Filomena Esteves de Carvalho falou sobre a sua carreira na rubrica com o mesmo nome publicada na RHmagazine.
Filomena Esteves de Carvalho foi durante 14 anos diretora de recursos humanos da Essilor Portugal. Anteriormente, passou pela direção de pessoas de diversas empresas como a Ernst & Young, a Marks and Spencer e a DHL. Fomos conhecer esta profissional numa vertente mais pessoal e falar sobre os seus sonhos e expectativas para o futuro.
Quando era criança sonhava ser…
Bailarina clássica. Encantava-me a música, a beleza e a harmonia do ballet. Quando adolescente sonhava ter uma profissão em que pudesse ajudar as pessoas e um dia a psicologia surgiu como escolha natural.
Os principais benefícios que a minha experiência académica me trouxe foram…
A abertura para o conhecimento, a apetência para aprender e estar aberta a diferentes abordagens e perspectivas. A interdisciplinaridade das matérias. No caso concreto da Psicologia, foi também o conhecer os processos psicológicos, processos cognitivos e emocionais e no fundo perceber melhor como funciona a mente humana, compreender as pessoas e o que as move. Do ponto de vista da gestão, o MBA em Internacional Management veio colmatar as minhas necessidades de conhecimento quando tive o meu primeiro cargo de direção de RH.
Se voltasse atrás, escolheria OU não escolheria a mesma profissão?
Escolheria sem dúvida a mesma profissão. Tem tudo a ver com pessoas e apesar das dificuldades que os DRH enfrentam nas organizações, fascinam-me as dinâmicas organizacionais e o achar que uma pessoa pode fazer a diferença. Temos de nos reinventar…
Nas organizações, hoje em dia, é cada vez mais necessário que quem tem a responsabilidade de gestão de topo tenha a visão de gestão de mudança permanente e a forte compreensão de que há que manter as organizações vivas, apetecíveis para atracção de novos talentos e retenção dos existentes e para inclusão de diversidade nas suas várias vertentes, em que a par com os objectivos do negócio estejam também, em paralelo, a gestão das pessoas, a satisfação das mesmas e o equilíbrio trabalho/ vida pessoal, a par com a responsabilidade social corporativa.
Sendo uma profissão que requer um grande envolvimento pessoal, é extremamente gratificante ver os desafios surgirem e acompanhar o desenvolvimento das pessoas, envolvendo-as na vida activa da empresa, sem nunca perder de vista que é nela que todos passamos a maior tempo de vigília e que é aí que deve haver uma construção de cultura e ambiente propícios a que todas se possam sentir realizadas e respeitadas, em que cada pessoa conta e é corresponsável por contribuir positivamente para os resultados e para o ambiente e imagem da empresa e para a sua própria realização profissional e pessoal. Com tantos desafios, claro que escolheria a mesma profissão.
Apesar das dificuldades que os DRH enfrentam nas organizações, fascinam-me as dinâmicas organizacionais e o achar que uma pessoa pode fazer a diferença
O meu primeiro emprego foi…
Trabalhar com crianças e adolescentes com défice cognitivo. Foram anos de aprendizagem para a minha vida pessoal e profissional futura. Com estas crianças e adolescentes aprendi muito cedo a ter paciência e resiliência, a saber esperar pelo momento certo e aí saber agir com rapidez. Com estas crianças há janelas de oportunidade que podem não se voltar a repetir e, por isso, temos de estar atentos e preparados para saber como actuar no momento certo. Aprendi a valorizar as pequenas conquistas e a dar importância ao que é realmente importante.
O ponto alto da minha carreira foi…
Quando dei o salto de técnica de RH para diretora de RH com todas as responsabilidades e desafios que este cargo acarreta. Depois nas quatro direções que construí, nas três multinacionais em que trabalhei anteriormente e naquela em que atualmente trabalho, surgiram vários pontos altos com reconhecimento de boas práticas e obtenção de alguns prémios internacionais relacionados com a gestão de RH. Fazer com que as coisas aconteçam e vê-las evoluir sempre foi o meu life motif.
Consegui chegar a DRH porque…
Escolhi o que gostaria de fazer e esforcei-me por alcançá-lo com muito empenho e alguns sacrifícios pessoais e familiares, investindo no que considerava profissionalmente importante, tendo a perseverança e a sorte de fazer um percurso nas várias vertentes mais abrangentes e flexíveis de gestão de RH e a oportunidade do meu primeiro emprego na área das organizações ter sido numa grande empresa portuguesa, blue chip na época, chamada Companhia Portuguesa Rádio Marconi. Esta foi a minha grande escola na área organizacional, ao ser integrada numa equipa jovem, de diferentes backgrounds académicos, dinâmica e ávida por saber mais, querendo aprender com os sucessos e insucessos dos outros e próprios e divertindo-se, fazendo o que na época foi inovador.
