fazem todos os dias acreditar de que é sempre possível ir mais longe, superar mais um desafio, atingir um novo nível de complexidade, como de um jogo online se tratasse…
Terceiro: não consigo viver sozinho, pois assumo que não tenho “mundo profissional próprio”, individual próprio e/ou exclusivo, pois necessito das pessoas para sobreviver, viver, vencer e, sobretudo, satisfazer as minhas doses generosas de permanente construção, desconstrução e restruturação do (meu/nosso) mundo do trabalho, dos processos e das coisas…
Quarto: gosto muito (aliás, sou viciado!) pelo desconhecido, pela emoção associada à mudança permanente, pelo risco em apostar em pessoas que comigo possam impactar e realmente fazer a diferença na vida e nas empresas…
Quinto: gosto (mesmo muito!) de comemorar sucessos! De vencer obstáculos, de inovar e de criativamente ir encontrando novas soluções para velhos e novos problemas… sendo que, para isso, apetecia-me muito que, segundo a velha máxima de que “as pessoas são o melhor das organizações”, não tivesse que permanentemente conviver com o outro lado (de que ninguém fala…) de que as pessoas também “conseguem” ser o pior das empresas e das organizações…
Sexto: bem sei… e isso dá-me um “gozo desmedido” que até acho que tenho algum jeito no incrível e valoroso processo de, em cada momento, tentar reduzir ao máximo esse “pior das empresas” e maximizar “o verdadeiro melhor” que existe nas nossas pessoas…
Depois desta longa e sincera “carta de interesses” [meia dúzia de interesses é obra!!], deixem-me partilhar alguns segredos na nobre missão de gerir pessoas em contextos empresariais onde cada vez mais “PESSOAS & NEGÓCIOS” se assumem como duas faces de uma mesma moeda. Ou seja, onde a consciência de que a concretização de objetivos depende, em grande medida, na forma como as pessoas se mobilizam, se vinculam, se comprometem, se excedem de forma permanente em busca de atitudes e comportamentos orientados para a Excelência e a superação constantes…
Os resultados obtidos são diretamente proporcionais ao grau de envolvimento das pessoas na obtenção dos mesmos… Esta minha afirmação não é o resultado de nenhum estudo científico, algum tipo de equipamento de medida tipo “Envolvómetro”, mas sim, fruto de experiências múltiplas de diversas empresas de vários setores e variados enquadramentos e dimensões…
O envolvimento, o comprometimento [vá lá… utilizemos a palavra que os GRH’s gostam mais, o “engagement”…] das nossas pessoas é a chave para o sucesso das nossas empresas… Não na perspetiva das pessoas serem o “mal necessário” nessa obtenção, mas sobretudo, nas nossas pessoas serem, de facto, o BEM NECESSÁRIO na obtenção de sucessos, sempre MAIORES, sempre mais SÓLIDOS e de níveis mais ELEVADOS em termos de complexidade.
Estou concretamente a referir-me a um processo de grande simplicidade, mas de grande importância no quadro das nossas empresas face aos vários contextos desafiadores: trata-se de transformar as nossas pessoas em verdadeiros fãs dos nossos negócios e das nossas empresas…
Julgo que aqui está a chave do sucesso!
Este alinhamento, este total envolvimento, esta relação estreita entre pessoas & negócios muitas vezes não é conseguida devido à parte mais básica deste processo: Muitas vezes as nossas pessoas não conhecem, não “percebem” o negócio das suas empresas… Pode acreditar! Muitas vezes as nossas pessoas até sabem bem quem são os seus clientes, as suas necessidades que importa satisfazer, conhecem a estrutura da sua organização (quem é quem…), mas não fazem ideia da importância da sua ação individual e coletiva (em grupo e nas várias equipas) enquanto AGENTES DE NEGÓCIO das suas empresas.
Explicar, de forma simples, o negócio da empresa (e o papel de cada um enquanto agente ativo nesse mesmo negócio) é a base para obter a plena adesão das pessoas na concretização dos objetivos comuns.
Só compreendendo o negócio da sua empresa [eu diria mais, só sabendo o que cada um, com a sua individualidade pode acrescentar ao negócio da sua empresa…], as pessoas se ligam às (outras) pessoas com a ATITUDE CERTA para, em conjunto, acrescentarem valor aos processos, às ações, às necessidades e expectativas dos clientes; e, bem assim, fazer florescer e perpetuar o negócio da sua Empresa.
As empresas sem pessoas não fazem sentido! Ligar pessoas a pessoas é urgente! Ligar estas pessoas aos negócios é determinante, é essencial, mandatório na concretização dos RESULTADOS.
No fim do dia, a pessoas são essenciais para que as EMPRESAS existam e prosperem.
Gosto muito, como disse no início, de pessoas, mas é fantástico ver como com essas pessoas se atingem RESULTADOS.
E, AFINAL, NÃO HÁ HISTÓRIAS DE LIDERANÇA QUE NÃO COMECEM SEMPRE NA 1.ª PESSOA para chegarem a TODAS as pessoas!