Depois tive as oportunidades que me foram sendo colocadas por headhunters e comecei como diretora de RH em empresas multinacionais desde 1990 e é o que faço até hoje, reinventando-me e reinventando a função RH, enriquecendo-a cada vez mais. Sempre gostei das áreas de negócio em que trabalhei e aceitei os desafios que cada uma me colocava sem receios do que poderia ser considerado impossível. Nem sempre foi fácil e o facto de ser mulher não foi um factor facilitador.
O meu pior dia de trabalho foi…
O dia em que tive de tomar a decisão de que deveria sair duma empresa, com mais de 350 pessoas, em que trabalhava na altura havia quase quatro anos, por não concordar e não querer pactuar com o que a gestão de topo se havia tornado. Mais tarde, os acontecimentos subsequentes vieram constatar que a razão estava do meu lado. Foi necessário na altura ter coragem para deixar uma posição em que sabia que o meu trabalho era reconhecido pelos colaboradores e pela gestão internacional, financeiramente confortável, sem ter nenhuma outra opção em vista e a ter de ingressar no desemprego, aliada ao facto de ignorar se teria oportunidade de voltar a exercer de novo o que gostava de fazer na minha vida profissional. Animou-me o saber que estava a agir de acordo com os meus princípios e valores e com a minha ética pessoal, o que não tem preço.
Os meus colegas não sabem que eu…
Me interesso pelo estudo do Ser e pelos avanços do conhecimento científico da Psicologia e das Neurociências e por isso tenho vindo a fazer certificações e cursos nas áreas das Terapias Breves, Hipnose Clínica, EMDR, Psicodrama, Teatro Dinâmico, Psicologia Transpessoal Regressiva, Psicologia Positiva e Trajectória de Vida, Healing, Terapia de Bebés e várias outras formações que não têm a ver directamente com as organizações. Sempre que possível aproveito a oportunidade de frequentar cursos com professores reconhecidos especialistas nacionais e internacionais naquelas temáticas. Mais do que um hobbie é uma verdadeira paixão.
O chefe que mais me influenciou durante a minha carreira foi…
Não posso referir um em especial. Acho que aprendi com todos. Tive felizmente chefias inspiradoras, com carisma e com visão estratégica, mas também tive outras algo “tóxicas”, mas todas fizeram parte do meu processo de crescimento e desenvolvimento profissional e pessoal e estou-lhes grata por isso.
As qualidades que mais aprecio nos meus colaboradores são…
O entusiasmo e o compromisso da entrega. Pensar “fora da caixa”.
Adoro trabalhar na Essilor porque…
É uma empresa multinacional dinâmica que alia as áreas da produção para o mercado nacional e exportação com a dos serviços e equipas com backgrounds muito diversos, incluindo a minha da qual me orgulho pela ajuda e committement demonstrados no dia-a-dia, sempre prontos a aderir a novos desafios. Para além disso, é uma empresa com uma missão “Melhorar vidas, melhorando a Visão” e toda a atividade de responsabilidade social corporativa a ela aliada, que se faz discretamente, e que tem muito significado para mim.
O que mais aprendi na minha vida profissional foi que…
Há que ter uma visão clara do que queremos fazer, definir estratégias e saber esperar pelo momento certo para avançar, sabendo que para construir uma cultura é necessário tempo, por ser um processo contínuo e dinâmico e estarmos a lidar com comportamentos e atitudes.
As minhas perspetivas de carreira para os próximos três anos são…
Daqui a três anos espero já estar reformada. O que não quer dizer que fique parada. Sinto que há muitas coisas que poderia e gostaria de fazer, numa relação diferente de equilíbrio de vida pessoal e profissional.
O que me motiva verdadeiramente…
São as pessoas. Ajudar as organizações e as pessoas.
O sonho que me falta realizar é…
Sempre tive uma imaginação fértil e sonhar faz parte do meu ADN. Tenho vários sonhos que gostaria de ainda realizar, entre eles, por exemplo, viver mais em contacto com a natureza. Outro é realizar um projeto em que a minha experiência nas organizações e nas áreas da psicologia façam sentido em conjunto para um bem comum.
A coisa que mais me orgulha é…
Pessoalmente o que mais me orgulha são os meus filhos, os princípios e os valores que lhes transmitimos, a liberdade de opções que lhes demos e os adultos que se tornaram.
Profissionalmente orgulho-me de ver as pessoas crescerem e se desenvolverem e de ter tido colaboradores directos que são hoje chefias e directores RH.